sábado, 26 de maio de 2012

Portugálica

Ontem assisti, pela televisão, ao grande concerto que os Metallica deram no Rock in Rio Lisboa 2012. Apesar de tocarem na íntegra o "Black Album" ("Metallica", 1991), como homenagem aos seus 20 anos de edição, não deixaram de tocar alguns êxitos de outros albuns como "Master of Puppets", "From Whom The Bells Tolls", "Fuel" e "Seek and Destroy".
Figura 1- James Hetfield.
Vi-os ao vivo para o mesmo festival em 2008, num cartaz mais homogéneo (Moonspell e Machine Head) que o de 2012, apesar de terem Sepultura e Mastodon, mas Evanescence é, para mim, um elemento muito estranho dentro daquele conjunto. Em 2008 proporcionaram um grande espetáculo, mas penso que o deste ano foi melhor, muito devido à ação do público, que esteve inexcedível perante a atuação do grupo, cantando e gritando ao som do Trash metal dos Metallica. Os membros da banda ficaram tão impressionados com o público português que pareciam não querer sair do palco, mimando-o no final com a distribuição de palhetas e baquetas. Se calhar este ano até houve demasiado entusiasmo por parte do pessoal, pois ficou-me na retina o momento cómico (e sexual) da noite, quando Lars Ulrich cuspiu vinho rosé (?) para a boca aberta de um fã extasiado, oferecendo-lhe depois o copo de plástico.

Enfim, um grande concerto de Metallica para um público que sempre soube receber e acarinhar a banda de S. Francisco... por isso o grupo há-de retornar sempre a este retângulo à beira-mar plantado, que por estes dias esquece que existe uma crise económico-financeira para ver e ouvir um espetáculo musical.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Relvas 2 em 1

Miguel Relvas, para além de ser o 1º Ministro encapotado, aparenta ser um 2 em 1... utiliza serviços públicos para beneficios pessoais ou partidários (as Secretas) e pressiona jornalistas na tentativa de condicionar a liberdade de expressão. E consequências para estes atos de extrema gravidade? Se são apenas alegações, porque é que, para limpar o seu nome e o do governo, não se sujeita a audições pedidas pelos partidos da oposição, chumbadas pelo seu partido e CDS-PP... ao menos teve a decência de se apresentar pessoalmente na ERC para responder ao inquérito, apesar de ter baralhado mais do que esclarecido.
Figura 1- Relvas gesticula o que lhe deve acontecer depois de apurados os factos.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Diário de Notícias: "Lince ibérico pode ser solução para áreas desertificadas"


O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie mítica da fauna portuguesa. De tão mítica que é que se chega mesmo a duvidar da sua existência, tal como no caso de espécies mitológicas como os unicórnios, pégasos ou dragões. Porém, existe mesmo, pelo menos já foram avistados na vizinha Espanha e podem ser visitados em centros de recuperação da espécie em território nacional. A sua população está confinada a pequenos espaços, muito dispersos pela Península Ibérica, sendo que apenas 2 ou 3 agregados populacionais poderão ser considerados viáveis a longo prazo, estimando-se que existam menos de 80% de individuos relativamente há 30 anos atrás, uma população que vem em queda abrupta desde o início do século XX, quando se estimava que existiriam vários milhares desta espécie.
Figura 1- Lince Ibérico em liberdade.
O lince nativo da Península Ibérica tem uma pelagem castanho-avermelhada, coberta de manchas pretas, que podem ser desde pequenos pontos a riscas, não existindo dimorfismo sexual entre macho e fêmea. Tal como as outras espécies do Género Lynx, tem uma cauda pequena, pinceis de pelos nas pontas das orelhas e barbas. O peso médio de um macho adulto é cerca de 12 Kg enquanto as fêmeas pesam em média cerca de 9 Kg. É um animal essencialmente nocturno, muito solitário e territorial. Os acasalamentos ocorrem entre Janeiro e Maio e após um período de gestação que varia à volta de 2 meses, nascem entre 1 a 4 crias, que recebem cuidados maternais durante cerca de 1 ano, altura em que se tornam independentes e abandonam o grupo familiar, podendo atingir uma longevidade de 16 anos. É um trepador exímio e por dia poderá deslocar-se cerca de 7 km. As necessidades energéticas de um lince adulto correspondem à ingestão de um coelho adulto por dia, sendo que uma fêmea com 2 crias terá de caçar cerca de 3 coelhos por dia. Logo, calcula-se que a densidade miníma de coelhos para permitir a reprodução do lince será de cerca de 4 indivíduos/hectare.

É a espécie de felino mais gravemente ameaçada de extinção e também um dos mamíferos mais ameaçados do mundo, estando listada na CITES (IUCN). Em Portugal, a espécie permanece com o estatuto de "Criticamente Em Perigo", enquanto em Espanha está somente em Perigo. A principal ameaça resulta do desaparecimento progressivo das populações de coelhos-bravos (sua principal presa) devido ao aparecimento de doenças como a mixomatose e a pneumonia hemorrágica viral, que afectou o número de coelhos, piorando ainda mais a situação do felino. Outras causas relacionam-se com as mudanças ao nível do uso do solo, alterando os seus habitats e tornando-os mais vulneráveis e fragmentando as comunidades, mas também a sua caça, incêndios florestais, a utilização de armadilhas e os atropelamentos. A reduzida variabilidade genética das pequenas populações isoladas faz com que sejam bastante vulneráveis a doenças, como a leucemia felina, toxoplasmose, tuberculose bovina.

