sábado, 10 de janeiro de 2015

Porque o tempo desgasta a memória...



Pedro Santana Lopes foi Primeiro-Ministro de Portugal durante 136 dias após o deserção de Durão Barroso para Bruxelas num período já de "pré-crise" do país (ninguém se lembra da expressão de "estarmos de tanga" após promessas de "choque fiscal"?). Depois de uns anos de uma imagem política completamente "morta", eis que aparece como candidato presidencial a Belém.

O facto do anterior Primeiro-Ministro ter saído do Governo poderia ser motivo mais que suficiente para Jorge Sampaio, na altura o Presidente da República, demitir o governo e convocar novas eleições pela simples falta de legitimidade democrática. O que veio a acontecer durante o período governativo do atual Provedor da Santa Casa da Misericórdia veio reforçar ainda mais essa atitude, ainda hoje muito contestada por pessoas ligadas ao PSD, e que tem ganho força com o desgaste da memória provocada pelo avançar dos anos.

Vamos então apresentar alguns factos/acontecimentos que aconteceram no decorrer do curto, mas atribulado, período governativo de Pedro Santana Lopes:



17 de Julho – Tomada de posse do Governo liderado por Santana Lopes;

21 de Julho – Tomada de posse dos secretários de Estado do Governo. Acontece a primeira confusão. Em cima da cerimónia, Teresa Caeiro troca de pasta da Defesa para a Cultura;

Setembro - vários erros no concurso de colocação de professores dos ensinos básico e secundário gera um atraso no arranque do ano letivo. A situação da colocação de 6000 professores prolonga-se durante todo o seu período governativo. 

6 de Outubro – Marcelo Rebelo de Sousa sai da TVI. Surgem suspeitas de acusações de pressões do Governo junto de Paes do Amaral, para que os comentários de Rebelo de Sousa fossem menos violentos para o Executivo.

2 de Novembro - Rui Gomes da Silva, Minostro dos Assuntos Parlamentares, acusa o comentador da TVI Marcelo Rebelo de Sousa de odiar o Governo e de "ser pior que todos os partidos da Oposição juntos". Rui Gomes da Silva contestou o formato do programa, por "não ter contraditório", uma situação que considerou "inédita na Europa". No dia 6, dois dias depois de um encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e o presidente da Media Capital, Miguel Paes do Amaral, o professor e ex-presidente do PSD anuncia o abandono do espaço de comentário que detinha aos domingos no Jornal Nacional da TVI. 

12,13 e 14 de Novembro – Congresso do PSD. Surgem notícias de desentendimentos dentro da coligação. Os congressistas hostilizaram o parceiro de coligação, o PP.

15 de Novembro - José Rodrigues dos Santos, director de informação da RTP pede a demissão do cargo, no dia 15, alegando intromissão do conselho de gerência da empresa na sua esfera de competência.

17 de Novembro – A Alta Autoridade para a Comunicação Social emite um parecer considerando que houve pressões do Governo no caso Marcelo.

19 de Novembro – O Presidente da República veta a Central de Comunicação, uma das medidas do Governo.

24 de Novembro – Santana Lopes remodela o Governo. Entram alguns secretários de Estado novos e ministros do núcleo duro trocam de pastas. Santana admite problemas de coordenação na sua equipa.

28 de Novembro – O recém empossado Ministro da Juventude, Henrique Chaves, apresenta a sua demissão, acusando Santana Lopes de falta de verdade e de lealdade. Henrique Chaves, sem sequer avisar o primeiro-ministro, acusou, num fax enviado à Agência Lusa, o chefe do Governo de falta de coordenação e falta de lealdade.Santana Lopes compara o Governo a "um bebé nascido de um parto difícil e, por isso, a necessitar de incubadora". O primeiro-ministro critica elementos do seu partido, comparando-os a "irmãos mais velhos que em vez de acarinharem o bebé, dão estaladas e pontapés".

