quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nelson Mandela (1918-2013)


Invictus (1888)

Do avesso desta noite que me encobre,
Preta como a cova, do começo ao fim,
Eu agradeço a quaisquer deuses que existam,
Pela minha alma inconquistável.

Na garra cruel desta circunstância,
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta apenas o horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.


William Ernest Henley (1849-1903)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Grande Rui Costa!

Que dizer mais do fantástico ciclista Rui Costa? E que bonito foi vê-lo chorar ao tocar o hino nacional. Numa altura em que todos duvidam do "ser português", eis uns estóicos desportistas que, apesar de todas as adversidades, voltam a colocar o nosso ego lá em cima!

Rui Costa conquistou, no passado domingo, um feito inédito para o ciclismo português ao sagrar-se campeão mundial da modalidade de estrada, vencendo a prova de fundo nos Mundiais de Florença (Itália), à frente dos espanhóis Joaquin Rodriguez e Alejandro Valverde.

domingo, 29 de setembro de 2013

João Sousa faz história no Ténis nacional

Portugal é um país que poucos apoios dá à prática desportiva. Com efeito é preciso muita perseverança dos miúdos e dos seus pais, juntamente com a "bagagem financeira", para se formarem atletas de elite e altamente profissionais neste país. As semanas preenchidas, o cansaço das deslocações e da competição é aliado neste país à falta de organização das federações e ao escasso ou nenhum apoio financeiro que as famílias dos pequenos desportistas têm para participarem nas ditas competições. Tudo isto faz com que os atletas desistam, ou pouco evoluam dentro do seu potencial... sendo necessário mais condições infraestruturais, mais apoio ao desporto jovem, não só em termos de incentivo financeiro, mas de incentivo à prática desportiva, fomentando-se assim mais competição, mais saúde e mais e melhores futuros atletas, pois é assim aumentada a base de recrutamento, e consequentemente o leque de desportistas com capacidades inatas.

João Sousa é um tenista profissional português, o n.º 1 de Portugal e o n.º 77 a nível mundial. A sua ambição em chegar a esta profissão deveu-se muito à sua carolice e dos seus pais, ou seja, muito sacrificio pessoal e financeiro. Imaginem só se o nível competitivo do ténis português fosse outro... se calhar João Sousa teria evoluído muito mais do que fez tendo competido com o nível atual. Claro que já outros tenistas, melhores ou não que João Sousa, que chegaram mais acima em termos de ranking (Rui Machado), e que também estiveram perto de vencer um torneio do ATP (Frederico Gil), mas as circunstâncias e o talento fizeram com que João Sousa fizesse história ao ganhar para Portugal o 1º torneio ATP da história.

O vimaranense bateu na final do torneio ATP de Kuala Lumpur (Malásia) o francês Julien Benneteau, n.º 33 do ranking mundial, em 3 sets (2-6, 7-4 e 6-4), escrevendo uma página especial do ténis nacional, e isto apesar do escasso apoio que se dá ao Desporto em Portugal. Daí achar que devemos ter a noção, como nação, que "não se fazem omeletes sem ovos"!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Síria ou não Síria... eis a questão!

Penso que a situação da Síria tem sido tratada, por alguns opinadores, de forma leviana. Fala-se muito da traição de Barack Obama em relação ao seu manifesto eleitoral ao ponderar uma invasão à Síria... fala-se muito dos interesses norte-americanos e europeus numa possível invasão. Não se falam é das atrocidades que estão a acontecer naquele país todos os dias, mergulhado numa guerra civil claramente desnivelada!

Sei que muita gente está traumatizada com as guerras do Iraque e do Afeganistão... pelos custos que implicou em termos de vidas e em termos financeiros, isto para além dos falsos motivos que levaram à invasão do Iraque, ou seja, as armas de destruição maciça. Porém, não estaremos a adoptar uma postura infantil ao assumirmos prontamente uma posição anti-guerra sem sequer prestar atenção aos argumentos e provas que foram colocadas em cima da mesa? Como sejam a utilização de armas químicas pelo regime de Assad, proibidas pela Convenção de Genebra (que foi ratificada pela Síria) e o aumento enorme de baixas civis e de refugiados naquele país. Não estaremos a adotar uma atitude de passividade semelhante aquela que foi adotada no período entre as 2 grandes guerras?

No meio disto tudo, a ONU, tal como a Sociedade das Nações, mostra-se completamente ineficaz, desvalorizando os impedimentos aos seus inspectores nos países alvo de suspeitas e não tomando decisões por conveniência económica e política dos membros permanentes do seu Conselho de Segurança. Foi assim nos casos dos regimes do Sudão e da Coreia do Norte, protegidos pela China, e está a ser agora com o regime da Síria, protegido pelos russos. A ONU mostra constantemente que os interesses de certos países e regimes está claramente acima dos interesses das populações, criando um sentimento de desagregação, inutilidade e descrédito nesta instituição internacional.

Por fim, fala-se agora da possibilidade de uma não invasão dos EUA, França e Reino Unido caso a Síria aceite a proposta russa de entrega das armas químicas que tem em seu poder. Admitindo esse cenário como uma possibilidade interesse, temos que verificar, porém, que foram cometidos crimes de guerra e é preciso encontrar os responsáveis para serem julgados, de acordo com a Convenção de Genebra, pelo Tribunal Internacional de Justiça, em Haia.

sábado, 31 de agosto de 2013

Ataque cerrado ao trabalhador

O governo de Passos Coelhos, com a desculpa da Reforma do Estado e da igualdade entre trabalhadores do setor público e do setor privado, tem multiplicado as medidas em torno do trabalhador que exerce Funções Públicas, no sentido de retirar alguns dos direitos e regalias que dispunha. Tudo isto faz parte da chantagem que pretende que os trabalhadores públicos aceitem as rescisões amigáveis/miseráveis de forma a emagrecer o mapa de pessoal do Estado, pois se não vai a "bem", vai a mal! O discurso oficial passa pela tal igualdade entre trabalhadores, mas não tem em atenção alguns aspetos importantes:
  • O Estado, como entidade legisladora e moral sobre matérias laborais e sociais, tem de dar o exemplo como empregador a outras entidades empregadoras. Ou seja, se pugna pelos direitos dos trabalhadores, pela sua não exploração, pela segurança do trabalho, defesa da família e do bem-estar social, tem de efetivamente aplicar essas diretivas sobre os seus trabalhadores, dando o exemplo. E não se duvide que algumas empresas tomam o Estado como barómetro, e isso foi visível tanto ao nível da retirada de subsídios, como ao nível do aumento da quotização para um sistema privado de saúde;
  •  A desvantagem de uns trabalhadores em relação aos outros não é somente num sentido. De notar que os aumentos salariais e a passagem para outros níveis na carreira estão completamente congelados na Administração Pública há alguns anos. É também de assinalar que técnicos especializados de nível académico, ou seja, de certas carreiras, ganham bastante menos no público do que no privado... e a única maneira de atrair os melhores dessas carreiras para o Funcionalismo Público passa por dar outras regalias que não as salariais;
  • A igualdade do Público em relação ao Privado que se apregoa é em relação a quê ou a quem? Aos trabalhadores fabris? Ou a trabalhadores de bancos e instituições de consultoria? No privado as questões laborais têm um largo e diverso espectro entre si, pois constitui muitas realidades distintas, algumas delas mais favoráveis do que aquelas que se encontram na Administração Pública, outras muito desfavoráveis... e neste âmbito a quem deve o Estado comparar-se? Aos melhores (apesar de minoritários) ou aos piores? Reger-se-á pelo mínimo dos direitos laborais que a legislação que redigiu estabelece para os trabalhadores? Penso que não!
A questão das 40 horas semanais é uma questão delicada, pois se por um lado é injusto relativamente ao que se passa com a maioria (não todos) dos trabalhadores no Privado, por outro lado estamos a reforçar o retrocesso civilizacional, que retira tempo de lazer e de família aos trabalhadores, o que também pode ser prejudicial à economia, não só ao nível da economia do lazer, mas ao nível da diminuição da natalidade (sustentabilidade da segurança social) e na repercussão em termos de desenvolvimento humano que terá a falta de tempo dos pais para com os filhos. Para além do mais é menos um atrativo que a Administração Pública oferece, dentro do mercado de trabalho, para as pessoas com melhores qualificações e aptidões, que tendencialmente escolherão o Privado, que já em si pratica melhores salários e oferece prémios de desempenho. E este aumento de horas não é acompanhado por um equivalente aumento salarial, tratando-se de outro assalto aos bolsos dos trabalhadores... o ataque seguinte do Governo passará pelos dias de férias que se atribuem na Administração Pública.

