quinta-feira, 28 de março de 2013

Entrevista de Sócrates à RTP


Sobre o regresso de José Sócrates pouco há a dizer... mostrou novamente os seus dotes de político, uma boa oratória, boa preparação, sem medo do confronto de opiniões e de números, mostrando sobretudo que não aceita ser o "bode expiatório" de quase 30 anos de má ação governativa dos sucessivos governos da República (pós-Bloco Central)... pois é isso que lhe querem apontar, o que faz com que não haja uma verdadeira reflexão sobre o que colocou Portugal no "buraco"... o qual vai sendo aprofundado pelo atual Governo de maioria. Cavaco Silva teve quando tempo na vida política ativa, como governante, neste período? São-lhe assacadas responsabilidades? E bem esteve Sócrates a lembrar o país do caso "Fernando Lima", que continua a ser recompensado pelas patifarias que aprontou na suspeita que lançada das escutas falsas.

É bastante mais fácil para a Opinião Pública recorrer à demagogia ou ao simplismo... e alguns jornalistas também gostam especialmente de exercer esta via, buscando o  populismo fácil, estando sempre do lado de fora e sem querer olhar para dentro, buscando pequenos elementos que pouco interessam ao debate político. Não quero dizer que alguns pontos de vista não estejam certos... mas eles aplicam-se somente ao anterior Governo? Falam-se de políticas públicas como sorvedouro de despesa sem contabilizar os benefícios tangíveis e sobretudo intangíveis que trouxeram à sociedade e à economia? Não compreendo esta forma de estar no jornalismo... sem ir ao âmago da questão. Boa análise fez o Pedro Guerreiro, editor do Jornal de Negócios (ver abaixo).

Tal como Guterres, Sócrates assumiu parte da culpa do estado atual do país, mas sem querer aprofundar em que plano isso sucedeu, o que acabou por ser um erro, pois dá a entender que não acredita realmente naquilo que diz... a marca de um obstinado! É complicado para qualquer político assumir a responsabilidade da situação atual do país, que o digam Cavaco Silva, Durão Barroso e Santana Lopes, ao menos José Sócrates fê-lo, o problema é que creio que não acredita realmente no que diz, e para sermos justos, o antigo Primeiro-Ministro também tem a sua quota-parte de culpa, não tanta como lha querem dar, mas tem... e também é justo dizer que quando pegou no país, já ele estava numa situação complicada, de "tanga" (Durão Barroso dixit), sendo que a crise internacional pôs a nu as nossa fragilidades económicas.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Refundação do Governo

Últimamente têm havido pedidos públicos de remodelação governamental dentro dos partidos de coligação (PSD e CDS-PP). Refere-se ainda que Pedro Passos Coelho se encontra a preparar uma remodelação ministerial para sacudir a pressão social e política de que o seu Governo tem sido alvo.

Para ser sincero creio que é impossível para o Primeiro-Ministro fazer uma remodelação ministerial "à séria", porque isso seria admitir o erro no rumo traçado e apontar novas vias para a resolução da crise económica portuguesa. A remodelação ministerial "à séria" implicaria sempre as saídas de Vítor Gaspar e de Miguel Relvas, os verdadeiros líderes deste Governo, e sendo assim será que Passos Coelho tem a coragem de admitir os erros e mudar de rumo? Terá força para se virar contra os seus mentores? Penso que não. Tudo o resto que fizer não passarão de tentativas vãs para melhorar o status do seu Governo.

Esta crise política faz-me lembrar um pouco a situação do Sporting CP. Apela-se à estabilidade dentro do miserabilismo existente, os bancos escolhem o presidente, neste caso o Ministro das Finanças foi através do Banco Central Europa, na perspetiva que os seus interesses sejam salvaguardados, nem que para isso "se mate a galinha dos ovos de ouro" e se "vendam as jóias da Coroa". Chega a uma altura em que temos de dizer basta... precisamos de uma refundação do Governo! 

Com refundação não quero apenas dizer que devamos ir para eleições escolher uma nova liderança para o país. Devemos ir bem mais além! Os cidadãos devem-se unir e lutar por um novo sistema político-partidário, alterar o nosso modelo democrático, tornando-a mais presente nas nossas vidas e deste modo fomentar a participação cívica, menos representativa e mais direta. Cabe sobretudo aos cidadãos engrenar esta refundação, pressionando e exigindo a mudança para limitar as ideias de "eleitor ignorante" e o "eleitor que ignora".

