quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Amorim e Jardim: clichés ambulantes de um político português

Carlos Abreu Amorim gosta de aparecer... ou então gosta de fazer os outros de parvos... só assim se pode compreender as duas atitudes públicas que tomou neste mês de Agosto relativamente a duas matérias que parecem distintas, mas que no fundo se encontram no mesmo patamar.
Figura 1- Carlos Abreu Amorim mostra como se fazem piruetas na coerência política.
O vice-presidente da bancada parlamentar do PSD (como independente refira-se) veio, via facebook, criticar Álvaro Santos Pereira pela sua hesitação em "descartar" o projecto do TGV em Espanha... algo em que até terá a sua razão, pois faltou coerência e assertividade ao executivo relativamente a esta matéria, contudo, a forma como o fez, ainda para mais tendo responsabilidades para com o partido pelo qual foi eleito, não foi a mais correcta, criando uma "tempestade num copo de água"... provavelmente sentiu a falta do protagonismo e visibilidade que tinha quando era comentador televisivo. 

Numa entrevista ao semanário Sol faz uma afirmação espantosa e incoerente... logo ele, que se julga o baluarte da coerência! Este senhor fez a seguinte afirmação em relação à situação financeira da Madeira: "Vai ter de haver uma solução. A Madeira também tem razões de queixa do poder central e Alberto João Jardim, que continua a ter o apoio dos madeirenses e é responsável por uma obra extraordinária, é muito injustiçado. Jardim é a personagem política contra quem se fizeram as campanhas mais ferozes em Portugal.".

É melhor rir para não chorar! Compreendo que os madeirenses engulam todas as "patacoadas" que o homem proferiu na rentrée política do PSD-Madeira, agora este indivíduo? Que se escandalizou por uma breve hesitação do Ministro da Economia sobre a manutenção do projecto do TGV, referindo que é um investimento que o Estado português não deve fazer tendo em conta a sua situação financeira... que grande coerência tem este senhor!!!

O presidente do Governo Regional da Madeira, coitadinho, veio dizer que foi obrigado, pelo governo PS, a endividar-se para manter o estilo de vida madeirense, à Big Spender, criando agora uma falta de liquidez urgente e esperando, com este Governo, solucionar a questão financeira do arquipélago. Resumindo, mais uma vez o governo do continente tem de vir limpar o "rabinho" do governo da Madeira pela "borrada" feita pelo seu presidente, que revelou uma grande falta de responsabilidade, com enormes derrapagens financeiras que aumentaram enormemente a dívida pública, esbanjando o dinheiro que tem e o que não tem, mesmo aquele que foi providenciado pelo continente para ajudar os madeirenses aquando da calamidade natural do ano passado.
Figura 2- Até Alberto João Jardim acha que Carlos Abreu Amorim perdeu o juízo.
Alberto João Jardim personifica tudo aquilo que um político não deveria ser... é irresponsável, populista, garganeiro, déspota, demagogo, cheio de "esquemas marados" para família, amigos e partido, mas Carlos Abreu Amorim é bem pior... dá cobertura a estas situações, ao mesmo tempo que tenta aparecer nos media como o paladino da coerência, mesmo que enterrado em contradições.

i: "PS e PSD divididos quanto a adopção por casais homossexuais"

Sou a favor de uma sociedade em que não existam cidadãos de primeira e cidadãos de segunda categoria. Todos devem ter os mesmos direitos e os mesmos deveres, mesmo que isso abale a consciência de uma certa sociedade preconceituosa e ignorante. Por isso fui sempre a favor do casamento civil dos homossexuais, um direito de cidadania que lhes assiste. O Estado e a sociedade não lhes devem vedar direitos e nem julgar moralmente essa "comunidade", pagante de impostos tal como os restantes, por uma questão que é apenas do foro pessoal de cada um e que não prejudica o "próximo", daí nunca ter concordado com a hipótese de se referendar tal questão, pois é algo de elementar justiça e igualdade social e que só diz respeito a quem é afectado por tal situação.

Quanto à adopção de crianças por casais homossexuais a coisa muda de figura... apesar de ser completamente a favor de que um casal do mesmo sexo possa adoptar, creio que é uma decisão em que toda a sociedade deverá ser chamada a participar após os devidos esclarecimentos. O timing em que o BE se propõe fazer a tal proposta de lei é que me parece bastante inoportuno, não porque existam outros assuntos mais importantes a tratar, pois para mim questões de cidadania e justiça são sempre uma prioridade, mas porque estamos perante uma presidência da República e um governo de direita, este último órgão em coligação, possuindo a maioria absoluta na Assembleia da República. Portanto, parece uma tentativa condenada ao fracasso e que dificultaria, mais tarde, a reintrodução da mesma questão nas discussões parlamentares.

Será uma questão de show off do BE? Será uma oportunidade de se discutir o assunto? Julgo que é um bocadinho de ambas, mas penso que para atingir o segundo objectivo não é necessário lançar um "nado-morto" legislativo para a Assembleia da República, existem outros canais para se poder discutir amplamente o assunto e ajudar a informar a sociedade. De modo esquemático indico a minha linha de pensamento relativamente a este assunto:
  1. Um órfão terá muito mais afecto e um melhor cuidado estando inserido numa família, independentemente da sua constituição, do que num orfanato;
  2. A invocação de uma desestabilização psíquica da criança pela anormalidade da situação de ter pais do mesmo sexo só deixará de fazer sentido quando tal for aceite pela sociedade, e quanto mais cedo se "arrepiar" caminho, mais perto estaremos da tal situação em que seja um caso perfeitamente normal, tanto na cabeça dos miúdos, como na cabeça dos graúdos, tem é que se iniciar em algum lado... relembrando que antes também não era normal uma mulher poder votar;
  3. O Estado deve agilizar o processo de adopção, mas não se deve demitir de um rigor na aprovação dos casais aptos para adopção e de um acompanhamento regular posterior à transmissão da criança... valido tanto para casais heterossexuais, como para homossexuais;
  4. A homossexualidade não é uma escolha e nem se pega de forma contagiosa, é algo genético, observável também noutros animais, contudo, o preconceito sim... mina a cabeça dos pobres de espírito.

http://www.ionline.pt/conteudo/145303-ps-e-psd-divididos-quanto-adopcao-casais-homossexuais

Bloco de Esquerda vai levar tema a debate na Assembleia da República ainda durante esta sessão legislativa

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Público: "Governo constitui três grupos de trabalho para avaliar futebol"

Palavras para quê? É um artista do "tacho" português! O campeão das nomeações do novo Governo (500 em 2 meses!!!!) pode ser apenas o ministro dos Assuntos Parlamentares, mas lá que tem a "coisa" bem controlada para ele e para os dele, lá isso tem! Passos Coelho é um mero fantoche... quem puxa os cordelinhos é o Relvas.
Figura 1- Miguel Relvas diz aos seus "amigos" que tem tudo controlado.

http://desporto.publico.pt/noticia.aspx?id=1509645

Miguel Relvas, ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, que tutela o desporto, anunciou a constituição de três grupos de trabalho dedicados para avaliar o futebol.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Água privada

No momento em que se fala na privatização da empresa Águas de Portugal para 2012, queria relembrar que a água mais cara do país é do concelho de Paços de Ferreira, em que um consumo de 120 m3/anual fica por cerca de 377€, bem diferente do que se passa em Lisboa que, pela mesma quantidade de água, paga-se 130€, para não falar em Lages das Flores (Açores), cujo custo queda-se pelos 9€36.

A diferença está no facto de que, em Paços de Ferreira, a concessão, exploração e gestão dos sistemas de abastecimento de água e saneamento foi atribuída a uma empresa privada, a AGS Paços de Ferreira.

2 dias em Paris (****.)