Por fim, a questão que foi declarada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, a questão da passagem para o desemprego após a passagem de 1 ano do trabalhador em situação de Requalificação ou Mobilidade Especial. Esta é uma questão válida apenas para os trabalhadores públicos que detêm vínculo laboral antes de 1 de janeiro de 2006, pois aos que estabeleceram vínculo posteriormente a esta data isso já acontece, o que configura pois uma desigualdade entre os próprios funcionários públicos. O tribunal alegou que a mudança legislativa do Governo vai contra os direitos adquiridos pelas legitimas expectativas que o trabalhador tinha ao estabelecer o vínculo com o Estado. Isso até é verdade, mas, se formos a ver vem, quantas expectativas dos trabalhadores e reformados não foram defraudadas ao longo destes anos de crise? E que tal darem atenção a certos direitos adquiridos de ex-deputados e políticos que exerceram cargos públicos, como as subvenções vitalícias e outras regalias, que não são questionadas exatamente com base nessas tais expectativas que tinham aquando da nomeação, apesar do altruísmo em querer trabalhar em prol do país... está claro! 

domingo, 14 de julho de 2013

Jorge Jesus, o catedrático potenciador



Vou começar este texto logo "a abrir": Na minha opinião o SL Benfica não devia ter renovado contrato com o treinador Jorge Jesus (JJ)! Se há uma década atrás esta opinião seria consensual entre os benfiquistas em virtude dos parcos resultados alcançados pelo técnico, nos dias que correm não é bem assim, isto apesar de em 4 anos ter perdido 3 campeonatos de forma consecutiva... e num grande clube como o Glorioso isso normalmente é imperdoável.

Claro que os tempos são outros, o FC Porto detém a hegemonia do futebol nacional e o SL Benfica tem de construir o seu caminho de forma sustentada, sem artifícios anti-fairplay, para poder chegar ao topo. Porém, o que é certo é que o SL Benfica, desde os tempos de Quique Flores, que possui grandes planteis, sendo que, do meu ponto de vista, tem tido o melhor plantel em Portugal desde a época de chegada de JJ ao clube. E assim é fácil ser treinador de futebol, já que basta o mínimo de conhecimento, bom-senso e capacidade de trabalho para se ter sucesso, pois os "meninos" fazem o resto dentro de campo. O que é certo é que isso não acontece no SL Benfica de JJ, um treinador que custa 4M de euros/época!

O que é incrível, e de certa forma humilhante, é que na época 2011/2012 o SL Benfica dispôs de 5 pontos de vantagem sobre o 2º classificado durante a 2ª volta do campeonato, enquanto na de 2012/2013 tinha 4 pontos de vantagem ao entrar para a antepenúltima jornada do campeonato! Um das principais erros  que originou este debacle passa pela má gestão física do plantel pelo denominado "Richard Gere da Damaia", cujas equipas esfolam os jogadores titulares até rebentar. Isso até pode passar despercebido em clubes como o Braga ou o Belenenses, mas não se pode olvidar que o SL Benfica, ao contrário desses clubes, faz quase 100 jogos por época.

Como se isso não bastasse, a teimosia táctica é outro grande handicap de JJ, que não abdica de um jogo extremamente ofensivo. Todavia, há situações e situações, e se é verdade que em 90% dos jogos o Glorioso tem de jogar assim mesmo, existem 10% de casos em que é necessário deter o controlo do meio-campo e do adversário, não só porque é um adversário forte, mas em virtude do que se está a desenrolar em campo e com o resultado... mas JJ só sabe jogar daquela maneira e com o mesmo sistema táctico, o que deixa o meio-campo e a defesa do SL Benfica ao "Deus dará". Para além disso, é normal este treinador "borrar a cueca" ou tomar iniciativas algo estranhas contra o FC Porto ou em jogos decisivos, como colocar David Luiz a lateral esquerdo para travar Hulk, ou fazer entrar em campo jogadores como Pablo Aimar e Roderick Miranda, que até então pouco ou nada tinham jogado durante o campeonato.

JJ tem também um problema de conflitualidade com os jogadores... pois o técnico é, digamos, um bocado desbocado e escandaloso na hora de apontar os erros dos seus jogadores, fazendo-o com fleuma e vernáculo, e isso tem trazido problemas com alguns atletas, caso de Rúben Amorim, Miguel Vítor, Bruno César, Óscar Cardozo, etc. É também um técnico que dá muito pouco espaço aos jovens provenientes da Formação e a jogadores que tenham vindo sem o seu aval, mas forçando a "barra" naqueles em que a contratação teve o seu dedo, acabando por jogar tempo a mais. Tudo isto origina fenómenos de "encostamento às boxes" de certos jogadores, como Nolito, Urreta, Rodrigo Mora, Rúben Amorim, que em certas alturas do campeonato, pelo desgaste e lesões, poderiam ter sido bastante úteis. Muito se fala da sua capacidade em potenciar jogadores e tal... para mim é uma falsa questão pois se um jogador tem qualidade e capacidade de trabalho, mais cedo ou mais tarde, explode para o futebol... claro que o treinador pode ajudar, e JJ até pode ser bom nisso, mas e o caso Sidnei, Bruno César, Urreta, entre outros, que vieram como potenciais craques e depois não deram em nada... JJ, nestes casos, é um despotenciador? Também não vou tão longe!

Claro que apesar de tudo isso, o JJ não deixa de ser um bom treinador, teimosia e bazófia aparte, porém, um treinador que não ganha títulos nunca poderá servir para um grande clube para o SL Benfica. O bom-futebol que é praticado é algo relativo, porque daqui a 3 anos ninguém se lembrará que foram os encarnados a praticar o melhor futebol na época 2012/2013, mas sim quem foi o campeão desse ano, quem ganhou a Taça de Portugal e quem ganhou a Liga Europa! Existe um SL Benfica desde 1904 e existirá um SL Benfica pós JJ... pois este técnico não é certamente "a última Coca-Cola do deserto"... existem outros treinadores competentes que merecem uma oportunidade e desde que o plantel seja bom e a estrutura competente, o SL Benfica estará sempre por perto na luta pela vitória. 

