domingo, 6 de janeiro de 2013

A impunidade do sistema financeiro

Um dos grandes problemas do mercado passa pela impunidade do sistema financeiro, que de alguma forma não se rege, ou se deixa reger, pelas suas regras naturais. A partir do momento em que um banco ganha uma certa dimensão dentro de um Estado, a sua falência é quase impossível, não porque é sempre bem gerido por quem o administra, ou porque o controlo do Banco Central às suas operações é bastante apertado, mas porque o Estado não o pode deixar cair, pelo receio que a sua falência provoque efeitos económicos de contágio a outros bancos e a empresas nacionais, o que seria catastrófico para a sua economia. Isso tem sido bem visível desde a crise do subprime.

Quando o governo anterior nacionalizou o BPN, na altura poucas vozes se levantaram para protestar o feito, ao contrário do que acontece agora de forma demagógica, porque se sabia que se tinha feito o que deveria ser feito. O BPN era um banco com alguma importância dentro do sistema financeiro português e a opção de não fazer nada, ou de esperar algum tempo antes de fazer qualquer coisa, poderia trazer efeitos terríveis à nossa economia, não só pelo contágio a outros bancos, mas pela especulação dos mercados. O grande erro que dali adveio, é que só se nacionalizaram as dívidas, ou seja, o BPN, que fazia parte de uma Sociedade Lusa de Negócios, que manteve os seus ativos de outros empreendimentos. Na minha opinião toda aquela sociedade deveria ter sido nacionalizada, até porque muitos dos seus empreendimentos com sucesso transferiram os seus "pecados" para o banco do grupo. Para além do mais não se responsabilizou criminalmente e financeiramente os seus gestores, que continuam a desfrutar de grandes vidas, enquanto os cidadãos portugueses passam por vários problemas devido à austeridade que trespassa o país. Oliveira e Costa chegou ao cûmulo de transferir todos os seus bens para a sua mulher antes de se divorciar, só para o Estado não poder chegar a eles... penso que está na altura do Estado, na sua majestade, não se deixar levar por estas maroscas!

Este governo privatizou o BPN de forma vergonhosa! Fê-lo ao preço da "uva mijona", responsabilizando-se pelo passivo e pelas indemnizações a pagar pelo despedimento de trabalhadores. E agora, fazendo face a uma situação semelhante relativamente ao BANIF, coloca o dinheiro dos contribuintes nesse banco, nacionalizando-o, pois tornou-se o maior accionista do banco. Porém, apesar de deter a maioria do capital, cerca de 99%, o Estado optou por não colocar qualquer administrador seu para gerir ou, pelo menos, controlar a atividade do banco, deixando isso para os gestores privados que colocaram o BANIF nesta situação, com o "patrocínio" do Governo regional da Madeira. Isto sim é um comportamento vergonhoso por parte deste governo e que despreza todo o esforço que os portugueses dispensam para pagar os seus impostos.

Esta impunidade, a par de uma promiscuidade entre políticos e banqueiros, valendo-se do dinheiro dos portugueses, deveria levar a uma efetiva criminalização desta gente, para além de desembocar em duas situações possíveis: (1) aumentar os poderes e os meios do Banco de Portugal na fiscalização e supervisão dos bancos, ou (2) acabar com o mercado financeiro liberalizado/privado. A pouca vergonha é que não pode continuar!

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