"Dois dias em Paris" é uma produção franco-alemã realizada, escrita e protagonizada por Julie Delpy (Marion) em 2007, contando também com as interpretações de Adam Goldberg (Jack), Daniel Brühl (Lukas), Alex Nahon (Manu) e Alexia Landeau (Jeannot). É uma comédia romântica, com algum drama à mistura, que chegou a ser nomeada para os prémios César para a categoria de melhor argumento original.
Figura 1- Cartaz do filme "2 dias em Paris".
À partida parece um spin off dos filmes "Antes do Amanhecer" e "Antes do Anoitecer", mas com um casal (Jack e Marion) que está junto há 2 anos e que, vindos de uma viagem turística a Veneza, param por 2 dias em Paris para visitarem os pais de Marion, antes de retornarem a Nova Iorque. As poucas coincidências acabam por aí, desenvolvendo-se uma história à Woody Allen, em que o casal se confronta com um verdadeiro teste ao seu relacionamento, com desentendimentos e desconfianças, sobretudo relativamente ao passado amoroso de Marion, até então pouco claro para Jack, que paralelamente vive em constante desconforto por estar fora do seu elemento natural, num país com uma cultura e língua diferente da sua e rodeado por pessoas que desconhece, mas que partilham de grande intimidade com a sua companheira.
Figura 2- O casal Jack e Marion.
Julie Delpy faz um bom trabalho como realizadora, tanto no tratamento de imagem, como no argumento, que é quase neurótico, mas simples no seu cerne, com o qual qualquer casal se poderá identificar neste ou naquele momento, dispondo, pelo meio, de situações bastante engraçadas. A densidade das personagens principais  e os seus diálogos são bastante ricos, estando muito bem protagonizados por Adam Goldberg e por Julie Delpy. Em suma, é um filme bem conseguido, que entretem e que é para ser visto com a vossa cara-metade.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Jornal de Notícias: "Mais de metade das empresas municipais em risco de fechar portas"

Ui!!!! Os "tachos" nas autarquias vão diminuir substancialmente. A "batatada" e as "facadinhas" internas nas concelhias dos partidos vão aumentar exponencialmente... o controlo que alguns Presidentes da Câmara exerciam sobre a oposição, para os manter caladinhos e aprovarem, sem pestanejar, as medidas do executivo camarário, pode ir para o brejo. Como vai reagir o sistema? Têm que começar a pensar em alternativas... pois, geralmente, o interesse nessas empresas tem sido tudo menos a procura de uma melhoria dos serviços através de uma liderança meritória e competente, para uma maior satisfação dos munícipes.

Governo aprovou proposta de lei que suspende a criação de novas e aperta o cerco às existentes

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

De Tubarão-Branco a Tubarão-Martelo

Os jornalismo em Portugal vive cada vez mais do alarmismo e este caso dos 2 tubarões que apareceram ao largo da costa do Algarve foi apenas mais um caso de contra-informação. "Tinham 4 metros de comprimento", de acordo com o relato dos populares, "as águas estão mais cálidas e é por isso que estes animais estão a aproximar-se da costa portuguesa", contam as reportagens. Junta-se assim a falta de informação com a falta de investigação.

Existem diversas espécies de tubarões ao largo da costa portuguesa e cerca de 480 em todo o mundo, vivendo um pouco por todo o globo, uns mais junto às zonas costeiras, outros em alto mar, uns em águas mais quentes, outros chegam a zonas de água fria, podendo também aventurar-se em água doce, e ainda há aqueles que se adaptam a condições distintas, desde que haja abundância de outros peixes ou animais para se alimentarem. As espécies consideradas mais perigosas para o Homem são o tubarão-branco (Carcharodon carcharias), o tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier), o tubarão galha-branca-oceânico (Carcharhinus longimanus), o tubarão-touro (Carcharhinus leucas) e o tubarão-azul (Prionace glauca), que apesar de tudo não contam com o ser humano no seu menu de caça. O tubarão-branco, por exemplo, prefere animais que contenham mais gordura, sendo que os ataques a pessoas geralmente ocorrem por engano ou curiosidade, pois logo após uma mordidela, geralmente desistem do ataque.
Figura 1- Tubarão-Martelo.
Após o alarmismo, os jornalistas relataram que afinal, os avistamentos feitos na costa algarvia, correspondiam ao tubarão-martelo (Sphyma spp.), que se divide em cerca de 9 espécies diferentes. O seu comprimento varia de 1 a 6 metros, sendo um género algo estranho, com uma boca algo pequena, mas destaca-se pelas projeções que dispõe na cabeça, onde se situam os olhos e as fossas nasais, dando ao animal um formato de "martelo". Ainda não se percebe muito bem porque é que a Evolução aplicou este formato de cabeça ao tubarão, talvez para lhe dar uma maior estabilidade enquanto nadam, ou uma maior amplitude visual e olfactiva, ajudando-os a ter uma "maior cobertura" da área. Tal como os outros tubarões, os tubarões-martelo possuem sensores eletromagnéticos, podendo detectar o sinal electrico de uma presa para poder nadar com precisão até ela.

O tubarão-martelo vive na plataforma continental de todos os oceanos, em águas temperadas ou águas quentes, consumindo outros peixes, cefalópodes e raias. Andam muitas vezes em largos grupos, mas durante a noite caçam sózinhos. Acasalam anualmente e a fecundação dos ovos, ao contrário dos outros tubarões, é interna, ficando incubados entre 10 a 12 meses e tendo vários filhos de uma só vez. Uma vez nascidas, as crias são deixadas sózinhas a lutar pela sua sobrevivência. 

Este género de tubarão é dos que está mais ameaçados de extinção, com um progressivo declínio populacional. Contudo, as notícias de constantes avistamentos do tubarão-martelo na costa vicentina e algarvia dão algum optimismo relativamente à sua evolução demográfica em Portugal, podendo inclusivamente estar associada a um aumento de outras espécies de peixes na nossa plataforma continental.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Jornal de Notícias: "Kadafi ameaça transformar Líbia em «lava e fogo» e prepara resistência"

Em 49 a.C., Júlio César, famoso general e político da Antiga Roma, transpôs o rio Rubicão com o seu exército em perseguição a Pompeu, tornando inevitável a guerra civil na República. No ano anterior, o senado liderado por Catão havia ordenado o regresso de Júlio César a Roma e a desmobilização das suas legiões, mas o general recusou acatar tal decisão, pois signicaria o fim da sua vida política e do poder que tinha sobre Roma. A travessia do Rubicão, limite máximo ao qual um general podia aproximar-se de Roma com suas legiões, foi o primeiro acto da guerra civil que haveria de pôr fim ao normal funcionamento das instituições políticas da República. De acordo com o escritor Suetónio, ao atravessar o Rubicão, César terá exclamado: Alea jacta est ("os dados estão lançados").

Desde então a expressão "atravessar o Rubicão" passou a ser utilizada como referência a uma tomada de decisão arriscada, da qual não há retorno possível. Parece-me que essa situação se aplica perfeitamente à situação de Muamar Kadafi e da Líbia. Imaginemos que, por infelicidade do povo líbio, o regime ditatorial consegue desbaratar a rebelião... conseguirá o Estado voltar ao status quo anterior apesar do largo apoio dado pela população aos rebeldes? Conseguirá evitar a eclosão de movimentos revolucionários sucedâneos? Parece óbvio que não, ainda para mais quando tal situação teria de passar sempre por uma negociação com os países da NATO envolvidos no apoio ao movimento revolucionário.

A situação está complicada para o ditador e deste modo: qual será a linha de pensamento do general líbio ao forçar esta situação ao seu país e ao seu povo? É um caso clássico de um ditador enlouquecido pelo poder, que se tenta agarrar ao que resta dele, numa mistura explosiva que combina o seu enorme orgulho, o sentimento de posse daquela terra e a sua formação como militar. Como perguntariam os Homens da Luta: "E o povo pá?" Infelizmente esse é o que menos importa para o líder sanguinário líbio na ambição de manter o seu regime.