29 de Novembro – Santana Lopes vai a Belém reunir-se com Sampaio para falarem sobre a crise instalada com a saída de Chaves. Marcam um no encontro para quarta-feira.

30 de Novembro – Santana Lopes regressa a Belém para levar o nome do substituto de Henrique Chaves e Sampaio informa-o de que vai convocar eleições antecipadas.


A adicionar a estes eventos, é de notar que a gestão de Santana Lopes na Câmara Municipal de Lisboa já havia sido caracterizada pelo Tribunal de Contas como despesista. Aliás, olhando para a série histórica do rácio da dívida pública verifica-se que, até surgir a crise financeira (2008), o agravamento do endividamento em percentagem do produto deu-se aquando da liderança das coligações PSD/CDS de Durão Barroso (2002 a 2004) e de Pedro Santana Lopes (2004) à frente do Governo. De acordo com as bases de dados da Comissão Europeia, o rácio da dívida pública ultrapassou pela primeira vez a fasquia dos 60% do PIB, imposta pelo Pacto de Estabilidade, em 2004. Assim, o período de Durão Barroso/Santana Lopes foi responsável por um aumento do rácio da dívida de 8,1% do PIB (ver aqui). 


domingo, 16 de março de 2014

A Ucrânia, a península da Crimeia e os resquícios da Guerra Fria


Por mais voltas que se dê, a Guerra Fria nunca foi apenas um conflito ideológico entre os conceitos de comunismo e de capitalismo, mas também o reflexo rivalidades hemisféricas e económicas, consubstanciadas em diferenças sociais, culturais e religiosas, ou seja, é parte de uma batalha permanente entre o Ocidente e o Oriente.

Após a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, a Rússia passou por um estado de hibernação, muito devido a dificuldades económicas e financeiras, mas também por uma crise de identidade, pois não nos podemos esquecer que o Estado Socialista na Rússia teve uma duração de quase um século!!! Porém, era de prever que o gigante russo iria acordar mais tarde ou mais cedo para se envolver no jogo político-estratégico ao nível global.
Figura 1 - Mapa da Ucrânia.
A libertação dos estados orientais da Europa do jugo soviético e a sua aproximação ao Ocidente nunca poderia ser algo tão pacífico como nos quiseram levar a acreditar. Nos primeiros tempos da crise russa, a União Europeia (UE) aproveitou esse facto para se expandir para Oriente, especialmente naqueles países que já vinham manifestando a vontade de uma maior abertura aos ideais do Ocidente, todavia, a tradicional Rússia, longe da aproximação ideológica ao Ocidente pela democratização e descentralização provocada por Boris Ieltsin, está de volta, sob a orientação de um ex-KGB, Vladimir Putin.

A Ucrânia, em termos geoestratégicos, fica no "pátio" da Rússia, ou seja, funciona como Estado tampão, tanto em termos ideológicos, como em termos militares para o seu gigante vizinho. Deste ponto de vista, é claro o interesse da Rússia em ter a Ucrânia como um Estado satélite, criando um protetorado aos governos que sejam pró-russos, o que não se coaduna com a vontade de expansão da UE para um mercado apetecível, que vem crescendo paulatinamente ao longo dos anos, e que tem encontrado eco no povo ucraniano, que anseia por uma maior qualidade de vida. O que os europeus do mercado único não perceberam, é que o gigante russo iria acordar ao "cutucar" a Ucrânia, esquecendo a enorme dependência energética (gás natural) que alguns dos seus Estados têm relativamente à Rússia, e que têm uma clara desunião e inferioridade em termos militares devido ao desarmamento que teve lugar com o fim da Guerra Fria e com a consolidação da UE. A própria Ucrânia é também bastante dependente dos recursos energéticos russos, daí o acordo que fizeram com a Rússia no sentido de ceder a esta a instalação de uma base militar em Sebastopol (cidade autónoma que fica na península da Crimeia) em troca de 40 mil milhões de dólares em gás natural.

