terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Querido líder!

De acordo com as notícias que saem da Coreia do Norte, os coreanos estão lavados em lágrimas, desolados pela morte do seu "Querido Líder"... sem saber como irão conseguir sobreviver sem o tirano! "Mas não há razões para temer", dizem os órgãos de comunicação social norte-coreanos, o filho da mulher preferida de Kim Jong-Il, Kim Jong-Un, fará as delícias do povo... ou não! O mundo ocidental, por outro lado, vibra com a notícia, pois vê uma ténue hipótese de quebrar o último grande muro que ainda resta da "Guerra Fria", o do paralelo 38, resolvendo questões diplomáticas graves relativamente a um possível conflito militar que pudesse advir da política belicista do "Querido Líder".

O início da História da Coreia tem por base uma lenda do século XIII que refere a existência de um proto-estado do Calcolítico na zona actual da Península e parte Nordeste da China, o reino Gojoseon fundado por Dangun Wanggeom, o "neto dos céus", com capital na área de Pyongyang. O Reino perdurou até 108 aC, quando foi invadido pelos chineses da Dinastia Han, formando na área a norte os "4 Comandos de Han", que foram caindo, até restar o Comando Lelang, que só viria a cair em 313 dC. Esse tempo ficou conhecido como o "Período dos Vários Estados", em que no restante território da península coreana se foram formando e caindo diversos Reinos, estabilizando no "Período dos 3 Reinos". Os 3 Reinos da Coreia eram Goguryeo, Silla e Baekje, que rivalizavam e aliavam-se entre si, através de conflitos militares, pelo controlo da península. O primeiro reino referido, Goguryeo, era o mais poderoso e entrava em conflitos periódicos com a Dinastia Tang da China, ficando na zona Norte da Península, já Baekje situava-se na zona Sudoeste, concentrando-se em torno da actual Seul, por fim, o reino Silla era o mais recente, situando-se no Sudeste da península. Porém em 660 dC, o rei Muyeol de Silla  formou uma aliança com a Dinastia Tang e conquistou Baekje. No ano seguinte, a coligação, atacou infrutíferamente Goguryeo, que só viria a cair na campanha de 667, unificando quase toda a península sob o jugo de Silla.

No século IX o reino de Silla passou por tumultos sociais que ajudaram à sua queda. No reino vigorava um sistema de classes (bone rank, com 5 níveis), em que os cargos governamentais eram transmitidos por via hereditária, um sistema que a família real utilizava para dominar politicamente o reino, mantendo o poder dentro do seu sangue ou do seu circulo social, a alta nobreza. A nobreza local, hojok, formaram exércitos próprios, o que lhes deu algum poder para questionar o poder central e estabelecer poderes regionais autónomos. A cisão tomou contornos mais graves a partir de 2 eventos: (1) a crise sucessória ao trono, com a morte do rei Hyegong; (2) a revolta campesina de 889, devido aos elevados impostos que a Coroa e os Nobres tributavam. Silla tornou-se nos 100 anos seguintes um reino muito instável, com revoltas e golpes de Estado. No ano de 900 um antigo general de Silla, Gyeon Hwon, liderou tropas rebeldes na conquista de regiões no Sudoeste e no cerco à capita Mujinju, declarando-se posteriormente rei de Hubaekje, que pegará no legado do antigo reino de Baekje. Outro nobre dissidente de Silla, Gung Ye, formaria, pela força, o reino de Hugoguryeo (mais tarde Majin) em 904, formando uma nova tríade de reinos rivais.

Com as sucessivas conquistas, o reino Majin torna-se na potência militar da região, conquistando 3/4 da península, e Gung Ye torna-se num líder cada vez mais déspota, denominando-se Maitreya Buddha, fundido o poder político com o religioso. O general Wanggeon lidera uma revolta em 918 que o retira do poder, formando uma nova dinastia, denominada Goryeo, que se dizia descendente do antigo reino de Goguryeo. A fragilidade de Silla foi aproveitada por Hubaekje e Goryeo, disputando o seu território e rivalizando entre si, mas em 935 o rei Gyeongsun rende-se a Goryeo, aproveitando um momento de conflitos internos em Hubaekje, aquando da sucessão de Gyeon Hwon, que havia nomeado o seu filho mais novo, Geumgang, como o herdeiro do reino, o que originou uma revolta dos seus filhos mais velhos (de uma esposa anterior), com um golpe de estado que colocou Singeom, o filho mais velho, no trono, desterrando o seu pai num templo Geumsan, que por sua vez não tardou em escapar e juntar-se a Goryeo.

