sábado, 23 de março de 2013

O que será da seleção nacional

Figura 1- Seleção portuguesa no Europeu de 2012 na Polónia/Ucrânia.
Nos dias que correm a seleção nacional é acusada de ter problemas de atitude, de falta de concentração, de ter um fraco treinador, mas julgo que isso é apenas "poeira que nos é atirada para os olhos que nos impede de ver a totalidade da montanha". Claro que temos mais qualidade que muitas das seleções que defrontamos, e há claramente alguns aspetos referidos que têm de ser melhorados, até porque a percepção da valia atual do futebol português está desajustada e não corresponde à atitude dominadora que normalmente se tem em campo.

Ao contrário do que acontecia há uma década atrás, os craques provenientes das canteras não estão a nascer de forma espontânea e tão profícua, o que deixa o atual selecionador nacional com um campo de recrutamento algo débil. Isso já deveria ter sido avistado pelos dirigentes quando as seleções jovens portuguesas deixaram de ter êxito... e pior, quando deixaram de participar nas grandes competições internacionais! 
Figura 2- Em breve a Seleção Nacional de Portugal terá poucos motivos de festejo.
É necessário entender onde está a raíz do problema, sabendo de antemão que o problema deverá ter várias cambiantes onde se deverá atuar. Do meu ponto de vista os problemas são os seguintes:

1- A falta de aposta no jogador português pelos clubes nacionais nos últimos anos:
  • É um problema de várias décadas e isso nunca impediu o jogador português de surgir. Sempre tivemos muitos jogadores provenientes do Brasil, mas claro que atualmente, especialmente nos clubes maiores, os espaços para surgirem têm minguado. Ultimamente, devido à crise financeira, alguns clubes têm apostado na sua cantera e equipas B e com bons resultados, caso do Vitória de Guimarães;
  • Os clubes grandes, para manter a competitividade internacional, dão pouco espaço de manobra ao surgimento de jovens promessas portuguesas, mas tal facto também se deve ao inflacionamento do jogador nacional por parte dos empresários, que assim preferem colocá-los de forma precipitada no estrangeiro, podendo assim comprometer a sua evolução natural.
2- A falta de competitividade e exigência do futebol de formação em Portugal:
  • Os ricos frutos provenientes das camadas jovens nos anos 90 fizeram os grande clubes ter mais atenção às suas canteras. Iniciou-se um processo de sobre-recrutamento, e a uma idade cada vez mais nova, que fechou portas a um percurso de futebol de rua ou de futebol salão (futsal agora) a muitos jovens. Os clubes menores, alvo do recrutamento dos grandes clubes, foram perdendo competitividade, o que gerou campeonatos jovens cada vez mais desequilibrados, gerando pouca capacidade evolutiva nos mais talentosos, que se acotovelam por um espaço no onze das grandes equipas;
  • O modelo competitivo dos campeonatos de formação geram pouca confrontação entre os melhores clubes, que de goleada em goleada chegam à fase final, que se finaliza ao fim de poucos jogos, aumento enormemente o período não-competitivo dos jovens atletas. Há pouca confrontação entre atletas mais jovens e talentosos contra atletas mais velhos, prevalecendo muitas vezes a preferência entre os jogadores fisicamente mais desenvolvidos, ao invés dos técnicamente mais aptos.
3- Diminuto campo de recrutamento de jovens jogadores:
  • O facto de termos uma área de recrutamento menor relativamente a outros países nunca impediu de termos grande craques no futebol, mas o que é certo é que a escassa natalidade e a emigração fazem reduzir a juventude portuguesa a números alarmantes;
  • Portugal nunca teve uma cultura desportiva a sério... em Espanha, nos Balcãs, na Alemanha há muito incentivo ao desporto escolar, sendo raro o (a) jovem que não pratique qualquer tipo de desporto. Isto vai passando também para as fases de vida seguintes na vida de um cidadão, promovendo um modo de vida mais saudável e social. Isto é agravado com o neo-protecionismo parental que pretende evitar ao máximo que as crianças brinquem na rua, incentivando uma vida sedentária desde tenra idade, em volta dos gadgets e jogos de computador.
Penso que é urgente pensar no futebol português e atuar nos vários campos em que se pode atuar, tal como fez a Alemanha há uns anos atrás, aquando de uma crise futebolística idêntica e cujos frutos estão a ser colhidos agora. Temos que reformular a nossa ideia de jogo para uma maior modéstia na abordagem aos adversários e saber preparar o mau período que se avizinha, devendo-se apostar na juventude para que no futuro ela esteja mais preparada para os desafios. Porém, é essencial que a curto prazo nos apuremos para o Mundial de 2014 no Brasil... seria imperdoável não estarmos presentes nesta competição que se realiza no nosso "país irmão".

2 comentários:

  1. Para mim, o maior problema é mesmo a fraca aposta dos clubes nacionais em jogadores portugueses. A quantidade de estrangeiros no plantel do futebol clube do porto ou do Benfica é surreal...
    Seja como for, esperamos todos que Portugal consiga o desejado apuramento, seria realmente "imperdoável" perder a "copa do mundo" de 2014.

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