A Crimeia é uma região da Ucrânia que tem maioria de população russa, quase ascendendo aos 60% (o restante divide-se entre ucranianos e tártaros), pelo que não é de estranhar que tenham recebido o presidente pró-russo Viktor Yanukovich após o golpe de estado que o depôs como governante da Ucrânia. Os laços genéticos e culturais da população da Crimeia estão com a Rússia, e deste modo não é de estranhar que estejam do seu lado contra a integração da Ucrânia na UE, preferindo sair do estado ucraniano para se integrar no estado russo, tal como o referendo irá confirmar, ainda para mais com a atual ocupação militar e propaganda na região pelos russos, pelas irregularidades que se estão a assistir durante o ato eleitoral e pelo boicote dos tártaros ao mesmo. 
Figura 2- Manifestação ucraniana pró-UE em Kiev (2013).
Desde tempos remotos que a região da Crimeia sofreu ocupações de diferentes povos, desde os cimerianos, citas, gregos, godos, hunos, bizantinos, mongóis, italianos (venezianos e genoveses), até à ocupação da península pelos Otomanos em 1475. Os Tártaros, povo asiático de religião islâmica, afluíram à região desde o século XIII e consolidaram-se ainda mais com o domínio turco da Crimeia, tornando-se a etnia dominante na região praticamente até ao século XX, mesmo com a conquista do território pelos russos em 1777, que tornou a Crimeia num protetorado até 1783, quando é definitivamente anexada pela Rússia. A Península foi palco da denominada "Guerra da Crimeia" (1853-1856) que opôs os russos contra o ocidente (Reino Unido, França e Sardenha) e os otomanos, culminado com a vitória destes últimos. Durante a guerra civil russa (1919-1922) também foram travadas duras batalhas, tendo sido formada a Republica da Crimeia que, em 1922, aderiu à URSS. Foi na Crimeia que se deu a viragem 2ª Grande Guerra, quando os soviéticos retomaram a região em 1944, que havia sido praticamente conquistada pelos alemães (com exceção de Sebastopol).

José Estaline, o ditador soviético, aproveitou o este período para fazer uma limpeza étnica na Península, pela deportação e genocídio dos tártaros e de outras etnias que ali residiam, acusando-os de compactuarem com a ocupação nazi, uma ação que apenas em 1989 foi considerada ilegítima pela ONU. Esta operação de russificação de áreas geográficas não foi "virgem" na História da URSS, de relembrar a deportação de alemães da região historicamente germânica de Kaliningrado (antiga Königsberg), passando de uma maioria populacional alemã para uma maioria russa. Entretanto em 1954, o ucraniano Nikita Khruschev, líder da URSS à data, transfere a região da Crimeia para a Ucrânia, como presente da comemoração dos 300 anos de amizade entre os 2 estados, o que apesar das tensões criadas, se manteve com a proclamação de independência do país em 1991, após referendo.
Figura 3- Fotografia Nazi que documenta a operação Barbarossa, que previa a invasão da URSS (1941).
Sou a favor da autodeterminação das populações para decidir o seu destino e creio que a integração da Crimeia na Federação Russa é a melhor solução, desde que permita à Ucrânia aderir à UE sem haver qualquer represália, mas convém lembrar que o modus operandi dos russos não deve ser legitimado, tanto pelo que fizeram no passado, como pelo que estão a fazer no presente, a ONU, os EUA e a UE devem unir-se no sentido de procurar a melhor solução para a região e evitar que a extrema-direita nacionalista da Ucrânia tome conta do sentimento de injustiça que possa grassar naquele país.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nelson Mandela (1918-2013)


Invictus (1888)

Do avesso desta noite que me encobre,
Preta como a cova, do começo ao fim,
Eu agradeço a quaisquer deuses que existam,
Pela minha alma inconquistável.

