quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que é nacional é bom!

Os espanhóis têm um ego invejável! Os portugueses devem aprender um pouco com eles, exaltando e protegendo tudo o que é nacional, mesmo quando o "produto" é inferior. É um fenómeno que também existe em França, Itália, Alemanha e Inglaterra, mas sem as proporções de nuestros hermanos. Ao invés, os portugueses desconfiam de tudo o que é nacional e exigem muito mais do seu "produto".

No futebol também acontece isso. Vemos a exaltação a jogadores como Arbeloa, Sérgio Ramos e Pedro Léon, só para dar alguns exemplos, que, mesmo quando "enterram", fazendo-o com amiúde, e mesmo que não estejam num nível que se adeque ao patamar de qualidade em que o Real Madrid se encontra de momento, são sempre adorados e protegidos. Por outro lado, os portugueses têm o óbice de terem de provar o dobro de qualquer outro estrangeiro para merecer o reconhecimento devido. Não digo que Cristiano Ronaldo ou José Mourinho sejam mal-vistos pelos merengues, mas são decerto algo relativizados, e não só pela imprensa, mas também pelos colegas e adeptos, o que resulta na tal falta de apoio de que Cristiano Ronaldo falou em tempos.


Figura 1- Cristiano Ronaldo acossado pelos adeptos do Maiorca, mas dando a resposta em campo com golos.

O que os adeptos maiorquinos fizeram a Cristiano Ronaldo durante o último jogo é prática habitual nos restantes estádios espanhóis onde o Real Madrid se desloca. Ofendem-no por ser um grande jogador! Ofendem-no por cuidar do seu aspeto! Ofendem-no por ser português! Poderá ser uma dose de "dor de cotovelo", com uma mistura de inveja e receio da qualidade futebolística do jogador ou pelo facto de pertencer a um país que não se deixou embarcar por uma unidade ibérica. Quem saberá ao certo os verdadeiros motivos? O que interessa é que os portugueses vão fazendo a diferença no futebol espanhol, contra tudo e todos, e seria bom que nós, como nação, tivessemos algum orgulho próprio e defendessemos aquilo que é nosso.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Aguenta... não chora!

Fernando Ulrich, quando questionado se "O país aguenta mais austeridade", responde com um grave: "Ai aguenta, aguenta". Se calhar isso é bem verdade para pessoas do seu status social e posição financeira, ou mesmo para o BPI, mas para a outra face da sociedade, aquela que desconhece e com a qual dificilmente contacta, isso não é bem verdade. Vamos ver se a maior austeridade realmente resulta, como diz, para evitar que Portugal caia numa situação semelhante à da Grécia...


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sol: Aguiar Branco- "Comentadores são uma ameaça às FA"

Aguiar Branco vai mostrando as garras da intolerância face a críticas relativamente à gestão do Governo e do seu Ministério, tendo como horizonte o Orçamento de Estado. Não sei se são tiques ditatoriais ou insegurança política relativamente às críticas, normais numa democracia, que lhe são dirigidas pelos tais "comentadores de fato cinzento e gravata azul".

O que é certo é que um membro do Governo tem de ter mais sentido de Estado perante críticas da sociedade civil, mesmo que as ache perigosas em termos de conteúdo. Como ministro tem de primar por um discurso construtivo e responsável, não formulando declarações enigmáticas e algo PIDEscas!



O ministro da Defesa, Aguiar-Branco acusou hoje os comentadores “de fato cinzento e gravata azul” de serem o maior adversário das forças armadas e tão perigosos para a defesa nacional como qualquer outra ameaça externa.

“Este adversário é tão corrosivo, tão arriscado e tão perigoso para a Segurança nacional como qualquer outra ameaça externa”, afirmou José Pedro Aguiar-Branco depois de acusar os “ comentadores de fato cinzento e gravata azul” de fazerem “o discurso da inutilidade das Forças Armadas” e de serem o seu “o maior adversário”.

sábado, 27 de outubro de 2012

Álvaro Santos Pereira foi ao Parlamento

Figura 1- Álvaro Santos Pereira assegura aos deputados que tudo está bem em Portugal e no Governo.

Jornal de Notícias: "Baleia de 13 toneladas agoniza na praia da Apúlia"

A notícia de mais uma baleia encalhada nas praias portuguesas dá-me uma certa tristeza, pois a sua grandeza e majestade, aliada a um mistério em torno da sua inteligência e sensibilidade, não merece a impotência que existe do lado humano para a poder acudir. 

