quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Jornal de Negócios: "Espanha é o filho, Portugal o enteado?"

A crónica de Camilo Lourenço coloca o "dedo na ferida" na hipocrisia que reina na troika, especialmente no que concerne à ala pertencente à UE. Falta só mencionar a subserviência nacional a tudo o que nos é dito ou imposto, sem o mínimo lampejo de contestação! Afinal de contas somos o bom aluno da turma ou o tótó da mesma?


A Espanha recusou vender 20% do capital da REE, que gere a sua rede eléctrica, aos chineses da State Grid (que controlam a REN em Portugal). O governo espanhol, preocupado com a manutenção de sectores estratégicos nas mãos do Estado, recusou a oferta. Que chegava aos 1150 milhões de euros...

A decisão faz as delícias dos que defendem que há sectores que não podem cair nas mãos de estrangeiros (questão levantada aquando da privatização da REN). Mas o ponto não é esse: é a diferença de tratamento entre Portugal e Espanha. Vejamos: Espanha teve de pedir 100 mil milhões de euros para tapar os buracos dos seus bancos; e está a negociar com Bruxelas um resgate total da sua economia. Mas se o país precisa de dinheiro, porque não vende os seus "anéis"? Portugal, confrontado com o mesmo problema, foi obrigado a vender os seus, vendendo empresas como a REN, EDP, TAP... Com que argumentos se impõe a privatização de empresas em Portugal e se autoriza que continuem nas mãos do Estado em Espanha?

Acresce que existem outras razões, para além da falta de dinheiro, que recomenda a venda de empresas públicas: a redução do peso do Estado (para tornar a economia mais competitiva. Ora se este argumento foi utilizado com Portugal, devia ser também utilizado com Espanha. A menos que... bem, a menos que Bruxelas esteja a tratar de forma mais "simpática" países com mais peso que Portugal. Suspeita que ganha peso devido ao tratamento que Espanha e Itália têm merecido nas últimas semanas, a propósito dos seus custos de financiamento.

É a confirmação da teoria de que todos os países são iguais... mas há uns mais iguais que outros. Uma vergonha.

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