Na garra cruel desta circunstância,
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta apenas o horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.

Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.


William Ernest Henley (1849-1903)

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Grande Rui Costa!

Que dizer mais do fantástico ciclista Rui Costa? E que bonito foi vê-lo chorar ao tocar o hino nacional. Numa altura em que todos duvidam do "ser português", eis uns estóicos desportistas que, apesar de todas as adversidades, voltam a colocar o nosso ego lá em cima!

Rui Costa conquistou, no passado domingo, um feito inédito para o ciclismo português ao sagrar-se campeão mundial da modalidade de estrada, vencendo a prova de fundo nos Mundiais de Florença (Itália), à frente dos espanhóis Joaquin Rodriguez e Alejandro Valverde.

domingo, 29 de setembro de 2013

João Sousa faz história no Ténis nacional

Portugal é um país que poucos apoios dá à prática desportiva. Com efeito é preciso muita perseverança dos miúdos e dos seus pais, juntamente com a "bagagem financeira", para se formarem atletas de elite e altamente profissionais neste país. As semanas preenchidas, o cansaço das deslocações e da competição é aliado neste país à falta de organização das federações e ao escasso ou nenhum apoio financeiro que as famílias dos pequenos desportistas têm para participarem nas ditas competições. Tudo isto faz com que os atletas desistam, ou pouco evoluam dentro do seu potencial... sendo necessário mais condições infraestruturais, mais apoio ao desporto jovem, não só em termos de incentivo financeiro, mas de incentivo à prática desportiva, fomentando-se assim mais competição, mais saúde e mais e melhores futuros atletas, pois é assim aumentada a base de recrutamento, e consequentemente o leque de desportistas com capacidades inatas.

João Sousa é um tenista profissional português, o n.º 1 de Portugal e o n.º 77 a nível mundial. A sua ambição em chegar a esta profissão deveu-se muito à sua carolice e dos seus pais, ou seja, muito sacrificio pessoal e financeiro. Imaginem só se o nível competitivo do ténis português fosse outro... se calhar João Sousa teria evoluído muito mais do que fez tendo competido com o nível atual. Claro que já outros tenistas, melhores ou não que João Sousa, que chegaram mais acima em termos de ranking (Rui Machado), e que também estiveram perto de vencer um torneio do ATP (Frederico Gil), mas as circunstâncias e o talento fizeram com que João Sousa fizesse história ao ganhar para Portugal o 1º torneio ATP da história.

O vimaranense bateu na final do torneio ATP de Kuala Lumpur (Malásia) o francês Julien Benneteau, n.º 33 do ranking mundial, em 3 sets (2-6, 7-4 e 6-4), escrevendo uma página especial do ténis nacional, e isto apesar do escasso apoio que se dá ao Desporto em Portugal. Daí achar que devemos ter a noção, como nação, que "não se fazem omeletes sem ovos"!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Síria ou não Síria... eis a questão!

Penso que a situação da Síria tem sido tratada, por alguns opinadores, de forma leviana. Fala-se muito da traição de Barack Obama em relação ao seu manifesto eleitoral ao ponderar uma invasão à Síria... fala-se muito dos interesses norte-americanos e europeus numa possível invasão. Não se falam é das atrocidades que estão a acontecer naquele país todos os dias, mergulhado numa guerra civil claramente desnivelada!

Sei que muita gente está traumatizada com as guerras do Iraque e do Afeganistão... pelos custos que implicou em termos de vidas e em termos financeiros, isto para além dos falsos motivos que levaram à invasão do Iraque, ou seja, as armas de destruição maciça. Porém, não estaremos a adoptar uma postura infantil ao assumirmos prontamente uma posição anti-guerra sem sequer prestar atenção aos argumentos e provas que foram colocadas em cima da mesa? Como sejam a utilização de armas químicas pelo regime de Assad, proibidas pela Convenção de Genebra (que foi ratificada pela Síria) e o aumento enorme de baixas civis e de refugiados naquele país. Não estaremos a adotar uma atitude de passividade semelhante aquela que foi adotada no período entre as 2 grandes guerras?