De acordo com o Jornal de Notícias, a baleia que pereceu na praia da Apúlia (Esposende) é uma baleia-comum (Balaenoptera physalus), um mamífero marinho da ordem dos cetáceos e da família dos rorquais, cotando-se como o segundo maior animal do planeta, depois da baleia-azul, podendo ser encontrada em todos os oceanos, tanto em águas frias, como temperadas e em quentes, dividindo-se em 3 subespécies: (1) a baleia-comum-do-norte (Atlântico Norte), (2) a baleia-comum-antártica (Oceano Antártico) e (3) a baleia-comum-do-pacífico.  
Figura 1- Representação gráfica de uma baleia-comum.
Com um corpo longo e esguio, a coloração desta baleia é cinzenta escura no dorso e branca no ventre. O focinho é vertical e estreito, podendo alcançar 6 metros de comprimento, tendo uma marca branca na parte direita da mandíbula inferior, enquanto o lado esquerdo é cinzento ou preto, uma assimetria universal na baleia-comum e rara entre os cetáceos, constituindo-se numa das chaves para a identificação da espécie. A baleia tem uma série de pregas ao longo da parte inferior do corpo que se espalham da mandíbula inferior ao umbigo, o que permite que a área da garganta se expanda largamente durante a alimentação. Tem uma barbatana dorsal curva e proeminente (60 centímetros), as suas barbatanas são pequenas e afiadas, e sua cauda é larga e com entalhes no centro. As fêmeas são ligeiramente maiores que os machos, crescendo até cerca de 26 m e podendo chegar às 80 toneladas, sendo que a maturidade física completa desta espécie dá-se entre os  25 e 30 anos de idade, sabendo-se que estas baleias costumam viver até os 94 anos.

Quando a baleia atinge a superfície da água, a barbatana dorsal é a primeira parte visível do corpo, seguida logo pelo focinho, depois a baleia sopra pelos espiráculos, ficando próxima da superfície aproximadamente 1 minuto e meio de cada vez. A cauda só surge quando a baleia mergulha em profundidade, podendo ir  até aos 250 metros, durando entre 10 e 15 minutos. As baleias-comuns podem atingir velocidades de 32 km/h, sendo também conhecidas por dar saltos fora de água.

A sua alimentação faz-se sobretudo através de pequenos cardumes de peixe, lulas, pequenos crustáceos e krill, podendo ingerir 1.800 kg de comida por dia. Para se alimentar abre a sua grande boca e nela retém um grande volume de água e alimento. Em seguida, com a ajuda da língua, o animal expele a água através das "barbas" situadas na boca, retendo apenas os pequenos animais, que depois ingere. Tal como outros rorquais, a baleia-comum tem uma rota migratória que no Verão a leva a águas mais frias, onde aproveita para se alimentar e acumular reservas de gordura para que, durante o Inverno, viaje para águas mais quentes, aonde se dedica ao acasalamento.
Figura 2- Avistamento de Baleia-comum ao largo dos Açores.
As baleias-comuns vivem geralmente em grupos de 6 a 10 indivíduos. Em termos de reprodução crê-se que, tal como outras baleias, os machos emitem vocalizações longas, altas e de baixa frequência para comunicar com as fêmeas. Cada som dura entre 1 e 2 segundos, com várias combinações em sequências com cerca de 10 minutos cada, podendo ser repetidas durante vários dias. O encontro entre machos e fêmeas dá-se em mar aberto, podendo gerar 3 coitos por dia, sendo que a cada reprodução a baleia produz 2 mil litros de esperma. O período de gestão da baleia dura de 11 meses a 1 ano, altura em que nasce, normalmente, apenas uma cria, que é amamentada até aos 7 meses de idade. Como curiosidade sabe-se que há hibridação ocasional entre a baleia-azul e a baleia-comum no Atlântico Norte e no Pacífico Norte.

Nos últimos 100 anos as populações de baleia-comum têm diminuído drasticamente, muito devido à caça excessiva, pelo grande acréscimo de ruído nos oceanos, provocada pela navegação, impedindo o encontro reprodutivo entre machos e fêmeas, mas também pelas colisões com navios, a grande causa do encalhamento de baleias, sendo-lhe infligidos graves ferimentos. Deste modo, tal como todas as grandes baleias, a baleia-comum está listada entre as espécies ameaçadas de extinção, estando na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais, para além de estar no apêndice 1 da CITES. A pesca da baleia é controlada pela Comissão Baleeira Internacional (CBI), sabendo-se que no Pacífico, países como o Japão e a Rússia, prosseguem a caça à baleia, já no Atlântico Norte, a baleia-comum é caçada em certas épocas do ano pela Noruega, Islândia e pela Gronelândia (Dinamarca), porém, neste caso trata-se de uma pesca de subsistência feita pelos nativos, mas cuja exportação é ilegal. 