Kadafi é um dos ditadores da História com maior longevidade de governação, liderou o golpe militar de 1969 que derrubou a monarquia Líbia com cerca de 27 anos. A sua ditadura militar, combinando uma ideologia nacionalista, com o socialismo e um extremismo religioso, tratou de expulsar e confiscar bens às comunidades judaicas e italianas, de nacionalizar empresas estrangeiras, proibir a exportação de petróleo para os EUA e instalar um novo preceito moral na sociedade líbia, centrado na religião. O seu ódio pelos EUA e pelo estado de Israel fez com que apoiasse grupos terroristas islâmicos, estando directamente ligado ao massacre dos Jogos Olímpicos de Munique (1972), ao ataque bombista numa discoteca em Berlim e nos atentandos contra os aviões da Pan Am e da UTA. Tais acções provocaram sanções e embargos económicos por parte dos EUA e da ONU, assim como o bombardeio norte-americano a Tripoli, no qual morreram a mulher e a filha do ditador.

Nos anos 90, com o embargo económico e a queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, o país entra numa crise económica, criando um descontentamento na população, visível na tentativa de golpe de estado em 1993 e pela tentativa de assassinato de Kadafi em 1998. Para ganhar simpatia externa e margem de manobra em termos económicos que contribuísse, consequentemente, para uma apaziguação interna, Kadafi renega os objectivos militaristas e o terrorismo, apoiando a guerra contra o Terror e o isolamento do Irão ao lado de George W. Bush, que logo de seguida levanta as sanções contra a Líbia, encetando um período de novas relações diplomáticas e fazendo regressar a esse país os produtores de petróleo norte-americanos.

Estas acções pareciam ter assegurado ao regime de Kadafi a tranquilidade e manutenção do seu regime na Líbia. Porém, em 2011, o seu país é "contaminado" pelos focos de manifestações e revoluções que se sucederam um pouco por todo o norte de África (Egipto e Tunísia). A acção do líder líbio foi cruel ao massacrar as multidões que se manifestavam por uma mudança no país. Não tardou a eclosão de uma guerra civil, em que os rebeldes conseguiram o apoio de ataques aéreos da NATO, o que equilibrou os pratos da balança e permitiu inclusivamente a tomada da capital, Tripoli, pelos revolucionários .
Figura 1- Explosão em Tripoli durante a guerra civil.
Estamos na presença de um ditador já sem verdadeiras convicções ideológicas ou políticas, interessado somente na perpetuação do nome Kadafi na liderança da Líbia, preferindo morrer e causar morte e miséria a centenas de milhares de líbios por um mero capricho ditatorial. O seu percurso prova isso mesmo, pleno de contradições, pois libertou o país de um regime monárquico, para criar um regime ditatorial centrado no seu nome e na sua família, apoiou o terrorismo e o anti-americanismo numa fase incial, para mais tarde apoiar a guerra contra o terror e os EUA quando isso lhe favorecia a manutenção no poder, era partidário do pan-arabismo, especialmente no norte de África, mas acabou por tentar desviar o seu país de uma revolução social e política conjunta desses países. Em suma, é um louco sedento de poder... a NATO e a ONU terão de multiplicar os seus esforços e a sua presença na Líbia para ajudar a acabar com a guerra o mais rapidamente possível, assegurando um menor número de perdas humanas e materiais e fazendo a transição do país para um regime democrático.


Referências Bibliográficas: Wikipédia, Veja, JN, DN, i, CM e Público.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Incompatibilidade do cargo de deputado com a profissão de advogado

Existem muitos deputados na Assembleia da República que acumulam o cargo público com o de advogado. Do meu ponto de vista, qualquer cargo num órgão de soberania deve ser efectuado em regime de exclusividade, tanto pela sua exigência, como pela sua responsabilidade, ainda para mais quando falamos de advocacia, cujo exercício da profissão pode colidir muitas vezes com o interesse público ou do Estado para beneficiar interesses individuais e privados. Deste modo, acho bastante razoável exigir-se aos advogados que foram eleitos deputados a suspensão da sua inscrição na Ordem.

A Constituição da República Portuguesa refere, no artigo 110º, que "são Órgãos de Soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais". De acordo com o artigo 4º do Regime de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos, todos os titulares de funções em Órgãos de Soberania devem exercer "(...) as suas funções em regime de exclusividade, sem prejuízo do disposto no Estatuto dos Deputados à Assembleia da República", sendo a sua titularidade "(...) incompatível com quaisquer outras funções profissionais remuneradas ou não, bem como com a integração em corpos sociais de quaisquer pessoas colectivas de fins lucrativos".

O Estatuto dos Deputados indica, o artigo 20º, várias incompatibilidades para o exercício do cargo, entre os quais ser "Funcionário do Estado ou de outra pessoa colectiva pública", ou ser "Membro do conselho de gestão de empresa pública, de empresa de capitais públicos ou maioritariamente participada pelo Estado e de instituto público autónomo". O artigo 21º indica os diversos impedimentos a que um deputado está sujeito, carecendo de autorização da Assembleia da República para serem jurados, peritos e testemunhas, ou para servirem de árbitros em processos de que seja parte o Estado ou qualquer outra pessoa colectiva de direito público. Este artigo refere ainda que está vedado aos deputados "exercer o mandato judicial como autores nas acções cíveis, em qualquer foro, contra o Estado" e "beneficiar, pessoal e indevidamente, de actos ou tomar parte em contratos em cujo processo de formação intervenham órgãos ou serviços colocados sob sua directa influência". Ainda de acordo com o estatuto é obrigatório aos deputados fazerem um registo de interesses quando vão para o parlamento, consistindo na descrição de actos e actividades susceptíveis de gerar impedimentos para o cargo (artigo 26º). O artigo 27º descreve ainda o eventual conflito de interesses, sobre o qual os deputados devem declarar a existência ou interesse particular aquando da apresentação de um projecto de lei ou intervenham em quaisquer trabalhos parlamentares.

O bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, tem sido o grande baluarte na luta por um regime de incompatibilidades mais aprofundado para quem exerce cargos públicos, que inclua um impedimento legal dos deputados em exercer advocacia, referindo que: "Quem está a fazer leis não pode estar também a aplicá-las" e que "se um presidente de Câmara e um membro do governo, quando assumem funções, suspendem o exercício da advocacia, o mesmo deve acontecer com um deputado". De facto, a Assembleia da República como órgão gerador de legislação pode dar azo a iniciativas algo promíscuas entre deputado/advogado e os interesses privados. Marinho Pinto dá inclusivamente um exemplo fácil:  "Um deputado que tenha, como advogado, um cliente com problemas de dívidas fiscais, pode favorecê-lo quando estiver a propor alterações à lei geral tributária".

É inadmissível que quem representa o povo português num órgão de soberania como a Assembleia da República coloque em causa os interesses do Estado, podendo intentar ações contra o mesmo e representar clientes que estão interessados em situações que se possam desenrolar a partir do cargo público que exerce. O tráfico de influências não passa só por estas questões, mas também por benefícios a sociedades de advogados para a aquisições de serviços de consultoria para o Estado pelas ligações dos deputados a essas sociedades.
O caso de 2007 relatado pelo Diário de Notícias é um bom exemplo da falta de transparência que poderá advir desta situação de promiscuidade. Jorge Neto (Jorge Neto & Associados), na altura deputado do PSD, usou o seu cargo público, em plena Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças, para criticar o presidente da CMVM, Carlos Tavares, relativamente ao processo da OPA sobre a PT, na qual teve intervenção directa como advogado, representando uma das partes envolvidas no negócio. O Estatuto da Ordem dos Advogados, relativamente a impedimentos refere que: "o advogado está impedido de praticar actos profissionais e de mover qualquer influência junto de entidades, públicas ou privadas, onde desempenhe ou tenha desempenhado funções cujo exercício possa suscitar, em concreto, uma incompatibilidade".