As vitórias morais são para perdedores, e o SL Benfica é um clube vencedor. Em tempos recentes o Glorioso também praticou um excelente futebol com Fernando Santos... disputou o título quase até ao fim e estivemos bastante bem na Taça UEFA, sendo de recordar os 2 jogos da breca contra o Boavista e Español, em que a bola "pura e simplesmente" não queria entrar. Claro que o engenheiro é um típico pé-frio, mas e JJ? Também não o é? A Santos não foi dado o benefício da dúvida... porque está a ser dado a JJ com o seu super-plantel? Ainda assim JJ está, de momento, num limbo, e se as primeiras jornadas do campeonato não correrem de feição às Águias é bastante provável que a pressão dos adeptos para o despedimento se torne insuportável! E, do meu ponto de vista, as "chicotadas psicológicas" durante a época desportiva muito raramente dão resultado.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O Estado da Nação


Ultimamente pouco tenho escrito no blogue, parte da razão passa pela minha falta de disponibilidade, mas grande parte porque uma pessoa cansa-se de escrever sobre as mesmas questões e problemas. O grande problema de Portugal é, e sempre será (enquanto nada for feito), da sua classe dirigente, completamente desprovida de bom senso, de accountability, capacidade de liderança e de gestão, mas altamente permeável a lobbies, a caciquismos e a comportamentos egoístas de individualismo.

A crise política que se abriu em Portugal não começou com a demissão de Paulo Portas, mas sim com o fracasso da política de recuperação económica engendrada pela troika e pelo governo de coligação de Direita, cuja principal figura era o Ministro das Finanças Vítor Gaspar, cujas previsões económicas foram sempre falhando em toda a linha. Este Governo poderia ter feito algo contra os ditames da troika? Penso que sim! Para já nunca deveria ter sido “mais papista que o papa”, ou seja, a sua vontade de ir para além do memorando só beneficiava a sua linha de pensamento neoliberal a longo prazo, mas colocaria os portugueses, que devem ser tratados como pessoas e não como números, numa situação deplorável! O governo também poderia deixar de lado o comportamento de “cão fiel” da troika, para adotar uma política de renegociação e de afirmação dos direitos de Portugal e dos portugueses, aliando-se ao eixo Itália, Grécia e Espanha.

O governo já estava descredibilizado por inúmeros eventos que ocorreram ao longo nestes 2 anos, do caso TSU ao caso SWAPS, mas principalmente por ter feito o oposto do que estava no seu plano eleitoral e por ter agido de má-fé nos acordos de Concertação Social. A saída de Vítor Gaspar do Governo só vem confirmar que o rumo traçado para Portugal foi um erro colossal. A partir deste momento o Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, teria duas alternativas: (1) pedir a sua demissão ou (2) reconfigurar a política diplomática e económica do país. Ora, Passos arranjou uma 3ª solução... manter tudo como estava, ignorando a situação do país, fazendo progredir Maria Luís Albuquerque para o cargo de Ministra das Finanças.

O centro-democrata Paulo Portas, que andava algo azedado com os mandos e desmandos de Passos/Gaspar e à procura de uma saída airosa do desastre que estava a ser a governação, encontrou a justificação que pretendia para se pirar e assim assumir o fingimento de ser a verdadeira oposição ao Governo… e logo em ano de eleições autárquicas. Foi uma clara tentativa de salvar a sua face e do seu partido perante o eleitorado português, mas o que o líder do CDS-PP não contava era com o debacle da confiança internacional em Portugal com base na sua decisão, mas acima de tudo que Pedro Passos Coelho viesse implorar a sua permanência, cedendo a todos os seus caprichos, e a partir daí, o que era uma decisão irrevogável deixou de o ser!

O Presidente da República Cavaco Silva foi assistindo a isto tudo com a maior das serenidades, sem “tossir ou mugir,” e quando as coisas pareciam ter encontrado um certo equilíbrio na coligação, embora precário, eis que surge um comunicado ao país rejeitando o novo cenário e admitindo eleições antecipadas para 2014, pois agora não dá muito jeito por causa da presença da troika (como se ela fosse realmente embora nessa altura). Quando tínhamos um governo com um novo vice-Primeiro Ministro, encarregue da política económica, e com um novo Ministro da Economia (que chuto levou Álvaro Santos Pereira!), eis que a solução não foi aceite por Cavaco Silva com base na fragilidade da "coisa"... e agora temos um governo que sabe que está a prazo e isso raramente é bom para a estabilidade de qualquer administração, pública ou privada.

Podemos concordar na generalidade com a intervenção do Presidente da República, especialmente na necessidade de congregar os esforços dos 3 partidos do arco do poder, mas também podemos refletir porque é que não se reuniu com os mesmos para discutir o assunto antes de levar a ideia para o país… e deste ponto de vista até se compreende a reação do PS, que preferirá partir para uma solução congregadora após eleições, pois aí terá mais legitimidade e, provavelmente, o comando das operações numa possível coligação. Também nos podemos questionar que esta abordagem vem com 2 anos de atraso, que podia e devia ter sido tentada pelo Presidente da República antes das últimas legislativas, quando o PS e o PSD partiam para a disputa de eleições após a chamada do FMI.

No fundo, Cavaco Silva reagiu tarde demais... e por mais bem intencionada e certa que seja a sua reação, acabou por ser too little too late, levando mais "lenha para a fogueira" da crise. Para além de mais acaba por se demitir novamente de qualquer intervenção direta numa convergência entre partidos, deixando essa questão nas mãos da Assembleia da República!!!! As if...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

V de Vinagre: a génese (episódio 1)


A máscara de V for Vendetta é usada nos protestos... há filmes que não nos dizem nada, outros que se clica em "curti" e outros ainda que deixam as suas marcas!

Em Maio último, se me contassem que tais manifestações iriam acontecer no Brasil, eu não acreditaria... e poderiam perguntar-me porquê?

De uma forma muito simplista responderia: 

1 - porque o Brasil não tem uma tradição revolucionária (onde até a independência foi "acertada" entre pai e filho);

2 - porque a ditadura militar, apesar de ter havido algumas manifestações nas maiores cidades, terminou na década de 80 uma vez que os militares (cansados de tanto mandar, coitados) entregaram o poder pacificamente, em eleições aparentemente livres, ao seu amigo Sarney,  (um "coronel" na melhor representação viva de Sinhozinho Malta, o qual viria a ser Presidente da República e durante anos foi Presidente do Senado) 

3 - por fim, porque vivo aqui há 7 anos e a maior manifestação popular por reinvindicação de algo foi, nada mais nada menos, que pela legalização do axixe, em que reunem no máximo 1000, 2000 pessoas!!! Não é que eu não concorde com a legalização (nunca fumei nem tabaco, nunca me embebedei de caír emborcado, mas concordo, sendo que por mim legalizava-se tudo e colhiam-se os impostos sobre as drogas para investir na recuperação de quem quisesse e em melhor educação - mas isso é pano para outras mangas). Ora, num país com infindáveis problemas estruturais, assistir à marcha da maconha, dava até vontade de rir!