Este felino de clima mediterrânico procura o mato denso e bosques para refúgio e os espaços abertos para caçar, tendo um papel fundamental no controlo das populações de coelhos, parte essencial da sua alimentação embora também coma outros pequenos animais, como roedores, lebres, lagartos, perdizes e outras aves.  Os requisitos ecológicos do lince-ibérico podem resumir-se da seguinte forma:
  1. habitat potencial com condições adequadas de alimento e água ao longo do ano, vegetação adequada para abrigo/reprodução e tranquilidade;
  2. Mais de 50-60% do coberto vegetal dos seus territórios é composto por matagal e cerca de 20% por orlas entre pastagens e matagal;
  3. Os seus territórios, durante a época de acasalamento, a densidade de coelho-bravo é superior a 4,5 indivíduos/hectare;
  4. A ligação entre os diferentes núcleos é fundamental para a dinâmica da espécie. 
Actualmente só existem 2 populações reprodutoras (Doñana e Andujár-Cardeña, na Serra Morena), com efetivos totais entre 84 a 143 indivíduos adultos. A população de Doñana é composta por cerca de 35 indívudos e Andujár-Cardeña terá cerca de 110. Estas duas populações estão isoladas entre si o que ainda as torna mais vulneráveis. Os efectivos actuais não são suficientes para a sua sobrevivência a longo-prazo e os especialistas concordam que a espécie se encontra no limiar da extinção.
Figura 2- Distribuição geográfica do lince-ibérico em meados da década de 1990.
1 - Algarve-Odemira-Vale do Sado; 2- Gata-Malcata-San Pedro-S.Mamede; 3- W.Sierra Morena-Guadiana; 4- Alberche; 5- Gredos; 6- Subbéticas; 7- Doñana; 8 - Sierra Morena Central; 9- População central.

 

Figura 3- Distribuição geográfica do lince-ibérico de acordo com os dados mais recentes.
1- Doñana; 2 – Cardeña-Andujár.

Em Doñana, os territórios são estáveis ao longo da vida do indivíduo, sendo as áreas vitais dos machos, em média, maiores (10,3 km2) do que as das fêmeas (8,7 km2), sujeitas a flutuações em função da estação e das características do habitat. Em outras zonas de maior abundância de coelho, as áreas vitais dos linces são menores, com consequente aumento da densidade. Consta-se, que em Portugal, o lince-ibérico poder-se-á encontrar ainda na Serra da Malcata.

Estão-se a desenvolver, tanto em Espanha como em Portugal, programas de reprodução em cativeiro, através da captura de subpopulações inviáveis, sendo que no caso português tem tido papel fundamental o Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico de Silves. Em 2004, a Liga para a Protecção da Natureza lançou o Programa Lince, que conta com a participação e o apoio técnico e científico de um grupo composto por vários especialistas nesta espécie em Portugal, no âmbito do qual têm sido desenvolvidos projetos, entre os quais se o LIFE, que visa a recuperação do habitat natural do Lince Ibérico. 



http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2514139&seccao=Biosfera&page=-1

A ministra do Ambiente defendeu hoje que a reintrodução do lince ibérico em território nacional pode atrair pessoas para zonas desertificadas, mas alertou para a necessidade da coexistência equilibrada da espécie com a caça e a agricultura.

sábado, 12 de maio de 2012

Sol: "Desemprego pode ser uma oportunidade", diz Passos Coelho


... ao menos desta vez Passos Coelho não está a incentivar à emigração em massa dos portugueses desempregados. Claro, que o seu discurso é muito bonito pelo facto de incentivar à inovação e empreendedorismo dos desempregados, mas também está muito desfasado da realidade diária dos portugueses que não têm um "Ângelo" [Correia] a olhar pelo seu ombro. Se nem os grandes empresários deste país têm a audácia de inovar e investir com risco, como é que se pode esperar que um desempregado, sem dinheiro, sem acesso a crédito e sem um apoio estatal firme, o consiga fazer?
Figura 1- "Ângelo" de Passos Coelho a disfarçar uma colheita da penca.
Estar desempregado é sempre um sinal negativo, não há volta a dar! O Primeiro-Ministro tem de ter esta sensibilidade! Claro que o português tem que mudar a sua cultura, o seu pensamento no sentido do empreendedorismo e da inovação, mas é nesse papel que o Estado pode fazer muito por este país, ao contrário do que o seu pensamento neoliberal possa dizer.



O primeiro-ministro apelou hoje aos portugueses para que adotem uma «cultura de risco» e considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser «uma oportunidade para mudar de vida».

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A Bola: "James McClean ameaçado de morte"

A questão irlandesa é, ainda nos dias de hoje, uma questão mal resolvida, nomeadamente na região do Ulster, Irlanda do Norte, que vive numa grande divisão entre a sua população sob a capa da religião e do nacionalismo... os Republicanos irlandeses de religião católica de um lado, correspondendo a cerca de 43% da população, e os Unionistas britânicos de fé protestante, com certa de 37%, estão do outro lado. A quem se deve esta divisão? Fácil... a séculos de subjugação cruel por parte dos ingleses.
Figura 1- Ilha da Irlanda.
A República da Irlanda ou, na sua língua nativa (o Gaélico), Éire, teve uma história conturbada até chegar à sua independencia, muito devido ao seu vizinho inglês da Grã-Bretanha. Em 1171, a ilha da Irlanda é invadida pelo exército inglês de Henrique II, numa demonstração de poder real no contexto do feudalismo, subjugando a nobreza irlandesa à sua suserania e sujeitando o território às leis inglesas pelo Tratado de Windsor (1175). Em 1534, Henrique VIII, através do "Ato de Supremacia", declara-se como único chefe supremo da Terra da Igreja da Inglaterra, ao qual se seguiu o "Ato de Traição", que implicava a pena de morte a quem não reconhecesse a autoridade régia. A animosidade irlandesa em relação ao invasor cresceu em torno de uma profunda devoção católica, existindo focos de forte contestação ao poder inglês que foram controlados pela força durante o reinado de Henrique VIII. A ilha foi declarada como um reino em 1541, passando Henrique VIII a intitular-se também como Rei da Irlanda. Ao longo dos anos, terras irlandesas foram sendo dadas a nobres ingleses como tributo pelos seus serviços. Jaime I promoveu o controlo das terras na ilha pelos ingleses, especialmente na região do Ulster, instituindo um sistema de colonização baseado na pequena propriedade na zona do Ulster (Ulster Plantation), a zona mais rebelde, discriminando os irlandeses.