A própria Ordem dos Advogados deveria incluir nos seus estatutos uma lista de incompatibilidades mais específica e exaustiva, dando transparência e ajudando a limpar a imagem da profissão e da Justiça em Portugal, algo fundamental para qualquer Democracia numa economia de mercado. Todavia, tais alterações, pelo facto das Ordens Profissionais se inserirem na Administração Autónoma do Estado (o conteúdo das suas profissões é de grande importância pública, cujas prerrogativas são delegadas a pessoas colectivas criadas pelo Estado), teriam de ser aprovadas pela Assembleia da República.

Os princípios de Ética da Administração Pública também devem ser tidos em conta quando falamos de cargos políticos em órgãos de soberania, pois tal como os funcionário públicos, também estes se devem encontrar ao serviço exclusivo da comunidade e dos cidadãos, prevalecendo o interesse público sobre os interesses particulares, onde se incluem o princípio do serviço público, da Igualdade e o princípio da Justiça e imparcialidade.

Sucker Punch (***..)

O filme Sucker Punck de 2011 é um género de Acção/Fantasia que mistura um pouco do imaginário manga japonês, com uma influência na loucura "Tarantiniana", nos cenários visuais de Tim Burton e uma possível inspiração em "Inception". Escrito e realizado por Zack Snyder, conta com Emily Browning (Baby Doll), Abbie Cornish (Sweet Pea), Carla Gugino (Dra. Vera Gorski), Oscar Isaac (Blue Jones) e Scott Glenn nos principais papéis.
Figura 1- Poster do filme Sucker Punch.
Após a morte de sua mãe, a vida de Baby Doll torna-se num inferno ao ter de conviver com os abusos sexuais do seu padrasto (Gerard Plunkett), culminando com a sua acusação de assassinato de sua irmã. Baby Doll acaba por ser internada pelo seu padrasto num manicómio, onde um dos funcionários (Blue Jones) é subornado para a manter sob controlo, com o plano de a submeter a tratamentos de lobotomia dados por um médico externo (Josh Hamm), que chegará dali a alguns dias. 

Entretanto, a mente de Baby Doll refugia-se numa realidade alternativa que consiste em 2 níveis de consciência que se cruzam e complementam entre si com o objectivo final de fugir da instituição, auxiliada pelas moças que entretanto conheceu no local e sempre com um receio constante que Blue Jones descubra os seus planos.

Figura 2- Baby Doll lidera o grupo que luta para fugir da situação de reclusão.
É sempre interessante ver mulheres bonitas, em trajes sexys, a dar cabo do canastro de uns mauzões, ao som de uma banda sonora muito boa e pertinente, com planos de imagem bastante "loucos", embora cada vez mais comuns no cinema, e em cenários completamente burlescos e sombrios criados em ambiente digital, sendo que alguns deles acabam por soar um bocadito a "déjà vu". O argumento, apesar de não ser nada de extraordinário, até é algo original, mas falha um pouco no objectivo de entretenimento por não conseguir agarrar os espectadores, talvez por uma insuficiente ligação às personagens, quase mecânicas e pouco contextualizadas, ou porque a visão de Snyder talvez precisasse de alguma edição, para assim poder desenvolver melhor algumas das suas ideias e libertar o argumento de alguma da confusão de que padece.

O filme consegue, no entanto, manter o espectador interessado no desenrolar dos acontecimentos, tendo boas cenas de acção, muito embora ache que não vá tão além como se exige a este género de filmes nos dias que correm. Não está ao nível de "300" ou de "Watchmen", mas ainda assim Snyder não deve decepcionar completamente quem gostou dos seus trabalhos anteriores.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mário Palma, o Phil Jackson português

O treinador Mário Palma conseguiu a proeza de qualificar a selecção portuguesa de Basquetebol para o Campeonato da Europa (EuroBasket). A vitória em Budapeste, frente à Hungria, por 57-66 permitiu que os portugueses estejam presentes na Lituânia para defrontar as melhores selecções europeias de basquetebol.
Figura 1- Mário Palma
O experiente treinador português conta com cerca de 70 títulos no currículo, tornando-o no mais galardoado de sempre do Basquetebol português, muito devido à sua capacidade de liderança, comunicação e motivação, tendo uma filosofia de jogo que passa por um rigoroso momento defensivo e uma rápida saída para o ataque. Palma iniciou as suas grandes conquistas como treinador em Angola, qualificando-a, pela 1ª vez, em 1980 para o Campeonato Africano de Basquetebol (AfroBasket), tendo obtido um 7º lugar.

Em Portugal, Mário Palma conta com 22 títulos, estando ligado à melhor equipa de basquetebol de sempre de Portugal, o SL Benfica da década de 90, que contava com Carlos Lisboa, Pedro Miguel, Jean Jacques, Carlos Seixas, Mike Plowden, Sérgio Ramos, entre outros, sagrando-se 10 vezes campeão nacional em 12 anos e conseguindo a proeza de colocar o clube, na época de 1993/1994, no grupo final pela disputa do título de campeão europeu de Basquetebol. Eventualmente, acabou por sair do clube e foi treinar o Estrelas da Avenida, no qual se sagrou campeão em 1997/1998, tendo sido considerado como o treinador do ano de entre todas as modalidades.

Mário Palma retorna a Angola, liderando a sua selecção a 4 vitórias seguidas no Campeonato Africano de Basquetebol (1999; 2001; 2003; 2005), 2 presenças nos Jogos Olímpicos de 2000 (Sidnei) e 2004 (Atenas) e a um 11º lugar no Mundial de 2002 (Indianapolis). Sai da selecção angolana para treinar o 1º de Agosto, onde foi campeão de Angola por 4 ocasiões e campeão de África em clubes, tendo sido eleito o melhor treinador desse continente em 2005. No ano seguinte deixa Angola para ir treinar o Palma Aqua Mágica da Liga espanhola, onde não obteve resultados satisfatórios. Acabou por aceitar o desafio de orientar a selecção da Jordânia, levando-a à conquista da medalha de bronze (3º lugar) no Campeonato Asiático de Basquetebol em 2009, apurando-a para o Campeonato Mundial de Basquetebol.

Em 2011 volta a Portugal, para orientar a selecção e pôr fim aos fracos resultados obtidos pelo anterior seleccionador nacional, o espanhol Moncho Lopez. Portugal vai disputar o Europeu de Basquetebol pela 3ª vez na sua história, 4 anos depois da 2ª e última presença na fase final da competição, em 2007 (Espanha), na qual terminou na 9ª posição. Em 1951, em França, a selecção portuguesa participou como convidada, ficando na 15.ª posição.

Mário Palma coloca como objectivo o apuramento para a 2ª fase, mas de momento está concentrado em atingir o 1º lugar no grupo de qualificação, para o qual precisamos de vencer por mais de 12 pontos à Finlândia em Coimbra. Depois do Europeu, já está previsto o regresso de Mário Palma ao 1º de Agosto, clube onde já fez história... pena não continuar pelo nosso país, pois a sua competência e forte personalidade são muito necessárias num trabalho que faça evoluir esta modalidade no nosso país, tal como fez em Angola.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Diário Económico: "Governo garante que escolha dos dirigentes será independente"

Se é para condicionarem ao máximo os tais concursos públicos para a contratação de altos cargos dirigentes, mais valia estarem quietos... sempre se poupa tempo, trabalho e dinheiro. A politização desses cargos, com as novas medidas, não será tão descarada, mas vai continuar a acontecer enquanto o Governo puder recusar todos os candidatos propostos pelo júri, cujos membros, por sua vez, são escolhidos a dedo pelos governantes. É realmente uma situação algo hipócrita...
Hélder Rosalino esteve ontem reunido com as estruturas sindicais da administração pública.
Figura 1- Hélder Rosalino, secretário-geral da Administração Pública.
Novo estatuto dos dirigentes “é francamente diferente do actual”, sublinha Hélder Rosalino.