3,5 - Aaaahhh, é verdade! Não posso esquecer-me que teve e tem tido anualmente, uma grande marcha popular... a Marcha para Jesus. Antes que me apedrejem, quero dizer que também eu acredito em Jesus, porém, eu só não acredito que ele resolva os meus problemas na Terra se eu nada fizer para tal! Nesta linda cruzada evangélica de louvor divino, o Rio de Janeiro conseguiu este ano mobilizar 500 mil pessoas - entre nós, como o descaso da classe política pelo povo que (des)governa é tanto, as pessoas não têm mais nada a fazer além de rezar e pedir que Jesus apareça num OVNI qualquer e lhes conceda uma vida melhor!



O povo brasileiro é como uma salada de muitas frutas! Apresenta na sua génese uma multiplicidade de identidades que por sua vez acarretam consigo os mais diversificados aspetos culturais. Uma das coisas que o Brasil vende bem para fora é a imagem de que o povo é super alegre e feliz (mesmo os quase 2/3 da população que vivem entre a miséria e a classe média baixa). Mas será que as pessoas são mesmo alegres e felizes?

Sete Anos corridos, não no Tibete, mas num país tropical, constato que a alegria de boa parte da população aqui é proporcional ao número de festas que tem no mês e aos eventos nacionais: Ano Novo (Janeiro), Carnaval (Fevereiro), Páscoa (Março ou Abril), Dia das Mães (Maio), Dia dos Namorados (Junho, mesmo com o dia se São Valentim em Fevereiro), Dia da Criança "Aparecida" (mesmo com a data da UNICEF a 1 de Junho, aqui é em Outubro), Natal (Dezembro)... e os restantes meses sempre tem algum evento nacional (demais não seja Futebol qb), os quais não me recordo agora... ou seja, as pessoas acabam por viver alienadas (fenómeno típico da sociedade Mundial desde o advento da TV) e os eventos múltiplos acabam por funcionar como válvulas de escape obrigatórias para as pisadas e humilhações, não diárias, mas sim horárias que a classe política, as seitas religiosas, as organizações criminosas, os lobbies instalados e os mandantes corporativistas deste e doutros países, impõem ao cidadão comum!


Assim e porque o episódio vai longo, de uma forma simples para concluir a introdução ao tema, apresenta-se uma eventual fórmula aritmética para a génese da Revolta do Vinagre:



(Anos de (des)governança oligárquica + exponencial da impunidade + ausência de partidos políticos e de uma classe política com uma ideologia diferenciada do "deixa-me encher o meu bolso" + distribuição de riqueza somente entre os pares + outras coisas ) - retorno social em virtude dos impostos pagos, sendo que o Brasil está entre os 5 países do Mundo com "Impostómetro" mais elevado (que deveria refletir em melhoria da Saúde, Educação, Segurança, Transportes e o tal do etecetera)



/  (dividido por)


Copa das Confederações (num misto quente de visibilidade dos protestos para o Mundo versus 28 biliões de reais saídos dos cofres públicos (cerca de 11 biliões de euros) gastos com as obras de 8 "estádios" ou campos de futebol) 

=


REVOLTA DO VINAGRE (Os protestos, que tiveram início em São Paulo, espalharam-se pelo país e estão sendo chamados de “Revolta do Vinagre“ desde que manifestantes usaram pedaços de pano molhados em vinagre para se proteger contra a dura ação policial em dispersá-los com gás lacrimogêneo no dia 13 de junho.)



Antes de concluir o episódio de hoje, quero informar que não sou, nem tenho pretensões de ser um revolucionário ou um terrorista (como tem ficado vulgarmente designado quem não concorda com a Nova Ordem Mundial). Não sou nem Ateniense, nem Grego, mas sim um cidadão do Mundo (Sócrates), cumpridor dos seus inúmeros deveres, pagador atempado dos seus impostos, mas também com poucos direitos... sou apenas mais um número entre a massa descontente... sou um estranho numa terra estranha (como diria Robert Heinlein), onde com o esforço do meu trabalho e a maquia ganha com o meu suor ajudo a elevar esta nação, mesmo levando com o porrete da polícia e sem ter o direito de votar aqui. 

Hoje eu estive lá e foi assim:



Convido-te então a assistir à melhor novela da atualidade brasileira, onde o desfecho é imprevisível... não percas o próximo episódio!


Vem pra rua!


Cenas dos próximos capítulos:
  • Corrupção: fonte de todos os males
  • Lula da Silva e os 40 ladrões 
  • Retrato de uma família feliz: bolsas para todos os gostos
  • Também posso ter bolsa copa?
  • Caminhando entre a massa descontente e a minoria oportunista: quem realmente se está manifestando?
  • O Gigante Acordou... o Brasil torna-se um exemplo para o Mundo
  • Portugal e as manifestações do antes, do atual e do depois (25 de abril 1974, protesto na ponte, protesto anti-propinas e protestos e a Troika)
  • Livro na Cara (Facebook): vou ficar postando ou vou lá apanhar uma porrada?
  • Pica na PEC (lá dizia o cartaz)
  • Bispo Feliciano e a cura milagrosa para a Homossexualidade

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Parabéns Rui Costa!


Rui Costa, ciclista português da Movistar, voltou a conquistar o 1º lugar na Volta à Suiça em bicicleta, um feito conseguido através de um excelente contra-relógio que retirou a camisola amarela ao suiço Mathias Frank. Muitos parabéns ao poveiro e esperemos que continue a sua ascensão no ciclismo mundial! 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Partidos, ideologia e Juventudes


Os filiados dos partidos políticos em Portugal estão para a política como os adeptos de futebol estão para os seus clubes, vivendo-se da "clubite" e da promoção profissional e pessoal. Esta situação causa-me uma certa confusão, pois não é nos partidos políticos que deve estar a paixão dos seus filiados, mas na ideologia subjacente ao partido, devendo portanto haver uma racionalidade prévia na escolha e avaliação do trabalho desenvolvido pelo partido X antes da filiação.

Em Portugal a ideologia não é fundamental quando um jovem escolhe um partido político... uma vez dentro sistema é que se seleciona uma das tendências já existentes no seu seio. E por isso vemos no Partido Social-Democrata, essencialmente, 2 grupos de militantes, com ideologias distintas, para além do que o seu nome poderia deixar adivinhar: (1) os centristas (uns mesmo ao centro, outros mais para a Direita) e (2) os neoliberais. O Partido Socialista divide-se entre aqueles que se consideram sociais-democratas e os centristas (uns mesmo ao centro, outros mais para a Esquerda). Mesmo o CDS-PP e o BE também têm no seu seio enormes clivagens ideológicas entre os seus militantes, muitas vezes deixando pouca noção do projeto que realmente têm para o país. O único partido onde a ideologia é o ponto de partida para qualquer militante é de facto o PCP... o que levado ao exagero faz com que se expurgue quem não concorda com a orientação do seu Comité Central.

As Juventudes Partidárias fazem-me um pouco de confusão, pois parecem autênticas camadas jovens de um clube de futebol, pois têm pretensões a criar e moldar os futuros dirigentes deste país, dando-lhes experiência no combate político e um pensamento ideológico estruturado. Infelizmente e inevitavelmente essa "bagagem", de forma geral, tem sido usada pelos "meninos" para ganhos pessoais, pois estes jovens ambiciosos procuram acima de tudo uma posição que lhes permita chegar a poder... pela disputa, intriga, favores e alianças circunstanciais. E eventualmente acabam por chegar a uma posição de poder, sem a mínima preocupação com os problemas do país e dos seus cidadãos... e é esta a geração de políticos que temos tido nos últimos tempos, daí a urgência de uma reformulação do sistema político-partidário em Portugal!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Adopção por casais homossexuais

Sinceramente não percebo quem é contra a adopção de crianças por casais do mesmo sexo... juro que não! Creio que é uma win win situation, quer para o casal, que deste modo poderá ver cumprido o sonho de criar uma criança, quer para o adoptado, que assim encontra uma família que lhe poderá dar o afecto e a atenção que merece, quer para o Estado, que poupa recursos financeiros e trabalho na educação destas crianças e evita problemas futuros de uma má inserção destas pessoas na sociedade.