Em 1641, aproveitando um momento conturbado do reinado de Carlos I que dará início a uma Guerra Civil em Inglaterra em 1642, os irlandeses revoltam-se contra o domínio inglês através de um golpe de Estado que falhou, apesar da não intervenção do exército britâncio, mas resultou no conflito violento denominado de "Guerras Confederadas Irlandesas", entre nativos católicos e colonos ingleses e escoceses. Os irlandeses formaram a Confederação Católica em 1642, que governou grande parte da ilha, alinhada com os realistas britânicos (união pouco pacífica), derrotados pelos republicanos de Inglaterra que formaram a Commonwealth, liderada por Oliver Cromwell. A Inglaterra acaba por invadir a Irlanda entre 1649 e 1650 no âmbito da "Guerra dos 3 Reinos", reconquistando o território de forma violenta, castigando os revoltosos e os seguidores da fé católica, confiscando as suas propriedades e praticando grandes atrocidades. Estima-se que cerca de 1/3 da população da ilha tenha desaparecido durante este período, tendo Cromwell, estabelecido uma nova elite protestante na Irlanda com colonos de Inglaterra, Escócia e do País de Gales através de ofertas generosas de terras, retiradas aos grandes proprietários locais.

Apesar de, com o restauro da Monarquia inglesa, a Irlanda ter ganho autonomia parlamentar, existiram alguns conflitos até ao final do século XVII. A guerra civil entre o James II, católico, e Guilherme de Orange, protestante, em torno do trono inglês após o primeiro ter declarando liberdade religiosa nos seus reinos (Glorious Revolution), teve como palco a ilha durante a "Guerra Jacobita na Irlanda", inserida na "Guerra dos 9 anos". James II foi apoiado pela maioria dos irlandeses católicos, e desse modo usou aquela ilha como base para reconquistar os 3 reinos, mas foi derrotado por Guilherme de Orange na Batalha de Boyne (1960) e de Aughrim (1691), terminando com o conflito, após o qual os irlandeses viveram um período de fome e de perseguições protestantes.

Em 1798, durante o reinado de Jorge III, dá-se outra rebelião irlandesa, uma revolta inspirada nas Revoluções Americana e Francesa, que foi debelada pelo exército britânico, apesar de se terem mantido alguns focos de guerrilha pela Irlanda até 1804, com a rendição de James Corocoran. O conflito gerou dezenas de milhares de mortos, entre os quais muitos civis. Como resposta foi assinado o Ato de União em 1800, um documento que fundiu o reino da Irlanda com o reino da Grã-Bretanha, criando o Reino Unido, um episódio marcado por múltiplos casos de suborno a parlamentares irlandeses pelo governo britânico, inclusive pela oferta de títulos e terras. Apesar de tudo, com o Ato, a discriminação contra a maioria católica foi sendo abolida.
Figura 1- Bandeira da União do Reino das ilhas britânicas ("Union Jack").
Por esta altura surge a figura de Daniel O'Connell, um político irlandês que lutou pela Emancipação Católica, consubstanciada pelo direito dos católicos poderem candidatar-se ao lugar de deputados no Parlamento britânico, mas também para desfazer o Ato de União que combinava os reinos. O movimento "Guerra de Tithe", de desobediência civil não-violenta, nasce entretanto (1830-1836), pontuado com confrontos esporádicos devido à aplicação da dízima (tithe) aos agricultores para manter a estabelecida religião protestante estatal, a Igreja da Irlanda. Em 1835 dá-se o massacre de Rathcormac quando oficiais, reforçados pelo exercito britânico, obrigaram ao pagamento da dízima à população local. O governo britânico, alarmado com a situação, acabou por suspender as coletas até 1839, quando é introduzido o "Ato Comutação da Dízima", que reduz o valor em 1/4 para os não proprietários de terras. A extinção do imposto só sucedeu com o "Ato da Igreja Irlandesa" em 1869.

Entre 1845 e 1852 deu-se o período da Grande Fome, devido à doença da batata, em que a ilha perdeu cerca de 30% da sua população, não só pela morte por falta de alimento, mas pela emigração. A emigração passou a ser um fluxo constante de muitos irlandeses até à década de 60 do século XX, especialmente em direção aos EUA.

No mandato de Charles Stewart Parnell, o Partido Parlamentar Irlandês alcançou proeminência através de  reformas agrícolas para inquilinos, que acalmou a agitação agrária, e com as suas tentativas de ganhar a aprovação de duas propostas de lei  para conceder à Irlanda uma autonomia nacional dentro do Reino Unido (Home Rule Bills). No início do século XX a autonomia da Irlanda parecia possível, mas foi contestada pela Aliança Unionista, um movimento de irlandeses protestantes que temia a perda de privilégios, propondo a "Ulster Coercion Bill" como resposta à vontade em autonomizar a Irlanda. Em 1914, o Primeiro-Ministro britânico Herbert Asquith, temendo uma revolta, prevê a exclusão temporária do Ulster numa autonomia dada à Irlanda, porém, a 1ª Grande Guerra adia a decisão para o fim do conflito. Entretanto, em 1916, dá-se o "Levante da Páscoa", em que os independentistas irlandeses tentaram fundar a República de Irlanda, mas a insurreição foi debelada numa 1 semana pelos britânicos, que executaram os líderes e prenderam milhares de ativistas, para além de instituirem o alistamento obrigatório na Irlanda em 1918, contra a opinião pública local.