No meio disto tudo, a ONU, tal como a Sociedade das Nações, mostra-se completamente ineficaz, desvalorizando os impedimentos aos seus inspectores nos países alvo de suspeitas e não tomando decisões por conveniência económica e política dos membros permanentes do seu Conselho de Segurança. Foi assim nos casos dos regimes do Sudão e da Coreia do Norte, protegidos pela China, e está a ser agora com o regime da Síria, protegido pelos russos. A ONU mostra constantemente que os interesses de certos países e regimes está claramente acima dos interesses das populações, criando um sentimento de desagregação, inutilidade e descrédito nesta instituição internacional.

Por fim, fala-se agora da possibilidade de uma não invasão dos EUA, França e Reino Unido caso a Síria aceite a proposta russa de entrega das armas químicas que tem em seu poder. Admitindo esse cenário como uma possibilidade interesse, temos que verificar, porém, que foram cometidos crimes de guerra e é preciso encontrar os responsáveis para serem julgados, de acordo com a Convenção de Genebra, pelo Tribunal Internacional de Justiça, em Haia.

sábado, 31 de agosto de 2013

Ataque cerrado ao trabalhador

O governo de Passos Coelhos, com a desculpa da Reforma do Estado e da igualdade entre trabalhadores do setor público e do setor privado, tem multiplicado as medidas em torno do trabalhador que exerce Funções Públicas, no sentido de retirar alguns dos direitos e regalias que dispunha. Tudo isto faz parte da chantagem que pretende que os trabalhadores públicos aceitem as rescisões amigáveis/miseráveis de forma a emagrecer o mapa de pessoal do Estado, pois se não vai a "bem", vai a mal! O discurso oficial passa pela tal igualdade entre trabalhadores, mas não tem em atenção alguns aspetos importantes:
  • O Estado, como entidade legisladora e moral sobre matérias laborais e sociais, tem de dar o exemplo como empregador a outras entidades empregadoras. Ou seja, se pugna pelos direitos dos trabalhadores, pela sua não exploração, pela segurança do trabalho, defesa da família e do bem-estar social, tem de efetivamente aplicar essas diretivas sobre os seus trabalhadores, dando o exemplo. E não se duvide que algumas empresas tomam o Estado como barómetro, e isso foi visível tanto ao nível da retirada de subsídios, como ao nível do aumento da quotização para um sistema privado de saúde;
  •  A desvantagem de uns trabalhadores em relação aos outros não é somente num sentido. De notar que os aumentos salariais e a passagem para outros níveis na carreira estão completamente congelados na Administração Pública há alguns anos. É também de assinalar que técnicos especializados de nível académico, ou seja, de certas carreiras, ganham bastante menos no público do que no privado... e a única maneira de atrair os melhores dessas carreiras para o Funcionalismo Público passa por dar outras regalias que não as salariais;
  • A igualdade do Público em relação ao Privado que se apregoa é em relação a quê ou a quem? Aos trabalhadores fabris? Ou a trabalhadores de bancos e instituições de consultoria? No privado as questões laborais têm um largo e diverso espectro entre si, pois constitui muitas realidades distintas, algumas delas mais favoráveis do que aquelas que se encontram na Administração Pública, outras muito desfavoráveis... e neste âmbito a quem deve o Estado comparar-se? Aos melhores (apesar de minoritários) ou aos piores? Reger-se-á pelo mínimo dos direitos laborais que a legislação que redigiu estabelece para os trabalhadores? Penso que não!
A questão das 40 horas semanais é uma questão delicada, pois se por um lado é injusto relativamente ao que se passa com a maioria (não todos) dos trabalhadores no Privado, por outro lado estamos a reforçar o retrocesso civilizacional, que retira tempo de lazer e de família aos trabalhadores, o que também pode ser prejudicial à economia, não só ao nível da economia do lazer, mas ao nível da diminuição da natalidade (sustentabilidade da segurança social) e na repercussão em termos de desenvolvimento humano que terá a falta de tempo dos pais para com os filhos. Para além do mais é menos um atrativo que a Administração Pública oferece, dentro do mercado de trabalho, para as pessoas com melhores qualificações e aptidões, que tendencialmente escolherão o Privado, que já em si pratica melhores salários e oferece prémios de desempenho. E este aumento de horas não é acompanhado por um equivalente aumento salarial, tratando-se de outro assalto aos bolsos dos trabalhadores... o ataque seguinte do Governo passará pelos dias de férias que se atribuem na Administração Pública.