Goryeo tornou-se no reino dominante, conquistando Hubaekje em 936, reunificando a península e governando-a do século X até aos finais do século XIV. Neste período surgem códigos legislativos, uma Administração Pública, um forte desenvolvimento "industrial", o Budismo espalha-se por todo o território, apesar de conflitos com os confucionistas. As invasões mongóis do século XIII causaram alguma desrupção no reino, mas foi conseguida uma certa autonomia com a assinatura de um tratado de paz que o colocaria como um reino vassalo da dinastia mongol Yuan da China.

Em 1392, através de um golpe de estado, forma-se a dinastia Joseon (em honra de Gojoseon, "velho" Joseon), aproveitando a desintegração do império Mongol e o surgimento da dinastia Ming na China. A China dos Ming enviou a Goryeo em 1388 uma mensagem a exigir a devolução de parte do território do Norte de Goryeo. O general Choe, que fora suportado pela dinastia Yuan, entendeu a mensagem como uma declaração de guerra e atacou  a península de Liaodong, um território que faria parte do antigo reino de Goguryeo, tendo escolhido o general Yi Seong-gye para essa tarefa. Porém, Yi revolta-se e destrona o rei U em favor do seu filho Chang, mas mais tarde, devido a um contra-golpe, coloca Gongyang no trono, mas por um breve periodo, até ele próprio assumir a liderança de Goryeo, tornando-se no rei Taejo, eliminando os aristocratas leais aos reis anteriores, renomeando o reino como Grande Joseon, movendo a capital para Hanyang (actual Seul), onde construiu o palácio Gyeongbokgung, e formando a dinastia Joseon que durou 5 séculos.

Em 1394 o confuncionismo é adoptado como a religião oficial do reino, o que limitou a expansão do budismo. Com o rei Sejong o Grande o reino atravessou um período de grande prosperidade e inovação cultural e tecnológica, tendo sido promulgado o hangul, o alfabeto coreano. Contudo, nos séculos XVI e XVI a dinastia foi sendo enfraquecida pelas invasões do Japão (entre 1592 e 1598), da dinastia Qing da China e da Manchúria, levando a uma política isolacionista do reino, exacerbada também pelo medo do imperialismo ocidental, ficando conhecido como o "Reino Eremita". Depois das invasões da Manchúria, Joseon conheceu um período de 200 anos de paz. No século XIX, conflitos internos e a pressão internacional levou ao fim da dinastia Joseon, sob o jugo colonial japonês.

O Japão, depois da restauração Meiji, adquiriu tecnologia militar proveniente do Ocidente, e com essa vantagem forçou Joseon a assinar o Tratado de Ganghwa em 1876, abrindo os seus portos para o comércio e acabando com o protectorado chinês do Reino. Em 1894 assistiu-se à Revolta Campesina de Donghak, em que os camponeses, liderados por Jeon Bong-jun, derrotaram as força do líder local, Jo Byong-gap, na batalha de Go-bu, cujos bens foram distribuidos pelos camponeses. A incursão do exército campesino continuou, chegando até Jeonju, altura em que o governo de Joseon pediu ajuda à Dinastia Qing para debelar a revolta, tendo sido enviados 3.000 homens que forçaram os rebeldes a assinar as tréguas. Os japoneses consideraram a presença chinesa na península uma afronta e enviaram 8.000 homens para a região, tomando Seul e colocando um governo "fantoche" pró-japonês à frente do reino em 1894, o que deu origem à 1ª Guerra Sino-Japonesa, travada na Coreia. A imperatriz Myeongseong havia tentado combater a interferência japonesa na Coreia, pedindo apoio à China e à Russia, e deste modo é assassinada em 1895 por espiões nipónicos, orquestrado pelo Ministro japonês para a Coreia, Miura Goro.