O único grupo social a quem esta medida não agrada é o grupo dos homofóbicos/preconceituosos, que falam em valores tradicionais e em amoralidades, mas não se iludam... uma criança é sempre melhor criada num ambiente familiar do que num orfanato! Fala-se na hipótese falaciosa dos adoptados porem vir a emular os comportamentos "desviantes" dos pais, quando isso não é verdade, pois a Homossexualidade não é uma escolha, mas sim algo inscrito no ADN dos indivíduos. Fala-se de traumas que poderão ser infligidos às crianças pelo peso da tradição e da suposta "normalidade" social, mas qualquer pessoa perceberá que a partir do momento em que esta situação se tornar banal, também a reação adversa a ela tenderá a desaparecer ou a diminuir drasticamente. Veja-se o caso do Voto feminino, também contestado pelo setor tradicionalista/machista da sociedade dos inícios do século XX... ao princípio estranhou-se e depois entranhou-se, sendo que hoje em dia é impensável retirarem este direito de cidadania às mulheres. 

O caminho faz-se caminhando, e algum dia terá de ser levantada esta injustiça social, pois as pessoas homossexuais são cidadãs como qualquer um de nós, com direitos e deveres perante a sociedade, cuja regulação deves ser feita de forma justa por um Estado democrático de Direito.

sábado, 6 de abril de 2013

Remodelação forçada na mouche


Este mês de Abril têm sido fértil em casos que despoletaram uma crise interna no Governo. Primeiro a demissão de Miguel Relvas e agora a decisão de inconstitucionalidade do Tribunal Constitucional relativamente a certos pontos do Orçamento de Estado (OE) para 2013.

A demissão de Miguel Relvas vem na sequência do escândalo da licenciatura que "tirou" na Universidade Lusófona, porventura o escândalo mais light em que esteve envolvido. Foram confirmadas pela Inspeção-Geral da Educação várias irregularidades no que concerne a atribuição do seu diploma de licenciatura, cujo relatório, feito por especialistas na matéria, ainda ficou um mês no gabinete do Ministro da Educação Nuno Crato, para que este pudesse avaliar o caso deste cidadão e verificar a boa execução e fundamentação do relatório... só espero que nos restantes casos de irregularidades, que os há, também haja o mesmo cuidado antes de os enviarem para os tribunais. Felizmente, a saída de Miguel Relvas do Governo será boa para todas as partes, (1) para o país, que se vê livre de um fraco e duvidoso ministro (que até contrata vendedores da "banha da cobra" pelo youtube), (2) para o Governo, que assim faz uma alteração essencial ao seu elenco, muito ansiada pelos portugueses, (3) e para o próprio Miguel Relvas, que assim se poderá integrar mais rapidamente numa dessas empresas brasileiras e angolanas com as quais tinha relações próximas enquanto ministro e responsável pelas privatizações.

Relativamente à decisão do Tribunal Constitucional sobre o OE 2013, que apesar das pressões de celeridade por parte do PSD, até acaba por chegar mais cedo do que chegou no ano passado... vem confirmar a mesma inconstitucionalidade que foi dada nesse ano, ou seja, o Governo testou o Tribunal Constitucional com a mesma "brincadeira" de retirar subsídios apenas a um segmento específico da população, discriminando-a, pressionando os juízes com a crise que grassa o país para a deixar passar, mas os juízes só têm é de fazer cumprir a Lei Fundamental, não são governantes ou economistas, e não poderiam voltar com a sua palavra atrás, pois seria um total descrédito institucional. Isto poderá apressar a demissão de outro Ministro base do Governo, Vítor Gaspar, pois não vê forma de ultrapassar as dificuldades atuais do país sem estas medidas que foram declaradas inconstitucionais. Ora, isto revela alguma coisa... revela que não há imaginação no nosso governo, sem planos B ou C, apesar de ser eleito e pago para arranjar soluções! Acaba por ser uma desculpa para "abandonar o barco antes que este se afunde" definitivamente. Uma solução óbvia poderia ser aquela que se tomou no passado, no Governo de Sócrates, em taxar em 50/60/70% do subsídio a todos os portugueses... infelizmente este Governo tem alvos bem definidos e é por isso que incorre na Inconstitucionalidade.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Passos Coelho quer Crescimento Económico!

Crescimento económico de pelo menos 3 a 3,5% é decisivo, diz  Passos Coelho

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1822793

O líder do PSD disse hoje ser decisivo um crescimento económico de pelo menos "3 a 3,5% nos próximos dois, três anos", alertando que sem isso "não há pacotes de austeridade que valham".

Durante uma intervenção no Clube dos Pensadores que hoje decorre em Gaia, Pedro Passos Coelho considerou ser "preciso apostar no crescimento da economia". "E para pôr a economia a crescer temos que olhar para as PME (pequenas e médias empresas), para as condições de canalizar recursos financeiros para essa actividade, e fazer a aposta no empreendedorismo, valorizar o mérito, pôr de lado a batota e dar incentivo quer à entrada de capitais externos mas depois queremos que aqueles que estão cá possam ser bem sucedidos", explicou.

"Este olhar para o lado do crescimento da economia é decisivo para nós podermos pôr a nossa economia a crescer pelo menos três ou 3,5 por cento nos próximos dois a três anos", segundo Passos Coelho. E avisou: "Isto é decisivo para nós. Se o não fizermos não há pacotes de austeridade que valham".

DIA DAS MENTIRAS!!!!!!!!!!!!! Esta intervenção do nosso Primeiro-Ministro ocorreu em Maio de 2011, quando era apenas líder do maior partido da oposição.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Entrevista de Sócrates à RTP


Sobre o regresso de José Sócrates pouco há a dizer... mostrou novamente os seus dotes de político, uma boa oratória, boa preparação, sem medo do confronto de opiniões e de números, mostrando sobretudo que não aceita ser o "bode expiatório" de quase 30 anos de má ação governativa dos sucessivos governos da República (pós-Bloco Central)... pois é isso que lhe querem apontar, o que faz com que não haja uma verdadeira reflexão sobre o que colocou Portugal no "buraco"... o qual vai sendo aprofundado pelo atual Governo de maioria. Cavaco Silva teve quando tempo na vida política ativa, como governante, neste período? São-lhe assacadas responsabilidades? E bem esteve Sócrates a lembrar o país do caso "Fernando Lima", que continua a ser recompensado pelas patifarias que aprontou na suspeita que lançada das escutas falsas.

É bastante mais fácil para a Opinião Pública recorrer à demagogia ou ao simplismo... e alguns jornalistas também gostam especialmente de exercer esta via, buscando o  populismo fácil, estando sempre do lado de fora e sem querer olhar para dentro, buscando pequenos elementos que pouco interessam ao debate político. Não quero dizer que alguns pontos de vista não estejam certos... mas eles aplicam-se somente ao anterior Governo? Falam-se de políticas públicas como sorvedouro de despesa sem contabilizar os benefícios tangíveis e sobretudo intangíveis que trouxeram à sociedade e à economia? Não compreendo esta forma de estar no jornalismo... sem ir ao âmago da questão. Boa análise fez o Pedro Guerreiro, editor do Jornal de Negócios (ver abaixo).