Diário de Notícias: "Troca de Dados com EUA" & "TGV"


Típico! Na oposição fazem tudo o que é possível para "mandar abaixo" qualquer iniciativa do Governo por qualquer pormenorzinho... tudo com o objectivo de dificultar quem está no poder, sem qualquer pensamento construtivo ou ideológico para a protecção dos interesses nacionais!

No Governo, PSD aceita trocar dados com os EUA


Sociais-democratas mudam de ideias e 'ratificam' acordo que foi chumbado pela protecção de dados por ser "abusivo".

O Governo desenterrou o acordo para troca de dados pessoais entre Portugal e os EUA e, ao contrário do que o PSD admitia na oposição, vai avançar para a sua ratificação.

Da reunião de ontem do Conselho de Ministros saiu uma resolução para o Parlamento aprovar o acordo bilateral assinado entre o Governo de José Sócrates e a Administração de Barack Obama.

O documento que permite a partilha de perfis de ADN e de impressões digitais tem data de Junho de 2009, mas não chegou a sair da gaveta com os socialistas.

Ataque ao Governo sobre TGV feito no Facebook

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1954644&page=-1

O vice-presidente da bancada do PSD Carlos Abreu Amorim criticou hoje as declarações do ministro da Economia sobre a alta-velocidade, sublinhando que "o Governo não pode desdizer-se numa questão tão relevante".

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Portugal na final do Mundial Sub-20 de 2011

Quer ganhemos ou não o Mundial de sub-20 penso que o facto de Portugal ter chegado à final já é motivo de enorme satisfação para todos nós. Num período em que a formação de jovens futebolistas portugueses tem passado uma travessia no deserto, com fracos resultados nas selecções jovens, em paralelo com o progressivo desinvestimento no jogador nacional por parte dos clubes de futebol das ligas profissionais, aumentando exponencialmente a percentagem do jogador estrangeiro a actuar no nosso país, é sempre bom ver que a boa matéria-prima portuguesa em termos de futebolistas ainda existe, requerendo somente uma aposta mais firme dos responsáveis por este desporto em Portugal.
Figura 1- Seleção portuguesa de futebol sub-20.
Os jornalistas já lhe chamam a “geração coragem”, contrastando com a “geração de ouro” de Riade (1989) e Lisboa (1991), aludindo a uma certa falta de qualidade e a um grande querer desta selecção de sub-20. Não iria tão longe com estes determinismos, obviamente que não existe nesta selecção vários jogadores “fora de série”, como víamos naquelas selecções, com Fernando Couto, Paulo Sousa, João Vieira Pinto, Luís Figo e Rui Costa, ou, nas gerações que lhes sucederam, um Dani, Nuno Gomes, Simão Sabrosa, Ricardo Carvalho, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani ou Fábio Coentrão, contudo, vejo nesta selecção, no seu conjunto, mais jogadores com a possibilidade de fazer uma boa carreira, relativamente ao que tem acontecido nas gerações anteriores. Muitos dos jogadores que faziam parte da “geração de ouro[1]” tiveram uma carreira que passou ao lado daquilo que muitos esperariam, ainda assim, a maioria fez carreira na 1ª divisão do futebol português. Penso que esta selecção não tem jogadores em condições de fazer uma carreira espectacular nos melhores clubes do mundo, mas ainda assim penso que boa parte tem capacidade para actuar em bons clubes nos melhores campeonatos do mundo.
Se repararmos bem na sua composição, verificamos que muitos dos jovens presentes no Mundial da Colômbia tiveram um 1º ano de seniores com mais competição nas ligas profissionais do que seria habitual, isto tendo em conta as gerações anteriores. Claro que relativamente a uma comparação com o que se passa com as restantes selecções, como o Brasil, Espanha, França e Argentina, o número de utilizações em jogos oficiais ainda é ínfimo, mas creio que já é sinal de algo, talvez de talento ou do grande espírito competitivo destes jogadores.
Ilídio Vale não é um grande treinador, o futebol praticado pela selecção comprova-o, limitando-se a defender bem e a fazer o famoso kick and rush para os avançados, mas tem o mérito de ter percebido que Portugal só faria figura neste mundial se adoptasse uma postura de maior contenção, jogando muitas vezes com 4 médios de características defensivas (Pelé, Danilo Pereira, Júlio Alves e Sérgio Oliveira), e esperando que, no ataque, a sorte bafejasse Portugal, daí os 0 golos sofridos até à data (o guarda-redes Mika bateu o recorde de minutos sem sofrer golos em Mundiais sub-20, 570 minutos, superando a anterior marca do chileno Christopher Toselli) e os 5 golos marcados em toda a competição (3 deles marcados por Nélson Oliveira, em que dois foram da marca de penalty).
O que interessa é que Portugal chegou à final, ultrapassando adversários complicados como a Argentina e a França, disputando agora o título contra o favorito Brasil… podemos não ser a selecção com mais craques e com maior futuro, mas já mostramos a nossa garra e as finais são para se ganhar!

ANÁLISE INDIVIDUAL AOS JOGADORES PORTUGUESES SUB-20:

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Diário de Notícias: "40 mil professores no topo da carreira sem avaliação"

"O último a sair que feche a porta". A falta de coragem política dá neste tipo de situações de desigualdade profissional entre colegas no funcionalismo público, um pouco à semelhança do que passou no Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas, em que a maior flexibilidade na dispensa de trabalhadores só pode ser aplicada aos funcionários públicos que entraram após esta lei de 2008.

Na classe profissional de docencia há uma enorme disparidade cavada por diferenças geracionais, em que às mais novas foram sendo diminuídos, de forma sucessiva, os privilégios de que dispunha a profissão. Os professores "mais velhos" são os que mais ganham, geralmente colocados no topo da carreira, sendo também os que têm uma maior redução da componente lectiva, sem qualquer tipo de incentivo à melhoria do seu desempenho e brio profissional.

Muitos argumentam que o Ensino é uma actividade excepcional, que está na base de todas as outras e que por isso devem ter prerrogativas diferenciadas. Ora, exactamente por ser uma profissão tão especial e por estar na base de todas as outras e no futuro das novas gerações é que o seu acesso e a sua ascenção devem ser bem escrutinadas. O ensino não pode ser o último recurso de uma pessoa que não conseguiu aceder à profissão que mais desejava, muito pelo contrário, tem de ser uma questão de vocação. Não basta tirar as "pedagógicas" na faculdade... o futuro professor para entrar no Ensino Público tem de passar por um procedimento concursal que analise as suas competências e motivações, devendo também ser avaliado anualmente, tal como os restantes funcionários públicos, pelos resultados e eficácia do seu trabalho, quer esteja no seu 1º ano de trabalho, quer esteja no último.

O fraco desempenho dos estudantes em Portugal parece passar um pouco ao lado da responsabilização dos professores. O forte corporativismo desta classe profissional pouco tem permitido aos dirigentes tentar perceber e medir a eficácia do serviço por eles prestado. Os professores portugueses são muito bem pagos, relativamente ao nível do resto do país e à Função Pública, e trabalham menos horas anuais relativamente aos professores dos restantes países da União Europeia.

É necessária coragem política para enfrentar estes corporativismos... a cedência só agravará as injustiças e a falta de qualidade no Ensino.