Em Janeiro de 1919, os 73 dos 106 membros eleitos para o Parlamento irlandês do Sinn Féin (movimento político independentista, que significa "Nós mesmos"), recusaram tomar os seus lugares na Câmara dos Comuns, no Reino Unido. Em vez disso, eles criaram um Parlamento irlandês chamado Dáil Éireann (câmara baixa do parlamento), que,  em Janeiro de 1919, emitiu uma Declaração de Independência e proclamaram a República da Irlanda. Montou-se uma campanha de guerrilha contra o domínio britânico na ilha, através do denominado de IRA (Irish Republican Army), que havia sido criado em 1918 a partir do grupo paramilitar "Voluntários Irlandeses".

O início da Guerra da independência deu-se a 21 de Janeiro de 1919.  O IRA sob o comando de Dan Breen, matou 2 membros da Royal Irish Constabulary quando eles se recusaram a rendição do seu posto em Soloheadbeg. Nesse dia  o primeiro Dáil (parlamente) reuniu-se na Mansion House em Dublin, para emitir uma nova Declaração de Independência, exigindo a evacuação das forças armadas britânicas, e convidando as “nações livres do mundo” para reconhecer a independência da Irlanda.

Os nacionalistas imitaram as táticas bem sucedidas do Boers da África do Sul, com invasões violentas, rápidas e sem uniforme a propriedades do governo britânico, especialmente para conseguir armas e fundos, assassinando membros proeminentes da administração britânica na ilha. Michael Collins é o principal mentor e defensor deste método de luta, muito devido ao desaire militar de 1916, em que adotaram um modelo de guerra convencional, que era defendido pelo separatista Éamon de Valera, por legitimar a república. A violência usada no início era profundamente impopular para a maior parte da população Irlandesa, mas a maioria foi convencida quando confrontados com a forte resposta britânica, que ao tentar reconquistar seu controlo sobre o país, recorreram frequentemente a represálias arbitrárias de encontro a ativistas republicanos e população civil. O alvo principal do IRA durante todo o conflito foi a força policial católica Irlandesa, Royal Irish Constabulary (RIC), atacando os seus quartéis, que eram uma fonte de armas. A política de ostracismo para com os homens da RIC foi anunciada pelo Parlamento em Abril de 1919, demoralizando os seus efetivos, ocorrendo muitas desistências e diminuindo os recrutamentos, pois a população via-o com maus olhos pelo seu comprometimento com a repressão britânica, por casos como o "Bloody Sunday" em que a RIC abriu fogo sobre uma multidão que assistia a um jogo de futebol gaélico em Croke Park. Porém, alguns homens da RIC cooperaram com o IRA, fornecendo à organização informações valiosas. Outro aspeto do conflito incluiu as greves dos trabalhadores em oposição à presença britânica na Irlanda, caso dos comerciantes e trabalhadores de Limerick em Abril de 1919 e dos estivadores e os trabalhadores de transportes de Dublin em Janeiro de 1920, recusando-se a carregar material de guerra e tropas britânicas.

A Guerra chegou ao fim em Julho de 1921, procedendo-se às negociações do Tratado Anglo-Irlandês em Londres entre representantes do governo britânico, David Lloyd George à cabeça, e delegados irlandeses, liderados por Arthur Griffith, Robert Barton e Michael Collins. O Tratado não foi inteiramente satisfatório para ambos os lados, pois os britânicos deram mais concessões do que aquelas que queriam dar, mas os irlandeses não chegaram a satisfazer todas as suas aspirações. O novo Estado Livre Irlandês, em teoria, cobria toda a ilha, sujeita à condição de que os 6 condados do nordeste, denominados "Irlanda do Norte", poderiam optar por sair e escolher permanecer parte integrante do Reino Unido. Os restantes 26 condados tornaram-se parte do Estado Livre Irlandês, uma monarquia constitucional sobre a qual o monarca britânico reinava com um Governador-Geral. Este domínio foi constituído quando toda a ilha da Irlanda se separou do Reino Unido a 6 de Dezembro de 1922. No entanto, no dia seguinte, o Parlamento da Irlanda do Norte exerceu o seu direito ao abrigo do Tratado Anglo-Irlandês, e optou voltar a pertencer ao Reino Unido, ação conhecida como a "Partição da Irlanda".

O Tratado provocou a divisão das hostes irlandesas, originando a "Guerra Civil Irlandesa", tendo de um lado as forças Anti-Tratado lideradas por Éamon de Valera, e do outro as forças Pró-Tratado, lideradas por Michael Collins, que defendia que o Tratado seria um primeiro passo para alcançar a liberdade, ou nas suas palavras, "não a derradeira liberdade que todos aspiram para desenvolver a Nação, mas a liberdade para alcançá-la". Inicialmente o IRA divide-se em dois campos opostos: o pró-IRA, que apoiava o tratado, e o anti-IRA, que o rejeitava. Michael Collins criou um exército com muitas dezenas de milhares de veteranos da I Guerra Mundial, que impulsionaram as forças pró-tratado. A falta de apoio público para as forças anti-Tratado e a determinação do Governo para superar essas forças, contribuiu significativamente para a sua derrota. Ainda assim Michael Collins acabou por ser assassinado a 22 de Agosto de 1922 numa emboscada quando seguia para Cork, porém a paz viria a acontecer no ano seguinte.

