domingo, 14 de julho de 2013

Jorge Jesus, o catedrático potenciador



Vou começar este texto logo "a abrir": Na minha opinião o SL Benfica não devia ter renovado contrato com o treinador Jorge Jesus (JJ)! Se há uma década atrás esta opinião seria consensual entre os benfiquistas em virtude dos parcos resultados alcançados pelo técnico, nos dias que correm não é bem assim, isto apesar de em 4 anos ter perdido 3 campeonatos de forma consecutiva... e num grande clube como o Glorioso isso normalmente é imperdoável.

Claro que os tempos são outros, o FC Porto detém a hegemonia do futebol nacional e o SL Benfica tem de construir o seu caminho de forma sustentada, sem artifícios anti-fairplay, para poder chegar ao topo. Porém, o que é certo é que o SL Benfica, desde os tempos de Quique Flores, que possui grandes planteis, sendo que, do meu ponto de vista, tem tido o melhor plantel em Portugal desde a época de chegada de JJ ao clube. E assim é fácil ser treinador de futebol, já que basta o mínimo de conhecimento, bom-senso e capacidade de trabalho para se ter sucesso, pois os "meninos" fazem o resto dentro de campo. O que é certo é que isso não acontece no SL Benfica de JJ, um treinador que custa 4M de euros/época!

O que é incrível, e de certa forma humilhante, é que na época 2011/2012 o SL Benfica dispôs de 5 pontos de vantagem sobre o 2º classificado durante a 2ª volta do campeonato, enquanto na de 2012/2013 tinha 4 pontos de vantagem ao entrar para a antepenúltima jornada do campeonato! Um das principais erros  que originou este debacle passa pela má gestão física do plantel pelo denominado "Richard Gere da Damaia", cujas equipas esfolam os jogadores titulares até rebentar. Isso até pode passar despercebido em clubes como o Braga ou o Belenenses, mas não se pode olvidar que o SL Benfica, ao contrário desses clubes, faz quase 100 jogos por época.

Como se isso não bastasse, a teimosia táctica é outro grande handicap de JJ, que não abdica de um jogo extremamente ofensivo. Todavia, há situações e situações, e se é verdade que em 90% dos jogos o Glorioso tem de jogar assim mesmo, existem 10% de casos em que é necessário deter o controlo do meio-campo e do adversário, não só porque é um adversário forte, mas em virtude do que se está a desenrolar em campo e com o resultado... mas JJ só sabe jogar daquela maneira e com o mesmo sistema táctico, o que deixa o meio-campo e a defesa do SL Benfica ao "Deus dará". Para além disso, é normal este treinador "borrar a cueca" ou tomar iniciativas algo estranhas contra o FC Porto ou em jogos decisivos, como colocar David Luiz a lateral esquerdo para travar Hulk, ou fazer entrar em campo jogadores como Pablo Aimar e Roderick Miranda, que até então pouco ou nada tinham jogado durante o campeonato.

JJ tem também um problema de conflitualidade com os jogadores... pois o técnico é, digamos, um bocado desbocado e escandaloso na hora de apontar os erros dos seus jogadores, fazendo-o com fleuma e vernáculo, e isso tem trazido problemas com alguns atletas, caso de Rúben Amorim, Miguel Vítor, Bruno César, Óscar Cardozo, etc. É também um técnico que dá muito pouco espaço aos jovens provenientes da Formação e a jogadores que tenham vindo sem o seu aval, mas forçando a "barra" naqueles em que a contratação teve o seu dedo, acabando por jogar tempo a mais. Tudo isto origina fenómenos de "encostamento às boxes" de certos jogadores, como Nolito, Urreta, Rodrigo Mora, Rúben Amorim, que em certas alturas do campeonato, pelo desgaste e lesões, poderiam ter sido bastante úteis. Muito se fala da sua capacidade em potenciar jogadores e tal... para mim é uma falsa questão pois se um jogador tem qualidade e capacidade de trabalho, mais cedo ou mais tarde, explode para o futebol... claro que o treinador pode ajudar, e JJ até pode ser bom nisso, mas e o caso Sidnei, Bruno César, Urreta, entre outros, que vieram como potenciais craques e depois não deram em nada... JJ, nestes casos, é um despotenciador? Também não vou tão longe!

Claro que apesar de tudo isso, o JJ não deixa de ser um bom treinador, teimosia e bazófia aparte, porém, um treinador que não ganha títulos nunca poderá servir para um grande clube para o SL Benfica. O bom-futebol que é praticado é algo relativo, porque daqui a 3 anos ninguém se lembrará que foram os encarnados a praticar o melhor futebol na época 2012/2013, mas sim quem foi o campeão desse ano, quem ganhou a Taça de Portugal e quem ganhou a Liga Europa! Existe um SL Benfica desde 1904 e existirá um SL Benfica pós JJ... pois este técnico não é certamente "a última Coca-Cola do deserto"... existem outros treinadores competentes que merecem uma oportunidade e desde que o plantel seja bom e a estrutura competente, o SL Benfica estará sempre por perto na luta pela vitória. 