Tal como Guterres, Sócrates assumiu parte da culpa do estado atual do país, mas sem querer aprofundar em que plano isso sucedeu, o que acabou por ser um erro, pois dá a entender que não acredita realmente naquilo que diz... a marca de um obstinado! É complicado para qualquer político assumir a responsabilidade da situação atual do país, que o digam Cavaco Silva, Durão Barroso e Santana Lopes, ao menos José Sócrates fê-lo, o problema é que creio que não acredita realmente no que diz, e para sermos justos, o antigo Primeiro-Ministro também tem a sua quota-parte de culpa, não tanta como lha querem dar, mas tem... e também é justo dizer que quando pegou no país, já ele estava numa situação complicada, de "tanga" (Durão Barroso dixit), sendo que a crise internacional pôs a nu as nossa fragilidades económicas.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Refundação do Governo

Últimamente têm havido pedidos públicos de remodelação governamental dentro dos partidos de coligação (PSD e CDS-PP). Refere-se ainda que Pedro Passos Coelho se encontra a preparar uma remodelação ministerial para sacudir a pressão social e política de que o seu Governo tem sido alvo.

Para ser sincero creio que é impossível para o Primeiro-Ministro fazer uma remodelação ministerial "à séria", porque isso seria admitir o erro no rumo traçado e apontar novas vias para a resolução da crise económica portuguesa. A remodelação ministerial "à séria" implicaria sempre as saídas de Vítor Gaspar e de Miguel Relvas, os verdadeiros líderes deste Governo, e sendo assim será que Passos Coelho tem a coragem de admitir os erros e mudar de rumo? Terá força para se virar contra os seus mentores? Penso que não. Tudo o resto que fizer não passarão de tentativas vãs para melhorar o status do seu Governo.

Esta crise política faz-me lembrar um pouco a situação do Sporting CP. Apela-se à estabilidade dentro do miserabilismo existente, os bancos escolhem o presidente, neste caso o Ministro das Finanças foi através do Banco Central Europa, na perspetiva que os seus interesses sejam salvaguardados, nem que para isso "se mate a galinha dos ovos de ouro" e se "vendam as jóias da Coroa". Chega a uma altura em que temos de dizer basta... precisamos de uma refundação do Governo! 

Com refundação não quero apenas dizer que devamos ir para eleições escolher uma nova liderança para o país. Devemos ir bem mais além! Os cidadãos devem-se unir e lutar por um novo sistema político-partidário, alterar o nosso modelo democrático, tornando-a mais presente nas nossas vidas e deste modo fomentar a participação cívica, menos representativa e mais direta. Cabe sobretudo aos cidadãos engrenar esta refundação, pressionando e exigindo a mudança para limitar as ideias de "eleitor ignorante" e o "eleitor que ignora".

Relatando uma história pessoal, vinha hoje num autocarro "à pinha"... entretanto entra uma pessoa com o "braço engessado" e ninguém lhe deu o lugar... entretanto, umas senhoras idosas, após oferecerem o lugar a essa pessoa, indignam-se com o facto de nenhuma das pessoas sentadas nos lugares para "inválidos" esboçarem um gesto simples de cidadania, começando a reclamar de "viva voz" com essas pessoas. Eventualmente, uma delas cedeu o lugar. Algumas pessoas, apesar de condenarem a falta de civismo daqueles elementos, pensarão: "Que necessidade tiveram aquelas senhoras de armar confusão para uma coisa tão trivial". Porém, há que dizer que é graças a essas pessoas, as que lutam e reinvidicam, que temos a boa parte e as regalias de viver em sociedade... caso contrário, seria a selva!

sábado, 23 de março de 2013

O que será da seleção nacional

Figura 1- Seleção portuguesa no Europeu de 2012 na Polónia/Ucrânia.
Nos dias que correm a seleção nacional é acusada de ter problemas de atitude, de falta de concentração, de ter um fraco treinador, mas julgo que isso é apenas "poeira que nos é atirada para os olhos que nos impede de ver a totalidade da montanha". Claro que temos mais qualidade que muitas das seleções que defrontamos, e há claramente alguns aspetos referidos que têm de ser melhorados, até porque a percepção da valia atual do futebol português está desajustada e não corresponde à atitude dominadora que normalmente se tem em campo.

Ao contrário do que acontecia há uma década atrás, os craques provenientes das canteras não estão a nascer de forma espontânea e tão profícua, o que deixa o atual selecionador nacional com um campo de recrutamento algo débil. Isso já deveria ter sido avistado pelos dirigentes quando as seleções jovens portuguesas deixaram de ter êxito... e pior, quando deixaram de participar nas grandes competições internacionais! 
Figura 2- Em breve a Seleção Nacional de Portugal terá poucos motivos de festejo.
É necessário entender onde está a raíz do problema, sabendo de antemão que o problema deverá ter várias cambiantes onde se deverá atuar. Do meu ponto de vista os problemas são os seguintes:

1- A falta de aposta no jogador português pelos clubes nacionais nos últimos anos:
  • É um problema de várias décadas e isso nunca impediu o jogador português de surgir. Sempre tivemos muitos jogadores provenientes do Brasil, mas claro que atualmente, especialmente nos clubes maiores, os espaços para surgirem têm minguado. Ultimamente, devido à crise financeira, alguns clubes têm apostado na sua cantera e equipas B e com bons resultados, caso do Vitória de Guimarães;
  • Os clubes grandes, para manter a competitividade internacional, dão pouco espaço de manobra ao surgimento de jovens promessas portuguesas, mas tal facto também se deve ao inflacionamento do jogador nacional por parte dos empresários, que assim preferem colocá-los de forma precipitada no estrangeiro, podendo assim comprometer a sua evolução natural.
2- A falta de competitividade e exigência do futebol de formação em Portugal:
  • Os ricos frutos provenientes das camadas jovens nos anos 90 fizeram os grande clubes ter mais atenção às suas canteras. Iniciou-se um processo de sobre-recrutamento, e a uma idade cada vez mais nova, que fechou portas a um percurso de futebol de rua ou de futebol salão (futsal agora) a muitos jovens. Os clubes menores, alvo do recrutamento dos grandes clubes, foram perdendo competitividade, o que gerou campeonatos jovens cada vez mais desequilibrados, gerando pouca capacidade evolutiva nos mais talentosos, que se acotovelam por um espaço no onze das grandes equipas;
  • O modelo competitivo dos campeonatos de formação geram pouca confrontação entre os melhores clubes, que de goleada em goleada chegam à fase final, que se finaliza ao fim de poucos jogos, aumento enormemente o período não-competitivo dos jovens atletas. Há pouca confrontação entre atletas mais jovens e talentosos contra atletas mais velhos, prevalecendo muitas vezes a preferência entre os jogadores fisicamente mais desenvolvidos, ao invés dos técnicamente mais aptos.
3- Diminuto campo de recrutamento de jovens jogadores:
  • O facto de termos uma área de recrutamento menor relativamente a outros países nunca impediu de termos grande craques no futebol, mas o que é certo é que a escassa natalidade e a emigração fazem reduzir a juventude portuguesa a números alarmantes;
  • Portugal nunca teve uma cultura desportiva a sério... em Espanha, nos Balcãs, na Alemanha há muito incentivo ao desporto escolar, sendo raro o (a) jovem que não pratique qualquer tipo de desporto. Isto vai passando também para as fases de vida seguintes na vida de um cidadão, promovendo um modo de vida mais saudável e social. Isto é agravado com o neo-protecionismo parental que pretende evitar ao máximo que as crianças brinquem na rua, incentivando uma vida sedentária desde tenra idade, em volta dos gadgets e jogos de computador.
Penso que é urgente pensar no futebol português e atuar nos vários campos em que se pode atuar, tal como fez a Alemanha há uns anos atrás, aquando de uma crise futebolística idêntica e cujos frutos estão a ser colhidos agora. Temos que reformular a nossa ideia de jogo para uma maior modéstia na abordagem aos adversários e saber preparar o mau período que se avizinha, devendo-se apostar na juventude para que no futuro ela esteja mais preparada para os desafios. Porém, é essencial que a curto prazo nos apuremos para o Mundial de 2014 no Brasil... seria imperdoável não estarmos presentes nesta competição que se realiza no nosso "país irmão".