A destruição causada pela guerra causou prejuízos económicos consideráveis para o Estado Livre, endurecendo a posição dos Unionistas da Irlanda do Norte em distanciar-se da restante Irlanda. O seu primeiro-ministro James Craig e sucedâneos praticaram uma política discriminatória contra a minoria nacionalista/católica, dividindo as vilas e cidades da fronteira em distritos eleitorais de modo a dar aos protestantes a maioria num grande número desses distritos e concentrando a maioria dos oponentes no menor número de distritos possível, as eleições regionais foram "arranjadas" para assegurar o controlo protestante dos conselhos locais.

Em Dezembro de 1937 o Estado Livre Irlandês aboliu o gabinete do Governador Geral e acabou por se extinguir pela publicação da nova Constituição irlandesa, criando um novo estado chamado Éire ou Irlanda. Foi criado o cargo de Presidente da República da Irlanda, mas internacionalmente ao chefe de estado do país permanecia o Rei, que cessou com a passagem do Ato de 1948 da República da Irlanda, que entrou em vigor em Abril de 1949, substituído pelo Presidente da Irlanda. A lei declarou que o país poderia ser descrito como uma República.

Anteriormente, durante a 2ª Grande Guerra, existiram ataques por parte de voluntários do IRA entre Setembro de 1942 e Dezembro de 1944 ("Campanha Nortenha"), concebidos pelo comando do norte, na Irlanda do Norte para acabar com o domínio britânico. Entre Dezembro de 1956 a Fevereiro de 1962 surgiu a "Campanha Fronteiriça", um movimento guerrilheiro do IRA contra alvos da Irlanda do Norte, que provou ser um fracasso. Durante a década de 60, o Primeiro-Ministro da Irlanda do Norte, Terence O'Neill tentou reformar o sistema eleitoral que desfavorecia os católicos, mas teve uma forte oposição de protestantes extremistas líderados pelo reverendo Ian Paisley, que ainda articulou grupos paramilitares de combate ao IRA. Na sequência surge o Movimento pelos Direitos Civis, assim como confrontos entre a Royal Ulster Constabulary (RUC) e as populações de fronteira, sendo enviadas forças britânicas para proteger os nacionalistas de ataques.
Figura 3- Marcha pelos Direitos Civis em 30 de Janeiro de 1972.
A 30 de Janeiro de 1972 deu-se o episódio do "Domingo Sagrento" (Bloody Sunday), quando numa marcha da Associação dos Direitos Civis da Irlanda do Norte em Derry foi atacada a tiro por paramilitares britânicos. Este episódio provocou um extremar de posições dos nacionalistas contra o domínio inglês. O  IRA (dividido em Provisional IRA e Official IRA) e a Associação de Defesa do Ulster ganharam força nos diferentes lados da barricada, adoptando campanhas de violência através de diversos assassinatos, envolvendo mesmo civis inocentes, iniciando um perído conhecido por "Troubles". O IRA com a postura de guerrilha, provocou os famosos atentados de Le Mon, de Enniskillen e de Omagh. Alguns políticos britânicos, especialmente o ex-ministro trabalhista Tony Benn, defenderam a retirada britânica da Irlanda, mas sucessivos governos norte-irlandeses opuseram-se, referindo que a retirada britânica criaria um cenário de guerra civil, com um grande êxodo de centenas de milhares de refugiados para o "lado" de cada comunidade, nacionalistas migrando para a Irlanda, e unionistas para a Grã-Bretanha.

O IRA concordou com um cessar-fogo a Fevereiro de 1975, o qual durou apenas 1 ano quando viram que o governo britânico não estava disposto a negociar com eles. Lançaram então uma nova estratégia, "Guerra Longa", que fomentava a guerrilha e aumentava o ênfase na atividade política através do partido Sinn Féin. A campanha armada do IRA deu-se sobretudo na Irlanda do Norte, mas também atacou em Inglaterra, causando 1.100 membros das forças de segurança britânicas e cerca de 630 civis. Em 1981 a greve de fome irlandesa mobilizou a população para ganhar as eleições, surgindo também a Estratégia "Armalite e ballot box", em que o Sinn Féin contestava as eleições na Irlanda do Norte, procurando-se cada vez mais uma ação política para a resolução do conflito, levando a dissociação do Sinn Féin do IRA, que por sua vez, através de negociações com a Administração Pública britânica, declararam um cessar-fogo em 1994, que foi suspenso em Fevereiro de 1996 pela exigência britânica do seu desarmamento, porém, o cessar-fogo voltou em 1997, culminando com o "Acordo de 6ª Feira Santa", assinado em Belfast em Abril de 1998. Somente em Julho de 2005 o IRA anunciou o fim da sua campanha armada, embora ainda existam grupos que contestam o acordo.

O Acordo da 6ª Feira Santa, assinado pelos governos britânico e irlandês e apoiado pela maioria dos partidos políticos norte-irlandeses, tinha por finalidade acabar com os conflitos entre nacionalistas e unionistas sobre a questão da união da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, ou sua continuação como parte do Reino Unido, fazendo-se referendos separados que foram apoiados pelos eleitores da República da Irlanda e Irlanda do Norte. Através dele os cidadãos da Irlanda do Norte, para além da cidadania britânica, têm o direito de obter a cidadania irlandesa por nascimento. Como resultado do acordo, a Constituição da Irlanda foi alterada de modo que as pessoas nascidas na Irlanda do Norte têm o direito de serem cidadãos irlandeses da mesma forma como qualquer outro habitante da República da Irlanda.