Por fim, a questão que foi declarada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, a questão da passagem para o desemprego após a passagem de 1 ano do trabalhador em situação de Requalificação ou Mobilidade Especial. Esta é uma questão válida apenas para os trabalhadores públicos que detêm vínculo laboral antes de 1 de janeiro de 2006, pois aos que estabeleceram vínculo posteriormente a esta data isso já acontece, o que configura pois uma desigualdade entre os próprios funcionários públicos. O tribunal alegou que a mudança legislativa do Governo vai contra os direitos adquiridos pelas legitimas expectativas que o trabalhador tinha ao estabelecer o vínculo com o Estado. Isso até é verdade, mas, se formos a ver vem, quantas expectativas dos trabalhadores e reformados não foram defraudadas ao longo destes anos de crise? E que tal darem atenção a certos direitos adquiridos de ex-deputados e políticos que exerceram cargos públicos, como as subvenções vitalícias e outras regalias, que não são questionadas exatamente com base nessas tais expectativas que tinham aquando da nomeação, apesar do altruísmo em querer trabalhar em prol do país... está claro! 

domingo, 14 de julho de 2013

Jorge Jesus, o catedrático potenciador



Vou começar este texto logo "a abrir": Na minha opinião o SL Benfica não devia ter renovado contrato com o treinador Jorge Jesus (JJ)! Se há uma década atrás esta opinião seria consensual entre os benfiquistas em virtude dos parcos resultados alcançados pelo técnico, nos dias que correm não é bem assim, isto apesar de em 4 anos ter perdido 3 campeonatos de forma consecutiva... e num grande clube como o Glorioso isso normalmente é imperdoável.

Claro que os tempos são outros, o FC Porto detém a hegemonia do futebol nacional e o SL Benfica tem de construir o seu caminho de forma sustentada, sem artifícios anti-fairplay, para poder chegar ao topo. Porém, o que é certo é que o SL Benfica, desde os tempos de Quique Flores, que possui grandes planteis, sendo que, do meu ponto de vista, tem tido o melhor plantel em Portugal desde a época de chegada de JJ ao clube. E assim é fácil ser treinador de futebol, já que basta o mínimo de conhecimento, bom-senso e capacidade de trabalho para se ter sucesso, pois os "meninos" fazem o resto dentro de campo. O que é certo é que isso não acontece no SL Benfica de JJ, um treinador que custa 4M de euros/época!

O que é incrível, e de certa forma humilhante, é que na época 2011/2012 o SL Benfica dispôs de 5 pontos de vantagem sobre o 2º classificado durante a 2ª volta do campeonato, enquanto na de 2012/2013 tinha 4 pontos de vantagem ao entrar para a antepenúltima jornada do campeonato! Um das principais erros  que originou este debacle passa pela má gestão física do plantel pelo denominado "Richard Gere da Damaia", cujas equipas esfolam os jogadores titulares até rebentar. Isso até pode passar despercebido em clubes como o Braga ou o Belenenses, mas não se pode olvidar que o SL Benfica, ao contrário desses clubes, faz quase 100 jogos por época.