Relatando uma história pessoal, vinha hoje num autocarro "à pinha"... entretanto entra uma pessoa com o "braço engessado" e ninguém lhe deu o lugar... entretanto, umas senhoras idosas, após oferecerem o lugar a essa pessoa, indignam-se com o facto de nenhuma das pessoas sentadas nos lugares para "inválidos" esboçarem um gesto simples de cidadania, começando a reclamar de "viva voz" com essas pessoas. Eventualmente, uma delas cedeu o lugar. Algumas pessoas, apesar de condenarem a falta de civismo daqueles elementos, pensarão: "Que necessidade tiveram aquelas senhoras de armar confusão para uma coisa tão trivial". Porém, há que dizer que é graças a essas pessoas, as que lutam e reinvidicam, que temos a boa parte e as regalias de viver em sociedade... caso contrário, seria a selva!

sábado, 23 de março de 2013

O que será da seleção nacional

Figura 1- Seleção portuguesa no Europeu de 2012 na Polónia/Ucrânia.
Nos dias que correm a seleção nacional é acusada de ter problemas de atitude, de falta de concentração, de ter um fraco treinador, mas julgo que isso é apenas "poeira que nos é atirada para os olhos que nos impede de ver a totalidade da montanha". Claro que temos mais qualidade que muitas das seleções que defrontamos, e há claramente alguns aspetos referidos que têm de ser melhorados, até porque a percepção da valia atual do futebol português está desajustada e não corresponde à atitude dominadora que normalmente se tem em campo.

Ao contrário do que acontecia há uma década atrás, os craques provenientes das canteras não estão a nascer de forma espontânea e tão profícua, o que deixa o atual selecionador nacional com um campo de recrutamento algo débil. Isso já deveria ter sido avistado pelos dirigentes quando as seleções jovens portuguesas deixaram de ter êxito... e pior, quando deixaram de participar nas grandes competições internacionais! 
Figura 2- Em breve a Seleção Nacional de Portugal terá poucos motivos de festejo.
É necessário entender onde está a raíz do problema, sabendo de antemão que o problema deverá ter várias cambiantes onde se deverá atuar. Do meu ponto de vista os problemas são os seguintes:

1- A falta de aposta no jogador português pelos clubes nacionais nos últimos anos:
  • É um problema de várias décadas e isso nunca impediu o jogador português de surgir. Sempre tivemos muitos jogadores provenientes do Brasil, mas claro que atualmente, especialmente nos clubes maiores, os espaços para surgirem têm minguado. Ultimamente, devido à crise financeira, alguns clubes têm apostado na sua cantera e equipas B e com bons resultados, caso do Vitória de Guimarães;
  • Os clubes grandes, para manter a competitividade internacional, dão pouco espaço de manobra ao surgimento de jovens promessas portuguesas, mas tal facto também se deve ao inflacionamento do jogador nacional por parte dos empresários, que assim preferem colocá-los de forma precipitada no estrangeiro, podendo assim comprometer a sua evolução natural.
2- A falta de competitividade e exigência do futebol de formação em Portugal:
  • Os ricos frutos provenientes das camadas jovens nos anos 90 fizeram os grande clubes ter mais atenção às suas canteras. Iniciou-se um processo de sobre-recrutamento, e a uma idade cada vez mais nova, que fechou portas a um percurso de futebol de rua ou de futebol salão (futsal agora) a muitos jovens. Os clubes menores, alvo do recrutamento dos grandes clubes, foram perdendo competitividade, o que gerou campeonatos jovens cada vez mais desequilibrados, gerando pouca capacidade evolutiva nos mais talentosos, que se acotovelam por um espaço no onze das grandes equipas;
  • O modelo competitivo dos campeonatos de formação geram pouca confrontação entre os melhores clubes, que de goleada em goleada chegam à fase final, que se finaliza ao fim de poucos jogos, aumento enormemente o período não-competitivo dos jovens atletas. Há pouca confrontação entre atletas mais jovens e talentosos contra atletas mais velhos, prevalecendo muitas vezes a preferência entre os jogadores fisicamente mais desenvolvidos, ao invés dos técnicamente mais aptos.
3- Diminuto campo de recrutamento de jovens jogadores:
  • O facto de termos uma área de recrutamento menor relativamente a outros países nunca impediu de termos grande craques no futebol, mas o que é certo é que a escassa natalidade e a emigração fazem reduzir a juventude portuguesa a números alarmantes;
  • Portugal nunca teve uma cultura desportiva a sério... em Espanha, nos Balcãs, na Alemanha há muito incentivo ao desporto escolar, sendo raro o (a) jovem que não pratique qualquer tipo de desporto. Isto vai passando também para as fases de vida seguintes na vida de um cidadão, promovendo um modo de vida mais saudável e social. Isto é agravado com o neo-protecionismo parental que pretende evitar ao máximo que as crianças brinquem na rua, incentivando uma vida sedentária desde tenra idade, em volta dos gadgets e jogos de computador.
Penso que é urgente pensar no futebol português e atuar nos vários campos em que se pode atuar, tal como fez a Alemanha há uns anos atrás, aquando de uma crise futebolística idêntica e cujos frutos estão a ser colhidos agora. Temos que reformular a nossa ideia de jogo para uma maior modéstia na abordagem aos adversários e saber preparar o mau período que se avizinha, devendo-se apostar na juventude para que no futuro ela esteja mais preparada para os desafios. Porém, é essencial que a curto prazo nos apuremos para o Mundial de 2014 no Brasil... seria imperdoável não estarmos presentes nesta competição que se realiza no nosso "país irmão".