O irlandês James McCLean, que representa os ingleses do Sundenland, está a ser alvo, na rede social Twitter, de ameaças, algumas delas de morte, depois de ter sido incluído na lista de jogadores chamados por Giovanni Trapattoni para o Campeonato da Europa.

terça-feira, 8 de maio de 2012

New York Times: "Those Revolting Europeans"

Por Paul Krugman

http://www.nytimes.com/2012/05/07/opinion/krugman-those-revolting-europeans.html

The French are revolting. The Greeks, too. And it’s about time.

Both countries held elections Sunday that were in effect referendums on the current European economic strategy, and in both countries voters turned two thumbs down. It’s far from clear how soon the votes will lead to changes in actual policy, but time is clearly running out for the strategy of recovery through austerity — and that’s a good thing.

Needless to say, that’s not what you heard from the usual suspects in the run-up to the elections. It was actually kind of funny to see the apostles of orthodoxy trying to portray the cautious, mild-mannered François Hollande as a figure of menace. He is “rather dangerous,” declared The Economist, which observed that he “genuinely believes in the need to create a fairer society.” Quelle horreur!

What is true is that Mr. Hollande’s victory means the end of “Merkozy,” the Franco-German axis that has enforced the austerity regime of the past two years. This would be a “dangerous” development if that strategy were working, or even had a reasonable chance of working. But it isn’t and doesn’t; it’s time to move on. Europe’s voters, it turns out, are wiser than the Continent’s best and brightest.

What’s wrong with the prescription of spending cuts as the remedy for Europe’s ills? One answer is that the confidence fairy doesn’t exist — that is, claims that slashing government spending would somehow encourage consumers and businesses to spend more have been overwhelmingly refuted by the experience of the past two years. So spending cuts in a depressed economy just make the depression deeper.

Moreover, there seems to be little if any gain in return for the pain. Consider the case of Ireland, which has been a good soldier in this crisis, imposing ever-harsher austerity in an attempt to win back the favor of the bond markets. According to the prevailing orthodoxy, this should work. In fact, the will to believe is so strong that members of Europe’s policy elite keep proclaiming that Irish austerity has indeed worked, that the Irish economy has begun to recover. But it hasn’t. And although you’d never know it from much of the press coverage, Irish borrowing costs remain much higher than those of Spain or Italy, let alone Germany. So what are the alternatives?

One answer — an answer that makes more sense than almost anyone in Europe is willing to admit — would be to break up the euro, Europe’s common currency. Europe wouldn’t be in this fix if Greece still had its drachma, Spain its peseta, Ireland its punt, and so on, because Greece and Spain would have what they now lack: a quick way to restore cost-competitiveness and boost exports, namely devaluation.

As a counterpoint to Ireland’s sad story, consider the case of Iceland, which was ground zero for the financial crisis but was able to respond by devaluing its currency, the krona (and also had the courage to let its banks fail and default on their debts). Sure enough, Iceland is experiencing the recovery Ireland was supposed to have, but hasn’t.

Yet breaking up the euro would be highly disruptive, and would also represent a huge defeat for the “European project,” the long-run effort to promote peace and democracy through closer integration. Is there another way? Yes, there is — and the Germans have shown how that way can work. Unfortunately, they don’t understand the lessons of their own experience. Talk to German opinion leaders about the euro crisis, and they like to point out that their own economy was in the doldrums in the early years of the last decade but managed to recover. What they don’t like to acknowledge is that this recovery was driven by the emergence of a huge German trade surplus vis-à-vis other European countries — in particular, vis-à-vis the nations now in crisis — which were booming, and experiencing above-normal inflation, thanks to low interest rates. Europe’s crisis countries might be able to emulate Germany’s success if they faced a comparably favorable environment — that is, if this time it was the rest of Europe, especially Germany, that was experiencing a bit of an inflationary boom.

So Germany’s experience isn’t, as the Germans imagine, an argument for unilateral austerity in Southern Europe; it’s an argument for much more expansionary policies elsewhere, and in particular for the European Central Bank to drop its obsession with inflation and focus on growth. The Germans, needless to say, don’t like this conclusion, nor does the leadership of the central bank. They will cling to their fantasies of prosperity through pain, and will insist that continuing with their failed strategy is the only responsible thing to do. But it seems that they will no longer have unquestioning support from the Élysée Palace. And that, believe it or not, means that both the euro and the European project now have a better chance of surviving than they did a few days ago.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma nova França para uma viragem na UE

E não é que François Hollande se torna no segundo socialista a líderar um Governo na V República Francesa! Um país tradicionalmente de Direita fartou-se da política ziguezagueante de Sarkozy e da austeridade sem solução à vista. Será que Hollande terá que abdicar de algumas promessas que fez ao eleitorado francês? Parece-me evidente! Pois no fundo não é só o Governo de França que tem mão no país... os mercados internacionais têm uma palavra a dizer!

Figura 1- Hollande pela UE.
Porém, penso que poderá ser um ponto de viragem para a UE... é aí que o governo de Hollande tem de apostar realmente. A França deixará de estar a reboque da Alemanha para assumir um papel de protagonista na construção europeia, como sempre fez, apostando numa maior coesão e com ênfase na política de crescimento, em vez de se bater somente pela austeridade.