A CBI define 7 zonas de população discretas de baleia-comum no Atlântico Norte: (1) Nova Escócia; (2) Labrador-Terra Nova; (3) Oeste da Gronelândia; (4) Islândia-Leste da Gronelândia; (5) Norte da Noruega; (6) Leste da Noruega-Ilhas Faroé
; (7) Ilhas Britânicas-Espanha-Portugal. Estima-se que no Atlântico Norte o agregado populacional desta baleia esteja entre os 40.000 e os 50.000 indivíduos, sendo que na zona em que Portugal se insere, as estimativas de população variam entre os 7.500 e 17.000 no Verão.   



Uma baleia comum, de cerca de 18,5 metros e 13 toneladas, agoniza ferida na praia da Apúlia. Centenas de pessoas e as autoridades assistem, impotentes, à provável morte do mamífero, que deu à costa cerca das 13.30 horas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Eleições no SL Benfica

Hoje os sócios do SL Benfica vão às urnas para escolher como presidente Luís Filipe Vieira ou Rui Rangel. Há alguns anos atrás esta decisão fácilmente penderia para o juíz Rui Rangel, nos dias de hoje, com os benfiquistas ainda com medo dos tempos financeiros do Vale e Azevedo e com receio dos tempos desportivos de Manuel Damásio, as sondagens dão uma vitória clara a Luís Filipe Vieira.

O atual presidente do SL Benfica tem jogado bem a cartada de Vale e Azevedo para instigar o medo nos sócios, chegando mesmo ao baixo nível de o comparar ao juíz, uma completa falta de respeito para com a pessoa e para o cargo que exerce, que teve grandes cavalheiros como Cosme Damião e Borges Coutinho ao seu "leme". Contudo, há que referir que Luís Filipe Vieira criou obra no SL Benfica, falamos do Estádio da Luz, do Centro de Estágio no Seixal, na BenficaTV, no Museu e Centro de Documentação, o incentivo ao ecletismo desportivo, assim como a expansão e empowerment das Casas do Benfica. Porém, é preciso não esquecer que o último Relatório e Contas, que não foi aprovado, revela que o SL Benfica passa por graves problemas financeiros, e a sua arrogância e agressividade ao lidar com o opositor, deixa a suspeita que poderá ser o reflexo de algum medo da decisão de Rui Rangel, caso seja eleito, de pedir uma auditoria externa às contas do clube e da SAD. 

A carta desportiva é que tem, definitivamente, de ficar no bolso de Luís Filipe Vieira, pois conquistar 2 campeonatos nacionais em 10 anos coloca-o como dos piores presidentes da história do clube... com várias promessas falhadas nesse âmbito, como a hegemonia nacional no futebol, a disputa de provas internacionais, a aposta na formação e no jogador nacional, o acabar com os contentores de jogadores que chegam ao SL Benfica todos os anos, etc.

Veremos o que a noite trás ao SL Benfica, mas este período pré-eleitoral foi pobrezinho em ideias, mas forte em insultos, e isso deve-se ao presidente em exercício, numa completa falta de respeito pela história democrática do clube.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Reminiscências do Passado (2): o Paço Real da Ribeira

O Paço Real da Ribeira foi um dos principais edifícios lisboetas que ruiu com o terramoto de 1755. Foi mandado construir por D. Manuel I, marcando simbolicamente o início da época moderna em Portugal, ou seja, quando o "rei guerreiro" sai da proteção do alto da sua acrópole ou castro, para se situar na zona ribeirinha, junto ao porto, como "rei comerciante" em plenos Descobrimentos.

