sábado, 13 de outubro de 2012

Jornal de Notícias: "CDS- é o eucalipto, estúpido!"

Vale a pena ler a crónica de Daniel Deusdado sobre a intenção do Governo em dar cabo do que resta da diversidade do coberto vegetal português a favor de uma espécie invasora, que a curto, médio e a longo prazo trará enormes problemas para o país em áreas que não sejam a fabricação do papel.
Figura 1- Eucaliptos.
O Eucalipto (Eucalyptus globulus) é uma angiospérmica dicotiledónea originária da Austrália que foi introduzida em Portugal em meados do século XIX. É uma árvore que prefere climas temperados húmidos e ensolarados, tolerando topo o tipo de solos, exceto os calcários. Pode atingir os 70/80 m, com o seu tronco alto e reto, com casca é lisa, cinzenta ou castanha. As folhas são persistentes e têm forma e aspecto diferentes conforme a fase de crescimento, mas quando adultas são longas e lanceoladas, tendo um pecíolo comprido e cor verde brilhante. As flores são grandes, sésseis e de cor branca, muito procuradas pelas abelhas, enquanto os frutos são cápsulas lenhosas.

As sua principal utilização é a produção de madeira para pasta celulósica, não tendo utilidade para a construção ou mobiliário, mas as folhas de eucalipto possuem um óleo denominado eucaliptol que tem propriedades balsâmicas e antissépticas, contra bronquites e catarros. Todavia, a polémica em torno desta espécie arborícola dá-se devido à facilidade com que arde e propaga um incêndio, sendo que a sua rentabilidade e rápido crescimento dão origem a ações criminosas para que se possam utilizar zonas florestais de espécies autótones, reduzindo a biodiversidade, algo que foi combatido por uma legislação das arborizações que indicava que numa área ardida só poderiam ser plantadas árvores da mesma especie das que foram queimadas.
 



O CDS de Paulo Portas exibe os pergaminhos de ser o partido dos valores da "História de Portugal", do território e das pessoas que o habitam. Pois, chegou a hora de Portas o provar. Porque o CDS está a fazer, através de Assunção Cristas, ministra da Agricultura e Ambiente, e de Daniel Campelo, secretário de Estado das Florestas, um demencial ataque ao território. Num ano em que a área ardida mais que duplicou face ao ano anterior, o Governo quer liberalizar a plantação de eucaliptos em qualquer terreno, esquecendo que nada tem sido mais grave do que as vastas áreas plantadas em monocultura, como a do eucalipto, para que os fogos se tornem incontroláveis, os solos cada vez mais pobres e o despovoamento do Interior irreversível.

A Proposta de Lei de Cristas e Campelo permite aos proprietários de terrenos com menos de cinco hectares mudar de espécie florestal sem qualquer tipo de autorização. Todos sabemos qual é a mais rentável: o eucalipto. Quem quer esperar 80 anos por um sobreiro, ou 50 para vender madeira de carvalhos ou nogueiras? E no entanto, estas são as espécies que garantem a biodiversidade portuguesa, a fertilidade dos solos, uma boa gestão dos recursos hídricos e mais resistência ao avanço do fogo. Um exemplo: 95% da área que é hoje pinhal tem menos de cinco hectares. Com esta proposta o Governo autoriza, em nome da "desburocratização", a liberdade de se mudar do menos rentável pinheiro para o eucalipto... Esquecendo que o eucalipto é uma árvore australiana e se tornou por cá numa invasora imparável.

Além disso, até aqui, as áreas ardidas não podiam ser replantadas com eucaliptos se antes ele não estivesse lá. A partir desta proposta do Governo, luz verde ao eucalipto... Querem melhor convite para pôr a arder o que resta de castanheiros ou carvalhos? Preparem os carros de bombeiros para o próximo verão... Mas pior ainda: mesmo nas áreas acima dos 10 hectares, apesar da autorização para se plantar eucaliptos ser ainda exigida, ela fica automaticamente aprovada se os serviços públicos não responderem em 30 dias. Ora, com a redução de funcionários, está aberta a porta para que passe tudo tacitamente... Um parêntesis: sabem quanto custa o combate aos incêndios por hectare? 25 euros. Este ano arderam 110 mil hectares, área duas vezes e meia maior do que a do ano passado. Combates pagos por todos nós. Qual a solução? Carros, bombeiros, helicópteros... Falso: é a floresta, estúpido!

Com esta medida, o CDS dá mais um salto no tempo: passa do "Partido da Lavoura" para o partido do "petróleo verde" inaugurado pelos governos Cavaco (lembram-se da GNR a bater em populares em 1988 em Valpaços, por estes serem contra a eucaliptização?). O rasto de miséria e devastação do território desta Proposta de Lei do Governo será, a prazo, ainda mais nociva que a dívida, os défices e a troika, juntos.

Exportamos muito papel e isso é bom? As coisas têm de ser q.b.. Porque as consequências de mais eucaliptos, para além de mais fogos, são a desertificação dos solos, envenenamento das albufeiras com as cinzas, diminuindo cada vez mais a qualidade da água potável. Uma terra sem minerais por décadas ou séculos... E terreno onde esteve eucalipto, só nasce eucalipto. Nem precisa de se plantar. Mas arrancá-los custará milhões.

A campanha do trigo de Salazar, no Alentejo, foi um êxito social e económico na altura. Hoje, nas terras usadas para a autossuficiência salazarista, resta pouco. O trigo plantado pelo ditador visionário em solo sem capacidade para o produzir provocou uma ferida na terra que vai demorar sete mil anos a regenerar. E agora vejam o alcance desta medida do Governo: permitir eucaliptos até nos mais férteis solos agrícolas nacionais - apesar da nossa dependência alimentar.

Bem sei que Paulo Portas daqui a 30 ou 40 anos já não estará na política ativa e hoje isto dá votos - a malta gosta de sacar umas massas com uma árvore que cresce sozinha e que de 10 em 10 anos se vai cortar fácil. É dinheiro em caixa sem trabalho nenhum. Mas é o fim do Interior e da agricultura de que precisamos. Portas ficará na História como o homem da "Lavoura" sim, porque, afinal, acabou de vez com ela.

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