Portugal vai continuar atrás de Berlim, ou vai aproveitar os novos ventos? Vamos aguardar... mas são momentos de grande definição!

domingo, 6 de maio de 2012

Diário de Notícias: "Cunha está institucionalizada entre governantes"

Nunca é demais reafirmar que a cultura prevalente no serviço público em Portugal tem de mudar, para o bem da nossa sociedade e do nosso futuro como país e nação. A mudança tem de começar a partir do topo, das estruturas que nos dirigem, cujos protagonistas são eleitos para nos liderar por via de um partido que muitas vezes está corrompido nos seus alicerces através de pequenas agendas pessoais de poder.


http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2476753&page=-1

A 'cunha' e a troca de favores está "institucionalizada" entre "colegas do mesmo Governo", conclui o relatório do Sistema Nacional de Integridade (SNI) que vai ser apresentado na segunda-feira.

sábado, 5 de maio de 2012

Diário de Notícias: "'O Grito de Munch bate recorde mundial em leilão"

Fico sempre um bocado chateado quando quadros desta dimensão vão parar a mãos de colecionadores privados, privando, na maioria das vezes, o grande público de poder apreciar a obra em pleno. Mas é assim mesmo, os privados têm dinheiro para investir 120 milhões de euros em obras de arte emblemáticas, e os Estados, neste momento, têm preocupações mais urgentes para com os seus cidadãos.
Figura 1- "O Grito".
Neste caso, temos a consolação de existirem 3 versões do quadro em museus públicos noruegueses, pintados entre 1883 e 1895, uma opção tomada pelo autor, Edvard Munch, enquadrada numa lógica de responder à procura existente. "O Grito" é um dos expoentes máximos do Expressionismo, capturando muito bem a sensação de angústia e dor sentida por uma figura humana de aspeto frágil, e em que as pinceladas parecem reproduzir ondas sonoras.



Uma das versões do quadro do norueguês Edvard Munch foi adquirido num leilão por 119,92 milhões de dólares, tornando-se a obra mais cara adquirida desta forma.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Resumo do 1º de Maio de 2012 em Portugal

Como já não há pachorra para ouvir falar do caso "Pingo Doce", que abafou completamente o 1º de Maio como dia do Trabalhador, vou tentar resumir o fenómeno em alíneas que são interessantes, na minha opinião, de reter:

1. O povo português está desesperado ou assustado devido à crise económica;
2. Os interesses individuais causam mais dinamismo, devido aos seus pequenos efeitos a curto prazo, do que a luta ideológica por interesses coletivos, com grandes efeitos a longo prazo;
3. Os interesses individuais levados ao extremo são pautados pelo egoísmo, violência e desumanidade;
4. Grande publicidade para o "Pingo Doce";
5. Soares do Santos, de forma ideológica e travessa, "calou" o movimento de boicote à superfície comercial... um movimento que existiu no ano anterior pelo fato da empresa obrigar e coagir os funcionários a trabalhar no dia 1 de Maio;
6. Há clara legitimidade da Jerónimo Martins SA em fazer a campanha promocional. Há também legitimidade do consumidor em aderir à mesma;
7. O pequeno comércio teve um dia complicado... e os produtores? Como ficaram?
8. O Dia do Trabalhador é um dia festejado internacionalmente... um dia tradicional de reivindicação de Direitos dos Trabalhadores, cuja data foi escolhida durante a 2ª Internacional Socialista para efetuar uma manifestação anual pelas 8 horas de trabalho diário... um dia simbólico pela homenagem às lutas sindicais de Chicago de 1886 (Massacre de Haymarket). 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Moita Flores para Oeiras?

A sabedoria popular diz: "Mais vale cair em graça do que ser engraçado. É um velho ditado português que se aplica na perfeição a casos que ocorrem neste retangulo à beira mar plantado. Muitos militantes do PSD Santarém, os mais conscientes digamos, respiraram de alívio pelo fato de Francisco Moita Flores abandonar o município ribatejano no fim deste mandato, porém, o PSD de Oeiras, viu no conhecido "novelista" uma oportunidade de reconquistar a câmara de Oeiras, procurando unir a desunida multidão laranja ou alaranjada do concelho, pois já se viu que não se será com uma união a Paulo Vistas (IOMAF) ou a David Justino (o PSD nacional terá palavra) que tal feito será conseguido.
Figura 1- Moita Flores entusiasma-se com uma boa tourada.
Moita Flores já andava a tratar dos papéis para a reforma, de acordo com uma entrevista ao jornal "i" em Julho de 2011, cansado de um mundo da política feito de medos, amuos, carneirismos e mesquinhez, reconhecendo no mundo autárquico os "(...) clientelismos, caciquismo, desleixos, visões deturpadas e tribais do poder.". Aliás, quando questionado sobre a hipótese de ir para uma câmara maior, como a de Oeiras, referiu que isso não estava nos seus horizontes, referindo claramente: "Não quero ser presidente de câmara nenhuma, deputado, assessor.". Porém, quando a concelhia de Oeiras lhe fez a proposta, o ex-inspetor da PJ declarou estar "Disponível para o serviço público", considerando mesmo que a proposta era "sedutora", mudando a sua posição em menos de 1 ano.