sexta-feira, 22 de março de 2013

Será que vai mesmo chumbar?

































O semanário Sol noticia que o Tribunal Constitucional deverá chumbar o Orçamento de Estado de 2013 apresentado pelo Governo de maioria. A ser verdade, o Governo liderado pelo PSD/CDS-PP só terá uma saída... o pedido de demissão. Aliás será sempre uma boa desculpa para estes governantes fazerem uma saída airosa, especialmente após estes anos em que estiveram francamente mal à frente dos destinos do país.

A possível demissão do Governo deverá desencadear um novo processo eleitoral, e creio que os partidos do arco de governação, desde que excluídos os atuais líderes do PSD e CDS-PP (Passos Coelho/Miguel Relvas e Paulo Portas), deverão finalmente formar um bloco central para proceder à recuperação económica do país, e é neste sentido que o Presidente da República deverá agir... um papel importante em que não pode falhar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sócrates, o filósofo comentador

O país internauta anda de petição em petição para impedir que José Sócrates se torne um comentador político da RTP. Desta ação facebookiana acho 2 coisas:

1- Acusam o homem de ter fugido para França para se esconder, e agora que parece querer voltar, em pro bono, para esclarecer o seu período governativo e outras questões da atualidade, as pessoas parecem estar contra... é isto um contra-senso?

2- Alguns portugueses não perceberam definitivamente que o problema atual do país não se deve a um período que se iniciou e acabou com José Sócrates, mas numa sequência de governos (desde Cavaco Silva até ao atual) que simplesmente não souberam promover a competitividade e produtividade neste país, especialmente aqueles que dispuseram de um período de "vacas gordas", em que tinham margem de manobra mais que suficiente para inverter aquilo que veio a ser a norma portuguesa, ou seja, défices atrás de défices e um crescimento económico constantemente débil.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Belmiro de Azevedo e a mão-de-obra


1- Belmiro é o protótipo de empresário português, preso no passado, pensa que pode competir num mundo globalizado, que tem a China, a Índia, a Indonésia, entre outros, através do factor "preço mais baixo"... isto mostra bem como tem de haver uma remodelação dos empresários nacionais, mais jovens, com outra mentalidade, em que a inovação, qualidade e branding não sejam palavras ocas;
2- Belmiro achará que Portugal fez mal em abolir a escravatura... pois deste modo haveria 0% de desemprego em Portugal. O que interessa é proteger os detentores dos meios de produção, nem que se sacrifique os detentores da força de trabalho (não me levem a mal a conversa marxista, mas para um discurso antigo, utilizam-se conceitos antigos).
Figura 1- Belmiro aguarda furioso que o seu "empregado" pessoal lhe traga o café e a merenda.
Arménio Carlos, líder da CGTP, relativamente às declarações de Belmiro, afirmou: "Já percebo porque é que é o terceiro homem mais rico do País. A inteligência é só dele e o resto é só suor e neste caso exploração.". Ui!

O Laboratório cipriota

A ideia de taxar os depósitos bancários cipriotas em troca da ajuda da troika morreu sem paternidade. Porém, uma coisa é certa, o Governo do Chipre estava disposto a avançar com a medida e a troika deu o seu aval. 