sexta-feira, 22 de março de 2013

Será que vai mesmo chumbar?

































O semanário Sol noticia que o Tribunal Constitucional deverá chumbar o Orçamento de Estado de 2013 apresentado pelo Governo de maioria. A ser verdade, o Governo liderado pelo PSD/CDS-PP só terá uma saída... o pedido de demissão. Aliás será sempre uma boa desculpa para estes governantes fazerem uma saída airosa, especialmente após estes anos em que estiveram francamente mal à frente dos destinos do país.

A possível demissão do Governo deverá desencadear um novo processo eleitoral, e creio que os partidos do arco de governação, desde que excluídos os atuais líderes do PSD e CDS-PP (Passos Coelho/Miguel Relvas e Paulo Portas), deverão finalmente formar um bloco central para proceder à recuperação económica do país, e é neste sentido que o Presidente da República deverá agir... um papel importante em que não pode falhar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sócrates, o filósofo comentador

O país internauta anda de petição em petição para impedir que José Sócrates se torne um comentador político da RTP. Desta ação facebookiana acho 2 coisas:

1- Acusam o homem de ter fugido para França para se esconder, e agora que parece querer voltar, em pro bono, para esclarecer o seu período governativo e outras questões da atualidade, as pessoas parecem estar contra... é isto um contra-senso?

2- Alguns portugueses não perceberam definitivamente que o problema atual do país não se deve a um período que se iniciou e acabou com José Sócrates, mas numa sequência de governos (desde Cavaco Silva até ao atual) que simplesmente não souberam promover a competitividade e produtividade neste país, especialmente aqueles que dispuseram de um período de "vacas gordas", em que tinham margem de manobra mais que suficiente para inverter aquilo que veio a ser a norma portuguesa, ou seja, défices atrás de défices e um crescimento económico constantemente débil.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Belmiro de Azevedo e a mão-de-obra


1- Belmiro é o protótipo de empresário português, preso no passado, pensa que pode competir num mundo globalizado, que tem a China, a Índia, a Indonésia, entre outros, através do factor "preço mais baixo"... isto mostra bem como tem de haver uma remodelação dos empresários nacionais, mais jovens, com outra mentalidade, em que a inovação, qualidade e branding não sejam palavras ocas;
2- Belmiro achará que Portugal fez mal em abolir a escravatura... pois deste modo haveria 0% de desemprego em Portugal. O que interessa é proteger os detentores dos meios de produção, nem que se sacrifique os detentores da força de trabalho (não me levem a mal a conversa marxista, mas para um discurso antigo, utilizam-se conceitos antigos).
Figura 1- Belmiro aguarda furioso que o seu "empregado" pessoal lhe traga o café e a merenda.
Arménio Carlos, líder da CGTP, relativamente às declarações de Belmiro, afirmou: "Já percebo porque é que é o terceiro homem mais rico do País. A inteligência é só dele e o resto é só suor e neste caso exploração.". Ui!

O Laboratório cipriota

A ideia de taxar os depósitos bancários cipriotas em troca da ajuda da troika morreu sem paternidade. Porém, uma coisa é certa, o Governo do Chipre estava disposto a avançar com a medida e a troika deu o seu aval. 

Isto só mostra que a competência e o bom senso, como diz muito bem o nosso Presidente da República, não grassa entre os líderes europeus atuais, pois só o anúncio da medida provocou o caos bolsista e a desconfiança mundial relativamente aos sistemas bancários na União Europeia, havendo um temor da repetição da medida nos restantes países alvo de assistência financeira. 

A medida que foi travada pelo parlamento cipriota destinava-se sobretudo aos grandes depositantes russos e gregos que procuravam, através do Chipre, escapar à malha fiscal, colocando o seu dinheiro num paraíso fiscal. Porém, acabaria por ser um saque ao povo cipriota, também abrangido pela medida, que veria o Estado, a mando do FMI e UE, ir-lhe ao bolso sem o seu consentimento. Para evitar a corrida aos depósitos, foi vedado  às pessoas a possibilidade de poderem levantar o seu dinheiro, pois, se tal fosse efetivado, criaria um colapso do sistema financeiro, pois nenhum banco contém todo o dinheiro que supostamente está refletido nos saldos de cada depositante.

terça-feira, 19 de março de 2013

Quo vadis Governo?

O que é que vem depois do reconhecimento deste Governo e da troika de que as políticas adoptadas têm falhado em toda a linha? Que as previsões macroeconómicas para o nosso país caem sistematicamente uma após a outra? Estou curioso de saber se a mesma receita vai continuar a ser seguida, enterrando o país cada vez mais neste abismo recessivo que gera desemprego e emigração... paralelamente a pauperização da Administração Pública continua a todo o vapor, piorando a gestão e o serviço público aos cidadãos e às empresas.

A troika acusa o governo de não ter seguido o memorando como deveriam... o PSD vira agora as costas ao memorando, dizendo que a culpa é de José Sócrates... e que costas largas tem o agora estudante de Filosofia, até parece que esta ação governativa não estava já planeada no programa de governo desta malta do PSD, que: empurrou o anterior governo para o pedido de ajuda externo; apoiou o memorando desde o primeiro momento e quis ir mais além; rejeitou sempre renegociar a dívida; e a fazer alianças estratégicas com os países em dificuldades para fazer face à troika. Aguardemos cenas dos próximos capítulos, e espero pelas movimentações do CDS-PP, cuja desmarcação política é das melhores do país!  

sexta-feira, 15 de março de 2013

Tal como o anterior...

Desde o dia em que se anunciou o nome do novo papa, a imprensa e a opinião pública têm dado a Jorge Bergoglio enormes elogios, especialmente pela sua humildade, simplicidade e forte carácter. Os media consideraram a sua nomeação pelos cardeais uma completa surpresa, isto apesar de no último conclave ter "disputado" o papado à última com Joseph Ratzinger (Bento XVI). Enfatizou-se o fato de ser sul-americano (argentino) e de se ter atribuído o nome Francisco (a partir de Francisco de Assis, um monge que advogava uma vida religiosa de pobreza), o que anuncia que a Igreja se prepara para fazer algumas reformas importantes. 