A Dinastia Qing deu-se por derrotada no Tratado de Shimonoseki (1895), que garantia a independência da Coreia da China e uma hegemonia nipónica na região. Para reforçar o nacionalismo e integridade do reino, o imperador Gojong forma o Império da Coreia em 1897, um curto período em que se procurou desenvolver o país economicamente e tecnologicamente através de contactos com a Rússia. Em 1904 deflagra a guerra Russo-Japonesa sobre a Coreia, que termina com a vitória nipónica na batalha naval de Port Arthur em 1905, à qual se seguiu o Tratado de Portsmouth. O Japão ganha um maior domínio sobre a Coreia, tornando-a num protectorado pelo Tratado de Eulsa (1905), para a qual foi nomeado governador Ito Hirobumi, que acabaria por morrer assassinato pelo independentista coreano An Jung-geun em 1909. O imperador Gwangmu foi obrigado a abdicar do trono em 1907 em favor do seu filho, Sunjong, que se tornaria no segundo e último imperador da Coreia. Em 1910 o Império da Coreia foi anexado pelo Japão, por força do Tratado de Anexação Japão-Coreia, iniciando um período de domínio colonial nipónico de 35 anos.

A derrota japonesa na 2ª Grande Guerra pelos aliados, fez dividir o território coreano por 2 zonas de influência, durante a "Guerra Fria". Em 1945 os japoneses foram expulsos da Coreia pela guerrilha liderada por Kim Il-sung, apoiada pela URSS, ocupando quase toda a península, à excepção de Pusan, ocupada pelas forças americanas. O comité provisório popular da Coreia do Norte elaborou uma reforma agrária, abolindo a propriedade feudal, nacionalizou indústrias e a banca, proclamou a igualdade dos sexos e elaborou uma campanha de alfabetização. Em 1948 a Assembleia popular proclama a República Popular Democrática da Coreia, com capital em Pyongyang.

A Coreia do Norte, não reconhecendo legitimidade à República da Coreia e após a realização de eleições legislativas nesse território, tentou unificar o país avançando para Sul, nas zona dominada pelos americanos. O boicote da URSS ao Conselho de Segurança das Nações Unidas permitiram ao EUA considerar a Coreia do Norte como agressor e de fazer votar nas Nações Unidas uma acção militar contra a Coreia do Norte. Em Outubro 1950, os EUA invadiram a Coreia, que se encontrava apoiada pela China e URSS, dando origem a um confronto que duraria por 3 anos, até à assinatura do armistício de Panmunjeon, criando uma zona desmilitarizada, o paralelo 38, com influência soviética a Norte, e influência americana a Sul, formando-se dois países divididos que se proclamam como os herdeiros legítimos da nação coreana, faltando ainda a assinatura de um acordo de paz. Seguiram-se ligeiros confrontos fronteiriços e tentativas de assassinato a líderes sul-coreanos, como o atentado de Rangoon, em 1983, ao presidente Chun Doo-hwan, até que em 1976, a morte de dois militares americanos na zona  desmilitarizada da Coreia, que terão sido ordenados por Kim Jong-Il, filho de Kim Il-sung, que deu origem à operação Paul Bunyan que quase fez escalar um conflito de maior envergadura entre os dois blocos.

No Norte formou-se um regime à imagem da URSS, de ideologia comunista, monopartidário (Partido dos Trabalhadores Coreanos), totalitário e com um forte culto à personalidade. O governo de Kim Il-sung, o Presidente Eterno, adoptou a ideologia Juche, de auto-subsistência, identificando a população coreana como o verdadeiro motor do desenvolvimento do país. A crise petrolífera dos anos 70 mergulhou o país numa crise profunda, que veio a ser agravada pelo colapso da URSS e por uma série de desastres naturais, provocando um grave problema de alimentar, o que causou a morte de 900.000 a 2.000.000 de pessoas.