O nome do Palácio deriva da ribeira de Valverde que ali desaguava, no antigo Terreiro do Paço, vinda da zona da Avenida da Liberdade. Erigido junto ao rio Tejo, a sua construção iniciou-se em 1498, sendo que até então, a residência régia em Lisboa situava-se no Castelo de S. Jorge, no paço da Alcáçova. Na zona da ribeira de Lisboa funcionavam os principais estaleiros portugueses (Ribeira das Naus), deslocados mais para Oeste, mas também os armazéns mais importantes do reino, relacionados com o comércio de especiarias
Figura 1- Extrato de representação de Lisboa por Georg Braun e Franz Hogenberg em que se vê o Paço da Ribeira (1598).
A primeira fase do palácio era dominada pelo estilo manuelino, dispondo-se numa planta retangular e com uma torre fortificada sobre o rio, construída entre 1508 e 1510 sob a supervisão de Diogo de Arruda,  e ainda com uma varanda em galilé de pedra rendilhada no 2º piso, que permitia ao soberano vigiar a entrada e saída dos navios do comércio ultramarino no porto de Lisboa, no coração do mar da Palha. No 1º piso funcionava a Casa da Índia, um espaço importante da Administração Pública, criada em 1503 (mantendo-se no Paço até ao terramoto de 1755) para administrar o monopólio régio relacionado com o comércio e navegação na Ásia e África, funcionando como feitoria, alfândega e arquivo. Mercadores de toda a Europa juntavam-se ali para adquirir as especiarias para as vender no resto do continente. No complexo palaciano foi também construída uma capela real, notável naquela época pela sua música litúrgica e cerimónias religiosas. Terminadas as obras em 1502, a corte transfere-se para o novo palácio.

A ribeira de Valverde foi aterrada de modo a que se criasse o Terreiro do Paço, passando a sua ligação ao Tejo a fazer-se de forma subterrânea. Naquele espaço localizava-se uma fonte e o pelourinho novo de Lisboa, mandados erguer pelo venturoso. Ali se realizavam a grande maioria das cerimónias e festividades públicas de Lisboa, tornando-se no local de encontro da sociedade lisboeta. É de referir que foi no Paço da Ribeira, sob a presença de D. Manuel I que foi representada pela 1.ª vez o auto de Gil Vicente, "Quem tem farelos".

Sob o domínio dos Filipes, o Paço da Ribeira foi alvo de reformulações, especialmente por iniciativa de D. Filipe I de Portugal. O novo projecto, envolvia a regularização da fachada voltada à praça, remodelações na capela real e nos aposentos do Rei. É acrescentado o Torreão Filipino em 1581, com 4 pisos em pedra de lioz, encimada por uma grande cúpula em chumbo de secção quadrangular, rematando a fachada voltada ao rio. Este torreão, projecto da autoria de Felipe Terzi, corrigido e modificado pelo arquiteto real Juan de Herrera. As grandes obras no Paço da Ribeira destruíram a fachada manuelina, impondo-lhe um  aspecto clássico de estilo maneirista, para além de aumentar o seu volume e número de pisos.
Figura 2- Quadro de Dirk Stoop com vista do Terreiro para o Paço da Ribeira (1650).
Neste Paço decorreu um dos episódios mais marcantes da História de Portugal, quando a 1 de dezembro de 1640 às 9 horas, dadas pelo relógio do Paço da Ribeira se deu início à operação militar que restaurou a independência de Portugal. Nesse dia 40 fidalgos portugueses invadiram o palácio, matando Miguel de Vasconcelos e deportando a Duquesa de Mântua, representantes do poder da Monarquia Hispânica, aclamando D. João IV como rei de Portugal, instaurando a dinastia de Bragança perante o povo que acorreu ao Terreiro do Paço em euforia. D. Luís de Menezes, na sua "História de Portugal Restaurado", refere que o grupo de conjurados pretendia avançar para a ação “com o menor rumor que fosse possível, se achassem todos junto ao Paço, repartidos em vários postos, e que tanto que o relógio desse nove horas saíssem das carroças ao mesmo tempo”. Mais à frente, nesse mesmo dia, os conjurados, “impacientes, esperavam as nove horas, e como nunca o relógio lhes pareceu mais vagaroso, tanto que deu a primeira, sem aguardarem a última, arrebatados do generoso impulso saíram todos das carroças e avançaram ao Paço”. 

Ainda no século XVII a Coroa portuguesa adquire o Palácio Corte Real, que ficava nas traseiras do Paço da Ribeira, integrando-o no complexo e passando a ser utilizado como residência do infante secundogénito da Família Real, estreado pelo irmão de D. Afonso VI, o infante D. Pedro, que posteriormente se tornou regente do Reino e rei de Portugal, como D. Pedro II.
Figura 3-  Vista do Terreiro para o Paço da Ribeira (cópia de 1783 a partir de um desenho 1740 de Zuzarte).
Na 1ª metade do século XVIII, com o ouro do Brasil e tendo como rei D. João V, Portugal conhece uma altura de grandes gastos públicos, nomeadamente em infraestruturas, mas também  em cultura e ciência, uma tentativa de engradecer a imagem do rei e do seu reino. O magnânimo torna-se mecenas de cientistas e de artistas, promovendo-os na sua corte, chegando a construir no Paço da Ribeiro uma grande Biblioteca, a Casa da Livraria, que rapidamente adquiriu fama pelos seus conteúdos e pesquisas. A Bivblioteca Real chegou a contar com mais de 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio.