Isenção de um terço dos docentes gera críticas. Efeitos da avaliação nos concursos não são claros.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

100º Aniversário da Monarquia Republicana Portuguesa


O ano passado comemorou-se, no dia 5 de Outubro, o 100º aniversário da Monarquia Republicana instaurada em Portugal. O leitor pode achar esta designação algo estranha, em virtude da aparente diferença que existe entre o regime anterior e o regime actual, mas tentarei explicar, nos seguintes parágrafos, o porquê desta expressão.
Em 1º lugar não nos podemos esquecer das longas linhagens de famílias políticas portuguesas, algumas delas com base aristocrática, que perduram nos dias de hoje. Um dos casos é o família de Manuela Ferreira Leite, bisneta de José Dias Ferreira, um maçon que foi Ministro da Fazenda e Presidente do Conselho de Ministros (equivalente a 1º Ministro) na Monarquia Constitucional. O actual presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins, também provém de uma família notável, descendendo de Joaquim de Oliveira Martins, outro Ministro da Fazenda durante a Monarquia Constitucional. Francisco de Sá Carneiro, fundador do PSD e antigo 1º Ministro de Portugal, era sobrinho de João Pinto da Costa Leite, um aristocrata que exerceu vários cargos políticos durante o Estado Novo. Durão Barroso é sobrinho de Diamantino Durão, antigo ministro da Educação. A família Portas (tanto Paulo, como Miguel e Catarina) deve ter ficado com o "bicho" da política por influência de seu avô, Leopoldo Portas, que foi presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa, e de seu pai, Nuno Portas, que chegou a participar nos governos provisórios do pós-25 de Abril. Por fim, a família Soares é o equivalente a uma linhagem real em tempos republicanos, que se iniciou com João Lopes Soares, um político proeminente da 1ª República, onde foi deputado, governador civil e Ministro das Colónias, porém o seu filho, o inefável Mário Soares, atingiu ainda maior notariedade, sendo que após a revolução de 1974 foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, três vezes 1º Ministro de Portugal e ainda foi Presidente da República por 2 ocasiões. O filho de Mário Soares, João Soares, também acabou por enveredar por uma carreira política, tendo-se tornado deputado e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Mais casos existirão, e acaba por ser natural que o interesse pela política seja passado de geração em geração, mas o que quero realmente assinalar é que existe um padrão que faz com que as mesmas elites políticas se mantenham no poder e tomem conta dos destinos do país, criando deste modo uma aristocracia republicana. Não digo que só assim é que se consegue ascender dentro da política, nem quero menosprezar o contributo que cada um dos visados deu ao nosso país, pois a sua competência, ou não, está a vista de todos, contudo, devo assinalar que se torna mais fácil ter uma carreira política consoante o backround que dispõe, sendo que alguns dos actuais descendentes de políticos portugueses estarão certamente na calha para uma carreira política, sendo que parte desse grupo fá-lo-á baseando-se no nome de família e sem o minímo interesse e competência pela causa pública.

Até aqui estamos a falar a uma escala superior, onde ainda assim é necessário um sistema eleitoral para elevar essas pessoas à posição que tanto ambicionam, contudo, o que não falta na Administração Pública são os benefícios, as "cunhas", para a entrada nos quadros de indivíduos só porque são amigos ou pertencentes a esta ou aquela família, como é apanágio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde é sobrevalorizado, em concursos públicos, o facto de se ter um familiar ligado à diplomacia para poder aceder e ascender na carreira de diplomata, podendo-se chegar ao cúmulo de alterar as regras a meio de um procedimento concursal, para dar lugar a um parente de um antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Outra característica do nosso regime que advém dos tempos da Monarquia Absolutista é o "feudalismo". Alguns políticos e dirigentes públicos tratam o Estado como se tratasse de uma coutada sua, distribuindo cargos e privilégios a seu bel-prazer, quer através de um grande sentimento de amizade, quer por se esperar algo em troca num futuro próximo (qual Godfather!), esquecendo que os cargos e privilégios no Estado não são seus para dar e que tais prerrogativas têm de ser feitas com transparência e igualdade. Na Idade Média estabeleciam-se relações de suserania entre um nobre mais poderoso (suserano) e nobres menos poderosos (vassalos). Os vassalos recebiam um feudo do suserano, mas em troca teriam de dar um tributo e defender os interesses deste quando necessitasse.

Que diferença existe entre esta situação e a actual situação de clientelagem dentro dos partidos políticos? Neste caso, também em troca de cargos e privilégios, se colocam votos dos "vassalos" e dos "servos" que estes controlam ao serviço de um "suserano" em disputas eleitorais internas. Também ocorre a situação em que o "vassalo", com base num enorme salário que obteve ao ascender a um cargo público por nomeação, ter de contribuir com uma percentagem pré-definida na compra de votos em eleições internas, pelo pagamento de quotas partidárias, e inclusivamente para o financiamento de campanhas eleitorais do seu partido.
Por fim, não posso deixar de referir o papel importantíssimo de pertencer a uma elite de alta condição social, difícil de entrar, que possuí um código de conduta e de protecção mútuos, misturados com ideais altruístas e de justiça, tal como a maçonaria. No fundo, a maçonaria foi um dos grandes impulsionadores da revolução republicana, porque "no fundo" o que lhes interessava era retirar uma certa elite do poder, para assim ocupar o seu lugar de forma mais dissimulada. Na Idade Média havia algo semelhante, o "Código de Cavalaria" que existia entre os nobres mais abastados, ou então  a pertença a uma Ordem Religiosa Militar (Templários, Hospitalários, Calatrava, etc.), que no meio de ritualizações, cerimoniais e moralismos, moviam a sua grande influência e poder para se protegerem a si e aos seus.

sábado, 13 de agosto de 2011

Hesher (****.)

Hesher é um drama independente que se estreou em 2010, realizado e escrito por Spencer Susser e que conta com as interpretações dos actores Joseph Gordon-Levitt, Natalie Portman, Rainn Wilson, Devin Brochu e Piper Laurie. O filme conta na sua banda-sonora com a participação dos Metallica, Motörhead, entre outros.

Figura 1 - Cartaz do filme.
Este filme retrata uma família despedaçada, especialmente na pele de T.J. (Kevin Brochu) que tenta lidar com a morte da sua mãe num desastre de automóvel e com a consequente depressão do seu pai (Rainn Wilson). Entretanto, surge Hesher (Joseph Gordon-Levitt), um jovem rude e “metaleiro” que se instala nas suas vidas e que acaba por se revelar uma autêntica Mary Poppins dos tempos modernos.

Figura 2- Hesher no sofá da família Forney.
Apesar de ser uma história algo pesada, o argumentista soube contrabalançar esse facto com pequenos apontamentos humorísticos através de Hesher, tornando-a mais leve e ligeiramente imprevisível. Acaba por ser um filme de superação de dificuldades que vão acumulando na vida desta família, contando com excelentes interpretações, especialmente de Joseph Gordon-Levitt, que se afirma cada vez mais com um bom actor de cinema, ele que era conhecido pelo papel de Tommy Solomon da série “3º Calhau a contar do Sol”.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Diário de Notícias: "IVA sobre electricidade e gás sobe já em Setembro"

Para quem era inconcebível a proposta dos socialistas de aumento do IVA em sumos, refrigerantes, leite com chocolate, fraldas, etc., porque achavam que não eram "bens de luxo"... já no caso do gás e da electricidade consideram que esses sim, são bens integrantes dessa categoria! O aumento já estava anunciado, mas não é nada meigo e foi antecipado! Lá vou ter eu de desencantar as velas... 

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1950882

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A(s) crise(s) económica(s) do século XXI simplificada(s)

O ano de 2001 foi um ano crítico. Foi nesse ano que o presidente republicano George W. Bush iniciou a "Guerra contra o Terrorismo", ordenando a invasão do Afeganistão. Dois anos mais tarde, o mesmo presidente ordena a invasão do Iraque. Tais operações, em paralelo com outras, provocaram uma aumento substancial do Orçamento para a Defesa por parte dos EUA e dos seus aliados, que vai perdurando até aos dias de hoje.