Na Coreia do Sul, sob um apertado controlo militar americano, o país viveu um período autoritário e ditatorial de direita, liderado por Syngman Rhee, que liderou o país até à revolta estudantil de 1960. Seguiu-se um período de instabilidade política, que terminou com o golpe militar do general Park Chung-hee, assumindo o controlo do país através de uma ditadura militar até ao seu assassinato em 1979. Seguiu-se outro golpe de Estado pelo general Chun Doo-hwan, que fez vigoral a lei marcial e reprimiu qualquer oposição ao seu poder, apesar dos protestos da população a favor da Democracia, como aqueles que ocorreram em Gwangju, fortemente reprimidos. A liderança despótica de Chun terminou em 1987, após um enorme levantamento popular contra o Governo após a tortura e assassinato de um jovem estudante universitário, originando eleições directas para a presidência, que foram ganhas à tangente por Roh Tae-woo, pertencente ao partido de Chun.
Figura 1- Cartaz de Propaganda norte-coreano.
Nos anos 90 a Coreia do Sul fez a transição para uma Democracia Liberal, no Norte, com a morte de Kim Il-sung (1994), seguiu-se uma transição para uma monarquia absolutista, passando o poder hereditariamente para Kim Jong-il, que segue a mesma linha isolacionista, secretista e belicista, adoptando a songun, uma política militar de modo a fortalecer o país e o seu governo, sendo o Estado mais militarizado do mundo, com um programa de armas nucleares que tem originado conflitos com a comunidade internacional, nomeadamente com os EUA. Entretanto, no fim dos anos 90, as Coreias adoptam a "Política do Amanhecer" numa cimeira em Pyongyang, com vista à aproximação dos dois Estados.

O armistício viria a ser interrompido em Maio de 2009 pela Coreia do Norte, quando a Coreia do Sul anunciou a adesão ao programa de "Iniciativa de Segurança contra a Proliferação", criada pelos EUA para impedir o tráfico mundial de armas de destruição massiva. A Coreia do Norte prosseguiria o seu programa de enriquecimento de urânio apesar da sanções da comunidade internacional, que a vê como um barril de pólvora prestes a explodir. Porém, com a morte de Kim Jong-Il abre-se uma janela de esperança relativamente ao futuro da península coreana, esperando-se Kim Jong-Un, o "grande sucessor", se desvie da linha seguida pelo pai por uma de convergência com a comunidade internacional e de uma progressiva unificação com a sua vizinha do Sul, algo que será sempre limitado pela China. No fundo são a mesma nação, divididas por uma guerra fria moribunda e ideologicamente falida, que partilham a mesma identidade, cultura e língua.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O atirar da toalha ao chão!

O país precisa de um líder que tenha confiança no futuro, que acredite nas soluções que possam sair do seu Governo para dar a volta ao país... sugerir a certos profissionais qualificados a saída do país como solução, num momento em que precisamos de população activa com habilitações, jovem, com espírito crítico e massa cinzenta, que possa contribuir para o aumento da produtividade, do empreendorismo e para a sustentabilidade da Segurança Social é desacreditar o seu projecto governativo para Portugal.

Por falar em Segurança Social, é confrangedor a falta de soluções deste Governo no sentido de impedir uma enorme injustiça inter-geracional! Todos sabemos que a solução não é fácil... requer medidas difíceis e "ginasticadas", mas colocar nos ombros de uma geração, a que iniciou a sua actividade à cerca de 10/15 anos atrás, todo o peso da resolução deste problema é de uma injustiça atroz e de uma falta de imaginação tremenda. Segundo Passos Coelho, essa geração terá de fazer uma boa poupança, continuar a contribuir bastante com os seus recursos para a Segurança Social, para no futuro receber cerca de metade do que os actuais pensionistas recebem. Vamos lá a puxar pela cabeça e colocar todos os portugueses a contribuir para a solução deste problema, que na minha opinião passará sempre pelo combate à evasão fiscal, pelo corte cirúrgico de pensões, e pela consignação temporária de boa parte da actual receita do Estado sobre o consumo, entre outras medidas, como fomentar a reconversão profissional, o aumento da população activa e do emprego.