Isto só mostra que a competência e o bom senso, como diz muito bem o nosso Presidente da República, não grassa entre os líderes europeus atuais, pois só o anúncio da medida provocou o caos bolsista e a desconfiança mundial relativamente aos sistemas bancários na União Europeia, havendo um temor da repetição da medida nos restantes países alvo de assistência financeira. 

A medida que foi travada pelo parlamento cipriota destinava-se sobretudo aos grandes depositantes russos e gregos que procuravam, através do Chipre, escapar à malha fiscal, colocando o seu dinheiro num paraíso fiscal. Porém, acabaria por ser um saque ao povo cipriota, também abrangido pela medida, que veria o Estado, a mando do FMI e UE, ir-lhe ao bolso sem o seu consentimento. Para evitar a corrida aos depósitos, foi vedado  às pessoas a possibilidade de poderem levantar o seu dinheiro, pois, se tal fosse efetivado, criaria um colapso do sistema financeiro, pois nenhum banco contém todo o dinheiro que supostamente está refletido nos saldos de cada depositante.

terça-feira, 19 de março de 2013

Quo vadis Governo?

O que é que vem depois do reconhecimento deste Governo e da troika de que as políticas adoptadas têm falhado em toda a linha? Que as previsões macroeconómicas para o nosso país caem sistematicamente uma após a outra? Estou curioso de saber se a mesma receita vai continuar a ser seguida, enterrando o país cada vez mais neste abismo recessivo que gera desemprego e emigração... paralelamente a pauperização da Administração Pública continua a todo o vapor, piorando a gestão e o serviço público aos cidadãos e às empresas.

A troika acusa o governo de não ter seguido o memorando como deveriam... o PSD vira agora as costas ao memorando, dizendo que a culpa é de José Sócrates... e que costas largas tem o agora estudante de Filosofia, até parece que esta ação governativa não estava já planeada no programa de governo desta malta do PSD, que: empurrou o anterior governo para o pedido de ajuda externo; apoiou o memorando desde o primeiro momento e quis ir mais além; rejeitou sempre renegociar a dívida; e a fazer alianças estratégicas com os países em dificuldades para fazer face à troika. Aguardemos cenas dos próximos capítulos, e espero pelas movimentações do CDS-PP, cuja desmarcação política é das melhores do país!  

sexta-feira, 15 de março de 2013

Tal como o anterior...

Desde o dia em que se anunciou o nome do novo papa, a imprensa e a opinião pública têm dado a Jorge Bergoglio enormes elogios, especialmente pela sua humildade, simplicidade e forte carácter. Os media consideraram a sua nomeação pelos cardeais uma completa surpresa, isto apesar de no último conclave ter "disputado" o papado à última com Joseph Ratzinger (Bento XVI). Enfatizou-se o fato de ser sul-americano (argentino) e de se ter atribuído o nome Francisco (a partir de Francisco de Assis, um monge que advogava uma vida religiosa de pobreza), o que anuncia que a Igreja se prepara para fazer algumas reformas importantes. 

O senão, pois há sempre um senão para a imprensa, é que Francisco I é também da ala conservadora do Vaticano, ou seja, contra o casamento e adoção homossexual, o uso de preservativo e a prática do aborto em qualquer situação... mas aí pergunto-me, existe uma ala liberal no Vaticano que seja a favor destas questões? Algum sacerdote católico chega a cardeal defendendo ideias deste género? Jorge Bergoglio, no passado, foi mais longe ao atacar os governos argentinos de Nestor e Cristina Kirchner, por entre outras coisas, legalizar o casamento homossexual, imiscuindo-se em assuntos políticos, tal como o acusam de o ter feito no passado, quando na década de 70, durante a ditadura militar, terá denunciado 2 padres jesuítas que supostamente teriam ligações com grupos de esquerda.

O cargo de papa traz uma grande responsabilidade para Bergoglio, e claro que tem o direito à sua opinião, mas esperemos que não faça retornar a Igreja ao passado com um extremar de posições, mas que se concentre antes nas reformas internas que entender  necessárias na estrutura de Igreja, deixando os Estados libertar a sociedade das amarras de um construto social e cultural retrógrado, para que então os indivíduos possam tomar as suas próprias decisões em consciência, com plena liberdade e equidade.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chavez

Ao contrário da maioria das pessoas, não tenho uma posição definida acerca de Hugo Chavez... uns chamam-lhe demagogo, outros sonhador, uns ditador, outros libertador, depende sempre do contexto em que a pessoa está situada em termos geográficos, ideológicos e sócioeconómicos. Porém, acho uma certa piada a qualquer europeu que faz um julgamento célere de certas personalidades sul-americanas com um ponto de vista puramente norte/ocidental... sem entender a cultura e o contexto socioeconómico daquelas sociedades.