Ora, ainda em 2001 dá-se o rebentamento financeiro da "Bolha da Internet". A especulação relacionada com as empresas de Tecnologia de Informação e Comunicação, provoca a criação de inúmeras empresas baseadas na internet, com uma valorização em alta das suas acções.  Os investidores tomaram opções de grande risco e confiança nestas empresas sem a necessária fundamentação, tanto pelo rápido aumento dos preços das acções, como pela disponibilidade de capital de risco e pela confiança e falta de regulação do mercado. Logo após o auge das suas cotações, as acções destas empresas entram em queda acentuada, o que provocou a falência, venda e fusão de muitas delas.
Para proteger os investidores, Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal Americana, decidiu orientar os investimentos para o sector imobiliário, adoptando uma política de taxas de juros muito baixas e de redução das despesas financeiras. Os intermediários financeiros e imobiliários criaram uma clientela cada vez maior para investir em imóveis, através da Fannie Mae e Freddie Mac. Atraídos pelas garantias governamentais, vários bancos de todo o mundo, acabaram por dar crédito às imobiliárias através da Fannie Mae e da Freddie Mac, criando o sistema das hipotecas subprimes, empréstimos de alto risco e de taxa variável concedidos a famílias com alto risco de incumprimento. Na realidade, eram financiamentos de casas, muitas vezes conjugados com a emissão de cartões de crédito, concedidos a pessoas que os bancos, sabiam de antemão, não terem rendimentos suficientes para poder arcar com suas prestações. Os bancos, com essas hipotecas, criaram títulos livremente negociáveis, o mercado de subprimes, que obtiveram a mais alta notação financeira dada pelas agências de rating (AAA), passando a ser vendidos para outras instituições.

Em 2005 a Reserva Federal Americana aumenta as taxas de juro para reduzir a inflação, fazendo cair o valor dos imóveis e impossibilitando o seu refinanciamento para os contraentes de risco, provocando muitos incumprimentos. Os tais títulos criados esvaziaram-se e tornaram-se impossíveis de vender a partir de meados de 2007, originando um efeito dominó que fez ruir o sistema bancário internacional.

Em 2008, o quarto maior banco de investimento dos states, o Lehman Brothers abre falência. Este banco tinha investido fortemente em títulos do mercado de subprime, o que originou a desconfiança dos analistas, que aumentou ainda mais após o colapso do banco Bear Stearns no início desse ano. O Tesouro americano ajudou, então, a JP Morgan Chase a comprar o Bear Stearns e nacionalizou as empresas de hipoteca que detinham metade do mercado americano, Fannie Mae e Freddie Mac. O Governo Federal havia anunciado medidas de emergência para facilitar o crédito estatal a empresas com dificuldades financeiras, contudo não foram suficientes para salvar o Lehman Brothers, sendo que, pouco tempo depois, outras entidades, como o banco Merrill Lynch e a seguradora AIG (a maior dos EUA) entram em bancarrota.

A falta de regulação de mercado deu lugar à falta de soluções do mercado para resolver a crise que teve desde logo um efeito sistémico nos mercados financeiros mundiais, obrigando o Governo Federal a injectar muitos milhões de dólares para salvar a AIG. O Governo de George W. Bush implementou um plano de resgate económico, um pacote de ajuda governamental de 800 biliões de dólares para evitar a falência de grupos financeiros e de imobiliário. Poderosas instituições americanas como o Citigroup e Merrill Lynch, declararam perdas colossais nos seus balanços, o que aumentou ainda mais a desconfiança, resgatou-se com dinheiros integralmente públicos algumas delas, como o American Internacional Group. Em suma, a crise do crédito de hipotecas provocou uma crise de confiança geral no sistema financeiro, que aliado à falta de liquidez bancária, paralisou o mercado de empréstimo entre bancos, o núcleo do sistema financeiro, exigindo uma forte intervenção dos Estados, através dos seus Bancos Centrais, com uma injeção de capital nunca antes vista e a conceder créditos a várias entidades financeiras, evitando o efeito dominó, com a quebra em cadeia de outros bancos.

Os pregadores do “mercado livre” acreditam que os mercados tendem a equilibrar-se de uma forma natural, em que cada individuo pode procurar livremente os seus próprios interesses, ao mesmo tempo que se alcançam os interesses da sociedade. Esta é a ideologia dominante actualmente, mas como já foi explicado anteriormente, foi a intervenção do Estado nos mercados que evitou o colapso dos sistemas financeiros. O Moral Hazard nos EUA encorajava uma expansão do crédito, em tempos de crise as autoridades financeiras iam injectando liquidez no sistema financeiro, incentivando os consumidores a endividarem-se. A regulamentação e supervisão estatal dos mercados financeiros foi desaparecendo, tornando o Estado incapaz de avaliar os riscos, abdicando dessa responsabilidade, surgindo as empresas privadas de rating, pagas pelos agentes que operam no mercado, que por sua vez também lhes fornecem a informação. Assim, nas vésperas da queda da Fannie Mae, as tais agências atribuiam-lhe uma notação financeira de risco AAA.

Em pouco tempo a crise começou a afectar a Europa e a zona Euro. Vários países da União Europeia anunciaram pacotes e linhas de crédito que ultrapassaram 1 trilião de euros para ajudar os seus sistemas financeiros. Para evitar o colapso financeiro, o governo do Reino Unido resgatou o Northern Rock, o Bradford & Bingley, o Royal Bank of Scotland, HBOS e o Lloyds TSB, a Alemanha salva o Hypo Real Estate, o estado dinamarquês, através do seu banco nacional, adquire o Roskilde Bank, no Benelux (especialmente à conta da Bélgica) são nacionalizados o Fortis e o Dexia, em Espanha, através do Banco de España, são salvos a Caja de Ahorros Castilla la Mancha e a Caja Sur. Na Letónia, o banco estatal adquiriu o Parek Bank e o Golas Bank, o mesmo acontecendo em Portugal relativamente ao Banco Português de Negócios. A Irlanda, classificada na altura, como a terceira economia mais livre do mundo pelo “The Wall Street Journal” e a “Heritage Foundation”, entra numa crise feroz que perdura até aos dias hoje, com um défice enorme, muito devido às nacionalizações da banca a que foram obrigados, caso do Anglo Irish Bank, o Allied Irish Bank, o EBS Building Society e Bank of Ireland.
A Islândia, país com um elevado nível de vida, ficou em bancarrota, pois teve que privatizar os três maiores bancos do país (Glitnir; Landsbanki; Kaupthing), entrando numa grave crise económica, tendo que mais tarde que resgatar o banco de investimento Straumur. O Governo de direita, então no poder, anunciou medidas “draconianas”, com cortes de salários e aumentos de impostos. Porém, os islandeses nas eleições seguintes elegeram a coligação de esquerda, chefiada por Johanna Sigurdardottir, que baixou o valor da moeda para tornar as exportações mais baratas, fortalecendo as indústrias locais e o emprego, equilibrando as finanças ao mesmo tempo, sendo que, neste momento, o país saiu da recessão.


A desconfiança do sistema financeiro gerou um aumento das taxas de juro para a concessão de empréstimos, prejudicando os planos de investimento das empresas e o consumo por parte da população. Um menor investimento implica uma contração das economias, provocando o desemprego, que por sua vez provoca um menor consumo, uma menor receita fiscal e maiores encargos para o Estado em subsídios e apoios sociais.