Sic Noticias

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Público: "Ambientalistas dizem que o acordo de Durban é um fracasso”

http://www.publico.pt/Mundo/reaccoes-ao-acordo-de-durban-1524614

O entendimento alcançado na conferência de Durban, África do Sul, foi “significativo” para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, um “enorme sucesso” para os britânicos e “um passo em frente” para Assunção Cristas. Mas as organizações ambientalistas falam em “fracasso” e “falta de ambição”.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sol: "OCDE coloca Portugal entre os países com maiores desigualdades"

Na minha mente não há a mínima dúvida que existe desigualdade na sociedade portuguesa... mas quando um organismo internacional como a OCDE o afirma é porque temos que dar atenção a este problema e tentar combatê-lo rapidamente, especialmente neste período em que se exigem sacrifícios à população portuguesa, caso contrário colocamos a nossa coesão nacional em risco. O problema é que este governo, tal como os anteriores, não parece "querer dar volta ao texto", pressionado por poderosos grupos de pressão para manter o status quo... esta crise continua a "cair nos ombros" de quem trabalha por conta de outrém, especialmente aqueles que não têm a mínima hipótese de escapar ao controlo fiscal, nos quais se incluem os funcionários públicos.

Não se trata apenas do favorecimento fiscal que se dá à banca, ou a conivência com a existência de um paraíso fiscal "à porta de casa", ou com a falta de combate à economia subterrânea, que se estima que signifique cerca de 20% do nosso PIB, ou ainda da protecção feita às grandes fortunas, ou das receitas ridículas que o Estado recebe de IRC, em que 10% do seu total provém somente da EDP (!!!!!)... mas é disto tudo combinado  e da falta de medidas de combate à evasão fiscal. 
Já se sabe que existem mais pessoas a "comerem" do Estado, do que a darem ao Estado... mas o problema não se esgota no progressivo desemprego e envelhecimento da população, mas no facto de muita da população activa e das empresas nacionais fugirem aos impostos e, quiçá, requerem, ainda por cima, subsídios para subsistirem. O IVA é de longe o imposto que mais receita dá ao Estado, seguido pelo IRS, numa proporção algo anormal quando comparada com os restantes países da União Europeia. Para quando, tal como se faz em quase todos os Estados civilizados, o levantamento do sigilo bancário ou o cruzamento de informações entre o IMI e o IRS? Seriam 2 enormes medidas para uma reforma fiscal cada vez mais indispensável, que permitiria apanhar aqueles individuos que pouco declaram em termos de rendimento, mas que dispõem de uma vida desafogada em termos de bens materiais (casas e veículos), e permitiria dissuadir "aldrabices" nas declarações de IRS, possibilitando um aumento significativo desta receita estatal.

O sistema actual faz com que o  grande esforço de "pagamento" da crise seja colocado apenas numa camada da população, cada vez mais minoritária, em favorecimento das camadas que estão por cima e que estão por baixo... se tal é compreensível para estas últimas, pela falta de recursos para a sua subsistência, para as classes de cima começa a ser algo de criminoso... se o esforço fosse mais repartido, porventura, os sacrifícios seriam menores para a classe média e mais justos socialmente, logo tornar-se-iam mais suportáveis não só materialmente, mas em termos psicológicos.

Richard Wilkinson, numa aparição ao programa TED Talks com o tema "How economic inequality harms societies", estabelece uma ligação entre o bem-estar social e individual (segurança, felicidade, esperança média de vida, saúde, sucesso escolar...) e a equidade que existe num país, nomeadamente ao nível de rendimentos. O investigador britânico através de dados estatísticos sustenta que para diminuir os problemas sociais de um país é verdadeiramente necessário evitar grandes diferenças de rendimento, redistribuindo eficazmente a riqueza... e quem melhor do que o Estado para fazer exactamente isso através do seu poder fiscal e das políticas públicas de âmbito social? Mas parece que a corrente neste país vai em sentido oposto...
Figura 2- Palestra de Richard Wilkinson sobre a Desigualdade Social.