Hugo Chavez foi concerteza uma personagem de rutura, se calhar a maior deste século, especialmente contra a Doutrina Monroe (aliada ao Manifesto Destino), que fazia da América Latina um protetorado dos EUA, não se coibindo de intervir militarmente e económicamente quando achasse necessário proteger os seus interesses. A partir de Chavez, foram surgindo outros governos latino-americanos de cariz socialista, como Lula da Silva no Brasil, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega da Nicarágua, entre outros, contando também com a aliada Argentina, sob a liderança de Cristina Kirchner.

O líder da nova "Revolução Bolivariana" chegou ao poder através de eleições legislativas em 1998, porém no passado, liderou um golpe de Estado em 1992 contra Carlos Andrès Perez, que acabou mal sucedido. As suas campanhas eleitorais centraram-se sempre no combate à extrema pobreza, na qual o maioria do povo se encontrava e se encontra "mergulhado", havendo uma grande desigualdade social e altos níveis de criminalidade, apesar do país ter abundantes riquezas naturais, como o petróleo e o gás natural, em mãos estado-unidenses até à chegada de Chavez ao poder. As suas políticas sociais colheram grande popularidade entre os mais pobres e entre as populações indígenas, valendo-lhe as reeleições em 2000 e 2006, isto apesar das críticas de má gestão e abuso de poder por parte da oposição. Mas é preciso reconhecer, apesar de poder não haver sustentabilidade nas políticas de Chavez, baseadas na centralização e nacionalização das áreas económicas pelo Estado, que a pobreza extrema na Venezuela desceu de 49,4% da população para 27,8%.

O carismático líder venezuelano percebeu rapidamente que as suas lutas anti-imperialistas e anti-neoliberais não se fariam através do isolamento da Venezuela da América Latina e do mundo. Utilizando o poder dos seus recursos naturais pugnou pela cooperação e integração dos povos da América, criando a ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos), uma plataforma de cooperação internacional baseada na ideia da integração social, política e económica entre os países da América Latina e Caraíbas. Lutou pela criação de um sistema que remasse em sentido contrário ao FMI e Banco Mundial, controlados pelo norte/ocidente, para assim ver a América latina livre dos seus ditames ideológicos.

Em 2000 a Assembleia Nacional aprovou a "Lei Habilitante", através da qual o presidente poderia governar por decreto durante 1 ano, sem passar pela referida Assembleia Nacional, um "duro golpe" no sistema democrático representantivo. Durante esse período Hugo Chavez promulgou quase 5 dezenas de decretos, alguns deles centralizando o poder do Estado na economia, o que gerou grande contestação social, especialmente pelo temor da transformação da Venezuela numa ditadura.
O descontentamento começou a atingir alguns setores do exército e no dia 12 de abril, após violentos confrontos entre manifestantes de ambas as fações, o general Lucas Rincón, chefe das Forças Armadas, anunciou que Chávez se tinha demitido, tendo o presidente da Fedecámaras, Pedro Carmona, assumido a presidência da República, algo que Chavez refutou na ilha de La Orchila, onde se encontrava detido, dizendo: "No he renunciado al poder legítimo que el pueblo me dio". Carmona dissolveu a Assembleia, o poder judicial e atribuiu a si próprio poderes extraordinários, declarando publicamente que no prazo de 1 ano se celebrariam novas eleições presidenciais e legislativas. Contudo, logo se fizeram grandes levantamentos populares em prol de Hugo Chavez, e tropas fiéis ao presidente lougraram um contra golpe de Estado com sucesso, recolocando-o no poder. Alguma imprensa local mencionou que vários integrantes do governo dos EUA vinham mantendo contactos frequentes com diversos líderes golpistas, algo negado pelo governo norte-americano. O governo de Chávez, meses depois do golpe, alegou que os EUA apoiaram o golpe de estado, afirmando que os radares do país detectaram a presença de navios e aviões militares americanos em território venezuelano nos dias do golpe.