O senão, pois há sempre um senão para a imprensa, é que Francisco I é também da ala conservadora do Vaticano, ou seja, contra o casamento e adoção homossexual, o uso de preservativo e a prática do aborto em qualquer situação... mas aí pergunto-me, existe uma ala liberal no Vaticano que seja a favor destas questões? Algum sacerdote católico chega a cardeal defendendo ideias deste género? Jorge Bergoglio, no passado, foi mais longe ao atacar os governos argentinos de Nestor e Cristina Kirchner, por entre outras coisas, legalizar o casamento homossexual, imiscuindo-se em assuntos políticos, tal como o acusam de o ter feito no passado, quando na década de 70, durante a ditadura militar, terá denunciado 2 padres jesuítas que supostamente teriam ligações com grupos de esquerda.

O cargo de papa traz uma grande responsabilidade para Bergoglio, e claro que tem o direito à sua opinião, mas esperemos que não faça retornar a Igreja ao passado com um extremar de posições, mas que se concentre antes nas reformas internas que entender  necessárias na estrutura de Igreja, deixando os Estados libertar a sociedade das amarras de um construto social e cultural retrógrado, para que então os indivíduos possam tomar as suas próprias decisões em consciência, com plena liberdade e equidade.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chavez

Ao contrário da maioria das pessoas, não tenho uma posição definida acerca de Hugo Chavez... uns chamam-lhe demagogo, outros sonhador, uns ditador, outros libertador, depende sempre do contexto em que a pessoa está situada em termos geográficos, ideológicos e sócioeconómicos. Porém, acho uma certa piada a qualquer europeu que faz um julgamento célere de certas personalidades sul-americanas com um ponto de vista puramente norte/ocidental... sem entender a cultura e o contexto socioeconómico daquelas sociedades.

Hugo Chavez foi concerteza uma personagem de rutura, se calhar a maior deste século, especialmente contra a Doutrina Monroe (aliada ao Manifesto Destino), que fazia da América Latina um protetorado dos EUA, não se coibindo de intervir militarmente e económicamente quando achasse necessário proteger os seus interesses. A partir de Chavez, foram surgindo outros governos latino-americanos de cariz socialista, como Lula da Silva no Brasil, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega da Nicarágua, entre outros, contando também com a aliada Argentina, sob a liderança de Cristina Kirchner.

O líder da nova "Revolução Bolivariana" chegou ao poder através de eleições legislativas em 1998, porém no passado, liderou um golpe de Estado em 1992 contra Carlos Andrès Perez, que acabou mal sucedido. As suas campanhas eleitorais centraram-se sempre no combate à extrema pobreza, na qual o maioria do povo se encontrava e se encontra "mergulhado", havendo uma grande desigualdade social e altos níveis de criminalidade, apesar do país ter abundantes riquezas naturais, como o petróleo e o gás natural, em mãos estado-unidenses até à chegada de Chavez ao poder. As suas políticas sociais colheram grande popularidade entre os mais pobres e entre as populações indígenas, valendo-lhe as reeleições em 2000 e 2006, isto apesar das críticas de má gestão e abuso de poder por parte da oposição. Mas é preciso reconhecer, apesar de poder não haver sustentabilidade nas políticas de Chavez, baseadas na centralização e nacionalização das áreas económicas pelo Estado, que a pobreza extrema na Venezuela desceu de 49,4% da população para 27,8%.

O carismático líder venezuelano percebeu rapidamente que as suas lutas anti-imperialistas e anti-neoliberais não se fariam através do isolamento da Venezuela da América Latina e do mundo. Utilizando o poder dos seus recursos naturais pugnou pela cooperação e integração dos povos da América, criando a ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos), uma plataforma de cooperação internacional baseada na ideia da integração social, política e económica entre os países da América Latina e Caraíbas. Lutou pela criação de um sistema que remasse em sentido contrário ao FMI e Banco Mundial, controlados pelo norte/ocidente, para assim ver a América latina livre dos seus ditames ideológicos.

Em 2000 a Assembleia Nacional aprovou a "Lei Habilitante", através da qual o presidente poderia governar por decreto durante 1 ano, sem passar pela referida Assembleia Nacional, um "duro golpe" no sistema democrático representantivo. Durante esse período Hugo Chavez promulgou quase 5 dezenas de decretos, alguns deles centralizando o poder do Estado na economia, o que gerou grande contestação social, especialmente pelo temor da transformação da Venezuela numa ditadura.
O descontentamento começou a atingir alguns setores do exército e no dia 12 de abril, após violentos confrontos entre manifestantes de ambas as fações, o general Lucas Rincón, chefe das Forças Armadas, anunciou que Chávez se tinha demitido, tendo o presidente da Fedecámaras, Pedro Carmona, assumido a presidência da República, algo que Chavez refutou na ilha de La Orchila, onde se encontrava detido, dizendo: "No he renunciado al poder legítimo que el pueblo me dio". Carmona dissolveu a Assembleia, o poder judicial e atribuiu a si próprio poderes extraordinários, declarando publicamente que no prazo de 1 ano se celebrariam novas eleições presidenciais e legislativas. Contudo, logo se fizeram grandes levantamentos populares em prol de Hugo Chavez, e tropas fiéis ao presidente lougraram um contra golpe de Estado com sucesso, recolocando-o no poder. Alguma imprensa local mencionou que vários integrantes do governo dos EUA vinham mantendo contactos frequentes com diversos líderes golpistas, algo negado pelo governo norte-americano. O governo de Chávez, meses depois do golpe, alegou que os EUA apoiaram o golpe de estado, afirmando que os radares do país detectaram a presença de navios e aviões militares americanos em território venezuelano nos dias do golpe.

No final de 2003, a coligação Coordenadora Democrática organizou uma recolha de assinaturas com o propósito de convocar uma consulta popular na qual os venezuelanos se pronunciariam sobre a permanência ou não de Hugo Chávez no poder. O referendo teve lugar em 2004, sendo que 58,25% dos votantes apoiaram a permanência de Chavez na presidência até ao fim do mandato. Apesar das alegações de fraude eleitoral por parte da oposição, os observadores internacionais presentes no processo consideraram que o referendo ocorreu dentro da normalidade e legalidade. As vitórias eleitorais nem sempre "sorriram" a Chavez, pois em 2007 a proposta de reforma à constituição da Venezuela foi submetida a referendo, tendo sido rejeitada por 50% dos votos, algo que foi respeitado por Hugo Chávez, dizendo: "Parabenizo os meus adversários por esta vitória. Deste momento em diante, vamos manter a calma" (…) "Não há ditadura aqui (…)".

Apesar da imensa riqueza natural do país, a Venezuela continua a ser um país em que a maioria da sua população vive na pobreza, existindo enormes desigualdades sociais. A população extremamente pobre tem vindo a diminuir e as populações em geral tem vindo a aumentar a sua renda, porém, a riqueza continua muito mal distribuída, situada nas "mãos" de uma pequena elite. As exportações do país concentram-se sobretudo nas riquezas naturais, que têm reservas limitadas... urge desenvolver o país económicamente, mas isso terá de ser feito obrigatóriamente e em paralelo com um desenvolvimento social, o que pode demorar vários anos a atingir. Não sabemos se seria este o rumo da Venezuela de Chavez, ou se seria apenas mais uma ditadura carismática sul-americana, o que é certo é que este regime dificilmente sobreviverá com a morte do seu líder, tão aclamado pelo seu povo.