PS- Reparem, no vídeo, onde está situado Portugal nos vários elementos estatísticos apresentados por Wilkinson.



Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, com um fosso acentuado na distribuição dos rendimentos, e o mais desigual entre as economias europeias, revelou hoje a OCDE.
  

domingo, 4 de dezembro de 2011

Expresso: "Ministro da Economia leva «tareia» de deputado (vídeo)"

Tiago Mesquita
O ministro da nossa pobre Economia, Álvaro Santos Pereira, aflige-me. É verdade, chego a ter pena dele. Parece um miúdo habituado ao Farmville que se viu de repente com uma exploração agrícola verdadeira nas mãos. Quando foi apontado para o cargo ouvi grandes elogios ao senhor. De técnico admirável a economista de excelência. E acredito que sim. Tudo isto aliado a uma brilhante carreira universitária no Canadá e EUA e ao facto de não ser um político de carreira parecia ser o suficiente para que a nossa Economia estivesse em boas mãos. WRONG.

O que me preocupa é que a cada intervenção que vejo do senhor ministro a única coisa que consigo vislumbrar é uma enorme fragilidade, evidente atrapalhação, profunda falta de estratégia e visão, para não falar de um aberrante desconhecimento das matérias em causa. É assustador. Neste vídeo vemos o deputado do PCP Bruno Dias, aparentemente informado e com o trabalho de casa feito, a fazer gato sapato quer do Ministro quer do Secretário de Estado dos Transportes (Mas que raio de argumentação foi aquela? O senhor Sérgio Monteiro já alguma vez tirou as pantufas de Mangualde, Coimbra ou Lisboa e foi efectivamente a Londres? Bom exemplo? "Sustentável"? Meu Deus ...) Tudo isto é surrealista em demasia para ser verdade...salvem-nos!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Diário de Notícias: Merkel- "União orçamental da UE prestes a ser criada"


A UE não precisa de ser refundada! Precisa antes que a voltem a colocar no caminho que estava traçado pelos seus pais fundadores, ao invés de estar na situação que se encontra de momento. Os países têm de fazer uma introspecção profunda para saber realmente se querem fazer parte do projecto europeu como estava delineado... e isso passa impreterívelmente por uma maior união e coesão, deixando egoísmos e elites nacionais de lado para partir para um ideal comum que beneficie os cidadãos que residem neste espaço, mesmo que no processo se percam parte das soberanias dos países como Estados independentes.

De facto, o projecto europeu, ao dar início a uma união monetária, saltou por cima de patamares essenciais para a construção de um edifício comum, muito pela relutância dos países em ceder parte das suas competências a um ente supra-nacional. Se é indiscutível que a falta de uma união orçamental faz parte dessas fases que foram esquecidas, também se distingue uma falta de união política e empowerment das instituições da União, matéria que já tratei em publicação anterior. Penso que está na hora de terminar com o preconceito relativamente a um federalismo europeu!

O que tem acontecido é que Angela Merkel, com Nicolas Sarkozy atrelado, está a tentar tomar decisões consoante aquilo que pensa que vai servir melhor os interesses do seu país, ignorando completamente a Comissão Europeia e os restantes parceiros europeus, mandando inclusivamente "recadinhos" para os governos dos países sob a mira dos mercados. Desta forma, temo que estejamos mais perto de uma desintegração do que de uma maior união dos povos da Europa, pois acredito que a grande maioria dos países não reconhece legitimidade destes dois Estados para impôr a sua vontade aos demais ultrapassando as instituições euopeias, ainda por cima, de acordo com sondagens, os seus governos não parecem dispôr de popularidade entre o seu eleitorado, sendo previsível uma derrota nas próximas eleições internas.