As vitórias morais são para perdedores, e o SL Benfica é um clube vencedor. Em tempos recentes o Glorioso também praticou um excelente futebol com Fernando Santos... disputou o título quase até ao fim e estivemos bastante bem na Taça UEFA, sendo de recordar os 2 jogos da breca contra o Boavista e Español, em que a bola "pura e simplesmente" não queria entrar. Claro que o engenheiro é um típico pé-frio, mas e JJ? Também não o é? A Santos não foi dado o benefício da dúvida... porque está a ser dado a JJ com o seu super-plantel? Ainda assim JJ está, de momento, num limbo, e se as primeiras jornadas do campeonato não correrem de feição às Águias é bastante provável que a pressão dos adeptos para o despedimento se torne insuportável! E, do meu ponto de vista, as "chicotadas psicológicas" durante a época desportiva muito raramente dão resultado.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Estado da Nação


Ultimamente pouco tenho escrito no blogue, parte da razão passa pela minha falta de disponibilidade, mas grande parte porque uma pessoa cansa-se de escrever sobre as mesmas questões e problemas. O grande problema de Portugal é, e sempre será (enquanto nada for feito), da sua classe dirigente, completamente desprovida de bom senso, de accountability, capacidade de liderança e de gestão, mas altamente permeável a lobbies, a caciquismos e a comportamentos egoístas de individualismo.

A crise política que se abriu em Portugal não começou com a demissão de Paulo Portas, mas sim com o fracasso da política de recuperação económica engendrada pela troika e pelo governo de coligação de Direita, cuja principal figura era o Ministro das Finanças Vítor Gaspar, cujas previsões económicas foram sempre falhando em toda a linha. Este Governo poderia ter feito algo contra os ditames da troika? Penso que sim! Para já nunca deveria ter sido “mais papista que o papa”, ou seja, a sua vontade de ir para além do memorando só beneficiava a sua linha de pensamento neoliberal a longo prazo, mas colocaria os portugueses, que devem ser tratados como pessoas e não como números, numa situação deplorável! O governo também poderia deixar de lado o comportamento de “cão fiel” da troika, para adotar uma política de renegociação e de afirmação dos direitos de Portugal e dos portugueses, aliando-se ao eixo Itália, Grécia e Espanha.

O governo já estava descredibilizado por inúmeros eventos que ocorreram ao longo nestes 2 anos, do caso TSU ao caso SWAPS, mas principalmente por ter feito o oposto do que estava no seu plano eleitoral e por ter agido de má-fé nos acordos de Concertação Social. A saída de Vítor Gaspar do Governo só vem confirmar que o rumo traçado para Portugal foi um erro colossal. A partir deste momento o Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, teria duas alternativas: (1) pedir a sua demissão ou (2) reconfigurar a política diplomática e económica do país. Ora, Passos arranjou uma 3ª solução... manter tudo como estava, ignorando a situação do país, fazendo progredir Maria Luís Albuquerque para o cargo de Ministra das Finanças.

O centro-democrata Paulo Portas, que andava algo azedado com os mandos e desmandos de Passos/Gaspar e à procura de uma saída airosa do desastre que estava a ser a governação, encontrou a justificação que pretendia para se pirar e assim assumir o fingimento de ser a verdadeira oposição ao Governo… e logo em ano de eleições autárquicas. Foi uma clara tentativa de salvar a sua face e do seu partido perante o eleitorado português, mas o que o líder do CDS-PP não contava era com o debacle da confiança internacional em Portugal com base na sua decisão, mas acima de tudo que Pedro Passos Coelho viesse implorar a sua permanência, cedendo a todos os seus caprichos, e a partir daí, o que era uma decisão irrevogável deixou de o ser!

O Presidente da República Cavaco Silva foi assistindo a isto tudo com a maior das serenidades, sem “tossir ou mugir,” e quando as coisas pareciam ter encontrado um certo equilíbrio na coligação, embora precário, eis que surge um comunicado ao país rejeitando o novo cenário e admitindo eleições antecipadas para 2014, pois agora não dá muito jeito por causa da presença da troika (como se ela fosse realmente embora nessa altura). Quando tínhamos um governo com um novo vice-Primeiro Ministro, encarregue da política económica, e com um novo Ministro da Economia (que chuto levou Álvaro Santos Pereira!), eis que a solução não foi aceite por Cavaco Silva com base na fragilidade da "coisa"... e agora temos um governo que sabe que está a prazo e isso raramente é bom para a estabilidade de qualquer administração, pública ou privada.

Podemos concordar na generalidade com a intervenção do Presidente da República, especialmente na necessidade de congregar os esforços dos 3 partidos do arco do poder, mas também podemos refletir porque é que não se reuniu com os mesmos para discutir o assunto antes de levar a ideia para o país… e deste ponto de vista até se compreende a reação do PS, que preferirá partir para uma solução congregadora após eleições, pois aí terá mais legitimidade e, provavelmente, o comando das operações numa possível coligação. Também nos podemos questionar que esta abordagem vem com 2 anos de atraso, que podia e devia ter sido tentada pelo Presidente da República antes das últimas legislativas, quando o PS e o PSD partiam para a disputa de eleições após a chamada do FMI.

No fundo, Cavaco Silva reagiu tarde demais... e por mais bem intencionada e certa que seja a sua reação, acabou por ser too little too late, levando mais "lenha para a fogueira" da crise. Para além de mais acaba por se demitir novamente de qualquer intervenção direta numa convergência entre partidos, deixando essa questão nas mãos da Assembleia da República!!!! As if...