Em finais de 2009 desenvolveu-se um temor entre os investidores relativamente à dívida soberana de alguns países da União Europeia,  nomeadamente alguns membros da zona Euro: Grécia, Irlanda e Portugal. A dívida soberana (garantida pelo Estado), aliada a um défice excessivo, a uma falta de confiança dos mercados (expressa pelas notações das agências de rating) e um esfriamento da economia nos vários Estados criaram suspeitas relativamente a solvabilidade desses países, tornando os títulos de dívida pública menos seguros aos olhos dos investidores, aumentando-se as taxas de juro.
A falta de uma política económica comum da União Europeia, mesmo estando sobre uma união monetária permite que os diferentes estados-membros adoptem diferentes modelos e vias económicas, assim como "aldrabar" as suas contas para poder cumprir com as metas estabelecidas pelos alemães, que só tiveram em conta a sua realidade económica quando criaram as regras, esquecendo que os outros países encontram-se num patamar diferente de desenvolvimento,  apontando os incumprimentos somente quando são praticados pelos outros países. Como a Irlanda, Grécia e Portugal já não possuem moeda própria, já não podem utilizar o velho sistema da desvalorização da moeda pela impressão de mais dinheiro, com o qual compra dívida e ao mesmo tempo torna as exportações mais baratas e as importações mais caras. A grande preocupação da União Europeia é que o contágio se espalhe a economias com maior peso como a Itália e a Espanha, que por arrasto poderão colocar toda a comunidade em risco.
Figura 1- Défices Públicos.
No caso da Irlanda, a completa liberalização da sua economia e a pouca supervisão e regulação do Estado fez com que o seu sistema financeiro tivesse entrado em falência na sequência da crise dos subprimes, obrigando o Estado a nacionalizar os bancos, o que resultou num aumentar enorme do seu défice e da dívida pública. Tornou-se inevitável recorrer aos empréstimos do FMI, com o consequente corte na despesa do Estado e aumento generalizado de impostos.


A economia grega no início dos anos 2000 estava a crescer a um bom ritmo, numa taxa anual de 4.2%, atraindo muito capital estrangeiro, o que permitia disfarçar o grande défice estrutural criado para financiar o emprego público, pensões e outros benefícios sociais. Com a adesão ao euro a Grécia beneficiou de taxas de juro mais baixas para o crédito, mas a crise económica acabou por afectar as principais actividades económicas do país (turismo e industria naval), expondo as suas fragilidades. O Governo de direita grego, para cumprir os objectivos do Pacto de Estabilidade da Zona Euro (défice até 3% e dívida pública inferior a 60% do PIB - as "regras de ouro" da Alemanha), “modificaram” relatórios e os dados estatísticos sobre o seu estado económico através da ajuda do Banco norte-americano Goldman Sachs, com swaps que escondiam o real nível de endividamento a que os gregos se vinham submetendo, mantendo a Comissão Europeia “às escuras” sobre esta matéria. A desconfiança dos mercados aumentou fortemente relativamente à Grécia, que entrou em risco de incumprimento, sendo obrigada a recorrer à ajuda do FMI e da União Europeia (posteriormente através do Fundo Europeu de Estabilidade Europeia), que em troca exigiu a tomada de medidas “draconianas” para colocar o país nos eixos, através da redução do défice e a dívida pública, a tal austeridade financeira. O novo governo grego, do socialista George Papandreou, teve de cortar com o investimento público, nas despesas do Estado e aumentar os impostos, ao mesmo tempo teve que lidar com a oposição política do anterior Governo e da sua população. Uma grande instabilidade que só aprofundou a recessão económica e colocou o rating da dívida do país no nível de “lixo”.
O caso português vem de um problema estrutural de várias décadas, caracterizado pela falta de competitividade e de produtividade da nossa economia, acompanhada com aumentos dos gastos do Estado e da partidarização da administração pública através de redes de clientelagem. Este é um problema que advém desde as legislaturas de Cavaco Silva, que não foram devidamente contrariadas durante os governos de Durão Barroso e do socialista José Sócrates. Cavaco Silva aproveitou a época das "vacas gordas", dos enormes fundos estruturais da União Europeia para construir várias infraestruturas, aumentar o emprego público, ao mesmo tempo que desperdiçava dinheiro comunitários e apoiava a política da União Europeia de acabar com a produção dos agricultores e pescadores portugueses, apostando num crescimento económico com base no consumo e nos serviços. António Guterres prosseguiu a mesma política, mas quando Portugal chegou ao Governo de Durão Barroso descobriu-se que o país estava de "tanga", procurando-se combater isso através da redução da despesa do Estado, mas especialmente pelo aumento de impostos. O objectivo de entrar na zona Euro lá foi conseguido, muito graças a receitas extraordinárias e ao aumento de impostos, apesar do país não estar preparado em termos estruturais para a mudança. José Sócrates, apesar do interregno irresponsável de Santana Lopes, prosseguiu com a política de Barroso, mas continuaram a faltar verdadeiras reformas estruturais para fazer crescer a economia portuguesa, pelo que não foi novidade a queda de Portugal aos pés da especulação dos mercados quando a crise mundial "bateu à porta" e expôs a real situação do país, tendo sido obrigado a recorrer ao FMI e à Comissão Europeia e às contrapartidas que isso implica.

Apesar de Portugal ter recebido ajuda internacional e de ter entrado um Governo liberal de direita com a promessa de uma maior austeridade, com cortes nos gastos do Estado e com um aumento de impostos, o nível de notação é colocado no "lixo" em 2011, reforçando o que é óbvio, que Portugal vai entrar numa recessão profunda, com mais desemprego, menos investimento económico e menos receita fiscal, entrando em risco de incumprimento, o que faz questionar toda uma política mundial de como combater a crise.
A crise da divída soberana teria de vir bater à porta dos EUA. O aumento dos gastos do Governo Federal, especialmente devido à política de Defesa e de salvamento do sistema financeiro americano iniciada pelos Republicanos, levaram à necessidade do presidente democrata Barrack Obama de elevar o tecto orçamental da dívida para o país não entrar em incumprimento. Os democratas têm o plano de cortar 1.5 triliões de dólares nos gastos federais em 10 anos, assim como um aumento de impostos que afectará também os mais ricos, os denominados "job creators" pelos republicanos, avessos a esta medida, bloqueando a resolução de aumentar o tecto da dívida na Câmara dos Representantes, impulsionado pela sua ala radical, o Tea Party.

Os republicanos,desde Ronald Reagan, têm sido os grandes responsáveis pela maior parte das vantagens e insenções fiscais concedidas aos milionários e às grandes empresas e grupos económicos, que estão actualmente no patamar mais baixo de sempre, comprometendo receita fiscal do Estado e exigindo mais sacrifícios à classe média. Como são os republicanos que controlam o Congresso, a defesa por esses privilégios é acérrima, alegando que a sua eliminação prejudica a economia. Porém, o Presidente norte-americano afirmava que «não será aceitável» impedir o aumento do tecto da dívida do país e manifestou a intenção de evitar uma situação de incumprimento pelos EUA, e exemplificou com os administradores de fundos de risco, que não deviam pagar menos impostos que as suas secretárias, e que não se deviam continuar a conceder benefícios especiais a empresas de petróleo capazes de lucrar dezenas de milhares de milhões de dólares. 
Os Republicanos e Democratas lá chegaram a um consenso que permitiu aumentar o tecto da dívida americana, contudo, tal não evitou que as agências de rating baixassem o nível de notação dos EUA, o que tem provocado mini-crashes da Bolsa um pouco por todo o mundo.

TO BE CONTINUED...

Questões:
1- Se o Estados foram fundamentais para evitar o colapso do sistema financeiro e se a auto-regulação dos mercados não funciona, porque é que os Estados se têm demitido da regulação e supervisionamento da economia?
2- Se a política de austeridade não resulta, havendo o perigo cada vez maior de incumprimento, porque é que não se tenta outra abordagem?
3- Porque é que o liberalismo está na moda se foi ele que nos colocou nesta trapalhada?

4- Porque é que a classe média leva sempre com grande parte da austeridade em cima? Uma classe média forte, com poder de consumo, não é extremamente importante para a economia?

5- O aumento do fosso entre os mais pobres e os mais ricos numa sociedade de consumo não estará na origem de motins e de vandalismos um pouco por todo o mundo?