Uma união política, digamos federal, um BCE independente, um orçamento central e uma maior solidariedade entre os diferentes Estados são essenciais para que o Euro e a União Europeia sobrevivam a esta crise da Dívida Pública... que não nos esqueçamos que foi provocada pela crise dos Subprimes dos mercados financeiros. Em Portugal, apesar dos problemas estruturais que ainda necessitam de reformas profundas, do governo de Durão Barroso aos governos de José Sócrates o aumento da dívida pública vinha sendo claramente combatida e controlada à custa de orçamentos contraccionistas, até que em 2008 se dá a crise económica mundial que fez disparar os juros da dívida. Na Irlanda, a falência dos principais bancos do país, obrigaram a várias nacionalizações... tendo sido necessário um endividamento público massivo, que originou desconfianças dos mercados financeiros relativamente a solvabilidade da dívida irlandesa. Quando a Grécia entrou em dificuldades, a primeira reacção da Alemanha foi "descartar-se" de qualquer tipo de ajuda, o que agravou ainda mais a situação grega e, consequentemente, do resto da Europa! A hesitação em accionar mecanismos de solidariedade custou caro a todos os europeus, e criou uma enorme desconfiança dos investidores externos relativamente a este continente!

O plano de recuperação económica da troika tem implicado, para estes países, uma espécie de "castigo" aos seus povos através da austeridade, ao invés de apoiar um crescimento económico em paralelo com as tais reformas estruturais que tanto necessitam. Combater a recessão com medidas recessivas só vai aumentar a desconfiança dos mercados relativamente a solvabilidade da dívida, daí as agências estarem constantemente a descer o rating de países e bancos europeus. De acordo com os alemães e franceses, os "malandros" da periferia da Europa gastavam o que tinham e não tinham, mas não se podem esquecer que esses gastos  foram para comprar aquilo que as suas economias produziam, os carros (BMW, Mercedes, Audi, Wolkswagen, Renault, Peugeot...), a tecnologia (Grundig, Siemens...) e material militar (submarinos, corvetas...) e infraestrutural (TGV, Airbus...). 

Aquando da crise dos subprimes, a Islândia mergulhou num enorme fosso financeiro, aumentou a dívida pública massivamente para poder nacionalizar a banca... mas aconteceram dois aspectos curiosos que permitiram manter uma coesão social e fazer uma plena recuperação económica. Para o primeiro caso, julgaram e prenderam os responsáveis financeiros por detrás das falcatruas que deixaram o país à beira do abismo, por outro lado, colocaram a máquina rotativa de impressão de dinheiro a funcionar, desvalorizando a moeda e aumentando a inflação, o que significava uma perda de poder de compra dos islandeses, logo exportavam menos, mas diminuia o valor monetário dos seus produtos, facilitando as exportações.

Neste momento, Portugal vê as exportações como principal motor do desenvolvimento económico, criando uma expectativa edílica de enorme aumento em 2012, o que com a recessão generalizada nos países europeus, nossos principais parceiros comerciais (Espanha, França e Alemanha à cabeça), que também ambicionam importar menos e exportar mais, nos colocam numa situação muito frágil em termos de recuperação económica. O BCE tem agido de acordo com os interesses alemães, controlado por estes para ser uma cópia do Bundesbank, e deste modo, devido ao trauma inflacionista que a República de Weimar deixou no subconsciente alemão, o BCE tem servido essencialmente para controlar os níveis de inflação, estando impedido de colocar a rotativa a funcionar para poder eliminar parte da dívida pública e que possibilitaria a recuperação económica.

O combate à crise pela eliminação do estado social da Europa, criado nos fins do século XIX por Otto von Bismark (Alemanha) e que é a imagem de marca do Humanismo europeu, seria um retrocesso civilizacional pela perda de direitos e conquistas dos seus cidadãos, conseguidas  com muito esforço ao longo de vários séculos. A crescente tecnocratização dos governos está retirar alguma Humanidade nas medidas a tomar e a acrescentar um enorme défice democrático na vida dos Estados.

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2162325

A chanceler alemã Angela Merkel disse hoje, no Parlamento, que a Europa está prestes a criar um união orçamental, depois de na quinta-feira ter discutido com o Presidente francês formas de "refundar" a Europa.