No final de 2003, a coligação Coordenadora Democrática organizou uma recolha de assinaturas com o propósito de convocar uma consulta popular na qual os venezuelanos se pronunciariam sobre a permanência ou não de Hugo Chávez no poder. O referendo teve lugar em 2004, sendo que 58,25% dos votantes apoiaram a permanência de Chavez na presidência até ao fim do mandato. Apesar das alegações de fraude eleitoral por parte da oposição, os observadores internacionais presentes no processo consideraram que o referendo ocorreu dentro da normalidade e legalidade. As vitórias eleitorais nem sempre "sorriram" a Chavez, pois em 2007 a proposta de reforma à constituição da Venezuela foi submetida a referendo, tendo sido rejeitada por 50% dos votos, algo que foi respeitado por Hugo Chávez, dizendo: "Parabenizo os meus adversários por esta vitória. Deste momento em diante, vamos manter a calma" (…) "Não há ditadura aqui (…)".

Apesar da imensa riqueza natural do país, a Venezuela continua a ser um país em que a maioria da sua população vive na pobreza, existindo enormes desigualdades sociais. A população extremamente pobre tem vindo a diminuir e as populações em geral tem vindo a aumentar a sua renda, porém, a riqueza continua muito mal distribuída, situada nas "mãos" de uma pequena elite. As exportações do país concentram-se sobretudo nas riquezas naturais, que têm reservas limitadas... urge desenvolver o país económicamente, mas isso terá de ser feito obrigatóriamente e em paralelo com um desenvolvimento social, o que pode demorar vários anos a atingir. Não sabemos se seria este o rumo da Venezuela de Chavez, ou se seria apenas mais uma ditadura carismática sul-americana, o que é certo é que este regime dificilmente sobreviverá com a morte do seu líder, tão aclamado pelo seu povo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Sara Moreira, a campeã

Sara Moreira sagrou-se neste fim de semana campeã europeia de Atletismo nos 3.000m em pista coberta, um evento realizado em Gotemburgo (Suécia). É uma atleta que nos últimos anos nos têm dados vários motivos de orgulho, tendo ganho a medalha de prata na mesma distância nos Europeus de pista coberta em Turim (2009), também obteve o 2º posto nos 5.000m no Campeonato da Europa em Barcelona ao ar-livre (2010) e a medalha de bronze nos 5.000m no Europeu de Helsínquia ao ar-livre (2012). Muitos parabéns por esta conquista e esperemos que no futuro nos possas trazer a glória olímpica!

domingo, 3 de março de 2013

O irredutível Seguro

Nos últimos meses tem sido discutido e anunciado pela imprensa que o Secretário-Geral do PS mostra-se irredutível em reunir-se com o Governo para discutir como se irão fazer os cortes de 4 mil milhões no Orçamento do Estado.

A mensagem que passa cá para fora é de uma intransigência do PS em discutir com o Governo uma eventual Reforma do Estado, não querendo assumir as responsabilidades perante a Opinião Pública. Deste modo, o Governo PSD/CDS-PP vai conseguindo levar alguma da "água ao seu moinho, dando uma imagem de António José Seguro de não comprometimento com a resolução dos reais problemas do país. O líder socialista tem de conseguir passar a mensagem que o problema não está na sua irredutibilidade, mas na irredutibilidade dos outros, pois apenas querem discutir a Reforma do Estado de uma forma meramente economicista e seguindo a mesma fórmula que tem atraído o país para uma espiral recessiva. A ideia que deveria ser passada nos media é que a discussão sobre uma eventual Reforma do Estado contará com o PS desde que não tenha à partida os enormes e intransigentes condicionalismos propostos pelo Governo. O discurso socialista até tem sido este, mas o problema é fazê-lo chegar aos intermediários (media), que por sua vez o dão aos destinatários (portugueses).

Figura 2- Manifestação de 2 de Março.
O que vale ao secretário-geral socialista é que os anticorpos a este Governo já estão altamente ativos na sociedade portuguesa, visíveis novamente pela manifestação de ontem (2 de Março), pelo que qualquer dissociação do governo ou do ato governativo, mesmo em discussões em prol das necessárias reformas que devem existir no país, acaba por ser bem apercebida pela Opinião Pública. O estratagema tem sido utilizado por alguns candidatos às autarquicas do PSD, "afastando-se do barco"... caso de Moita Flores, para dar um exemplo.