Como se isso não bastasse, a teimosia táctica é outro grande handicap de JJ, que não abdica de um jogo extremamente ofensivo. Todavia, há situações e situações, e se é verdade que em 90% dos jogos o Glorioso tem de jogar assim mesmo, existem 10% de casos em que é necessário deter o controlo do meio-campo e do adversário, não só porque é um adversário forte, mas em virtude do que se está a desenrolar em campo e com o resultado... mas JJ só sabe jogar daquela maneira e com o mesmo sistema táctico, o que deixa o meio-campo e a defesa do SL Benfica ao "Deus dará". Para além disso, é normal este treinador "borrar a cueca" ou tomar iniciativas algo estranhas contra o FC Porto ou em jogos decisivos, como colocar David Luiz a lateral esquerdo para travar Hulk, ou fazer entrar em campo jogadores como Pablo Aimar e Roderick Miranda, que até então pouco ou nada tinham jogado durante o campeonato.

JJ tem também um problema de conflitualidade com os jogadores... pois o técnico é, digamos, um bocado desbocado e escandaloso na hora de apontar os erros dos seus jogadores, fazendo-o com fleuma e vernáculo, e isso tem trazido problemas com alguns atletas, caso de Rúben Amorim, Miguel Vítor, Bruno César, Óscar Cardozo, etc. É também um técnico que dá muito pouco espaço aos jovens provenientes da Formação e a jogadores que tenham vindo sem o seu aval, mas forçando a "barra" naqueles em que a contratação teve o seu dedo, acabando por jogar tempo a mais. Tudo isto origina fenómenos de "encostamento às boxes" de certos jogadores, como Nolito, Urreta, Rodrigo Mora, Rúben Amorim, que em certas alturas do campeonato, pelo desgaste e lesões, poderiam ter sido bastante úteis. Muito se fala da sua capacidade em potenciar jogadores e tal... para mim é uma falsa questão pois se um jogador tem qualidade e capacidade de trabalho, mais cedo ou mais tarde, explode para o futebol... claro que o treinador pode ajudar, e JJ até pode ser bom nisso, mas e o caso Sidnei, Bruno César, Urreta, entre outros, que vieram como potenciais craques e depois não deram em nada... JJ, nestes casos, é um despotenciador? Também não vou tão longe!

Claro que apesar de tudo isso, o JJ não deixa de ser um bom treinador, teimosia e bazófia aparte, porém, um treinador que não ganha títulos nunca poderá servir para um grande clube para o SL Benfica. O bom-futebol que é praticado é algo relativo, porque daqui a 3 anos ninguém se lembrará que foram os encarnados a praticar o melhor futebol na época 2012/2013, mas sim quem foi o campeão desse ano, quem ganhou a Taça de Portugal e quem ganhou a Liga Europa! Existe um SL Benfica desde 1904 e existirá um SL Benfica pós JJ... pois este técnico não é certamente "a última Coca-Cola do deserto"... existem outros treinadores competentes que merecem uma oportunidade e desde que o plantel seja bom e a estrutura competente, o SL Benfica estará sempre por perto na luta pela vitória. 

As vitórias morais são para perdedores, e o SL Benfica é um clube vencedor. Em tempos recentes o Glorioso também praticou um excelente futebol com Fernando Santos... disputou o título quase até ao fim e estivemos bastante bem na Taça UEFA, sendo de recordar os 2 jogos da breca contra o Boavista e Español, em que a bola "pura e simplesmente" não queria entrar. Claro que o engenheiro é um típico pé-frio, mas e JJ? Também não o é? A Santos não foi dado o benefício da dúvida... porque está a ser dado a JJ com o seu super-plantel? Ainda assim JJ está, de momento, num limbo, e se as primeiras jornadas do campeonato não correrem de feição às Águias é bastante provável que a pressão dos adeptos para o despedimento se torne insuportável! E, do meu ponto de vista, as "chicotadas psicológicas" durante a época desportiva muito raramente dão resultado.