A oposição do PSD em Santarém aproveitou o hype para denunciar a má gestão de Moita Flores à frente do município escalabitano. A CDU, em conferência de imprensa para a análise das contas de 2001 do município, acusa o executivo PSD de "um contínuo aumento do consumo corrente, com a dívida a fornecedores a chegar aos 40 milhões de euros", e que "Ao contrário do propagandeado pelo doutor Moita Flores e pelo PSD, a dívida não é consequência do investimento realizado", pois, "apesar das inúmeras promessas feitas, dos inúmeros projetos apresentados com pompa e circunstância", o investimento realizado nos últimos seis anos "raramente ultrapassou os 13% da despesa total efetuada", sendo preocupante o fato que "(...) a receita normal da câmara, que ao contrário do afirmado não desceu em valores globais, só chegue para pagar um terço das dívidas a curto prazo", (...) uma péssima gestão, quase uma gestão criminosa e os próximos anos serão muito duros, sobretudo se a Lei dos Compromissos ficar como está" (ter em caixa a 3 meses o dinheiro para pagar endividamento a curto-prazo). A CDU acusa ainda a gestão laranja de ter aumentado os custos com o pessoal, muito devido à criação de empresas municipais. O PS de Santarém menciona a "pouca ou nenhuma obra realizada, os vários erros em concursos, as freguesias, fornecedores e empreiteiros em dificuldades porque a Câmara não paga", referindo ainda que "(...) não houve preocupação com a necessidade de contenção de despesas e por isso chegámos a este descalabro de termos uma astronómica dívida de 100 milhões de euros, quase o dobro da que herdou da gestão do PS em 2005 e que era de 51 milhões de euros".

Olhando para as contas de 2010, as mais recentes disponíveis no sítio da Câmara, podemos verificar no Balanço que, naquela altura, Santarém tinha como liquidez imediata 8.690.530,68€, contrapondo a uma exigibilidade imediata em termos de dívida de curto prazo de 44.511.226,87€!!!!! Um número bastante preocupante, mostrando um endividamento galopante do município com recurso ao crédito, especialmente quando se verifica que o total de Fundos Próprios  (Ativo menos o Passivo) "realizáveis" do Município é de apenas 48.296.654,52 (116.957.747,94€ são os Fundos Próprios, aos quais se devem retirar os Bens de Domínio Público, pois são inalienáveis, imprescritiveis e impenhoraveis, totalizando 68.661.093,42€). Apesar disso o fluxo entre receitas correntes e despesas correntes é favorável para a Câmara, embora as despesas de capital acabem por contrabalançar as contas.

Na Demonstração de Resultados verifica-se que os Proveitos e Ganhos da Câmara de Santarém em 2010 atingiram 44.146.873,08€, porém 47,2% deles provém de Transferências e Subsídios atribuídos pelo Estado Central, que com o tempo tenderão a diminuir devido à crise financeira, colocando Santarém numa frágil dependência relativamente ao Governo. Aliás, no Relatório da Câmara, no resumo dos proveitos, até vão mais longe ao considerar o peso do Estado em 50% nas receitas de Santarém.
Figura 2- Resumo dos Resultados de 2010 da CM-Santarém (retirado do sítio web)
Por fim, é de notar, pelo visionamento da Figura 2, que os Resultados Operacionais de Santarém foram negativos em 1.777.641,36€, o que é preocupante porque se tratam de operações nucleares do município, verificando-se pela sobreposição dos custos operacionais  aos proveitos operacionais. Os Resultados Correntes são um saldo negativo de 935.323,87€, sendo a soma dos Resultados Operacionais com os Resultados Financeiros. O Resultado Líquido do Exercício quedou-se em -432.012,80€, um mau indicador do desempenho económico-financeiro da entidade durante 2010, correspondendo à soma dos resultados operacionais, financeiros e extraordinários.

Eis aqui o cartão de visita do principal rosto da autarquia de Santarém durante os últimos 2 mandatos, convidado pela concelhia do PSD de Oeiras para ser o seu candidato à Câmara Municipal nas próximas eleições autárquicas!

terça-feira, 1 de maio de 2012

i: Carne Ross - “Democracia participativa não é comunismo. E já se provou que funciona!”

O "i" publica uma entrevista bastante interessante a Carne Ross, diretor da Independent Diplomat, organização sem fins lucrativos de apoio à estratégica e técnica diplomática. Ross foi funcionário público no Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico e na missão do Reino Unido na ONU, onde serviu como perito em questões do Médio Oriente, lidando com questões relacionadas com o Iraque e o Afeganistão. Nesse âmbito acabou por condenar as premissas apresentadas pelo governo britânico que levaram às invasões, acabando por abandonar o funcionalismo público.  É apoiante da ideia da Assembleia Parlamentar das Nações Unidas (UNPA), uma possível adição ao sistema da ONU, que ambiciona eleições diretas, para a composição do seu parlamento, pelos votos dos cidadãos de todo o mundo, uma ideia com raízes na fundação da Liga nas Nações em 1920.

Na entrevista, tendo em vista a discussão do seu livro "Revolução sem Líder", aborda a crise e  a falência do sistema político do mundo ocidental, dos seus agentes (partidos) e funcionamento, dominados por interesses corporativos empresariais. Apela a uma revolução política e social em torno de um sistema democrático participativo, em que os cidadãos devem estar na linha da frente para resolver os problemas da comunidade e construir um futuro que interesse a todos e não somente a alguns.

http://www.ionline.pt/mundo/carne-ross-democracia-participativa-nao-comunismo-ja-se-provou-funciona

Por Joana Azevedo Viana

O i falou com o autor de “A Revolução sem Líder”, livro explosivo sobre a solução de futuro que nos resta, segundo o ex-diplomata britânico

Carne Ross é um político desiludido. Por saber que Saddam Hussein não tinha armas de destruição em massa e porque “a guerra deve ser sempre o último recurso”, o diplomata abandonou a ONU pouco antes da invasão do Iraque. Quatro anos depois, em 2006, começou a escrever “A Revolução sem Líder” – livro que chegou às bancas portuguesas há um mês e onde o fundador do instituto Independent Diplomat defende a criação de um novo sistema político como última solução para os actuais problemas. “Anarquismo” é o conceito que criou para definir a democracia participativa em falta.