O rei português consegue junto à Santa Sé a promoção da diocése de Lisboa a Patriarcado, sendo que a capela do Paço da Ribeira foi temporariamente elevada à dignidade de igreja patriarcal, enquanto se construía a nova basílica patriarcal, dividindo a jurisdição eclesiástica em Lisboa Ocidental e Lisboa Oriental, ficando a metade oriental da cidade adstrita à Sé Catedral, enquanto a outra ficava na alçada da Capela Real Patriarcal do Paço da Ribeira, aonde se desenrolaram riquíssimas cerimónias litúrgicas e áulicas barrocas.
Figura 4- Vídeo da Baixa lisboeta pré-terramoto de 1755, com incidência para o núcleo do Paço Real.


O terramoto de 1 de novembro de 1755 veio destruir completamente o Paço da Ribeira, tendo sofrido também a ação do maremoto que devastou a baixa da cidade. Foram perdidos grandes tesouros e testemunhos de Portugal, muitos deles correspondentes ao apogeu da Expansão marítima e Império português, onde seinclui o Arquivo Real com documentos relativos à exploração marítima. Não foi somente o edifício que se perdeu, mas os artefactos e documentos acumulados ali deste o tempo de D. Manuel I até ao reinado de D. José, passando pela época luxuosa de D. João V, uma trágica perda para Portugal e para o mundo.

Bibliografia

MENEZES, D. Luís de - História de Portugal Restaurado. III vols. Lisboa: Civilização, 1945.

SENOS, Nuno - O Paço da Ribeira: 1501-1581. Lisboa: Editorial Lemos, 2002.


Sítios web

Câmara Municipal de Lisboa

Museu da Cidade

Wikipédia

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Temos dinheiro e ouro!

Ironia das ironias... numa altura que estamos tesos, o Banco de Portugal cria o Museu do Dinheiro. Nada contra a sua "construção", antes pelo contrário, pois serve de memória aos portugueses do que é o dinheiro, já que não o têm nos seus bolsos.... ainda por cima descobriram no subsolo da Igreja um troço da muralha que D. Dinis ergueu para proteger Lisboa dos ataques maritímos, que vai ser parcialmente musealizada. Também sempre achei uma vergonha "alfacinha" ter a igreja de S. Julião (do século XVIII) a servir de parque de estacionamento do Banco de Portugal e, ao menos, esse erro fica corrigido.
Figura 1- Igreja de S. Julião em obras para albergar o museu (retirada daqui).
Por outro lado, veio novamente a "lume", que o Estado português  tem a 2ª melhor correlação entre ouro acumulado no Banco de Portugal e o seu Produto Interno Bruto. Também temos de verificar que o nosso PIB tem vindo a decrescer galopantemente, mas ainda assim parece que ao contrário da canção da Floribela: "somos ricos em ouro, mas pobres em sonhos!".

O Banco de Portugal nisto tem trabalhado bem! Em proteger o nosso ouro, acumulado durante o Estado Novo, dos políticos que nos desgovernam, e em criar cultura onde tem faltado... pena é a sua falta de competência em regular o sistema financeiro português, em que é caso flagrante o do BPN.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Armstrong: de bestial a besta

Lance Armstrong era um ídolo para muitas pessoas... um desportista que venceu um cancro e que, posteriormente, consegue 7 vitórias no mais prestigiado evento de ciclismo do mundo, o Tour de França, tem de ser um exemplo e um modelo de história cinematográfica de como superar obstáculos e sair deles mais forte e determinado. Por isso, quando surgiram as primeiras histórias de que as suas vitórias estavam relacionadas com o doping, pensou-se que se tratava da eterna dor de cotovelo francesa, pois os resultados nos testes da União Internacional de Ciclismo (UCI) eram persistentemente negativos. Porém, nos últimos anos o cerco tem-se fechado em torno do ciclista norte-americano, inclusivamente pelos seus pares e país de origem.
Figura 1- Lance Armstrong no Tour com a camisola da US Postal.
Até 1996, antes do diagnótico de cancro e seu respetivo tratamento, Lance Armstrong era apenas um bom ciclista, tinha ganho algumas provas, incluindo duas etapas no Tour, pertencendo à equipa espanhola da Cofidis. Aos 25 anos o ciclista estado-unidense realiza uma conferência de imprensa em que declara que padece de cancro, que já se havia espalhado dos testítulos a outras partes do corpo. Mesmo a lutar contra esta terrível doença o ciclista fazia questão em afirmar que pretendia voltar ao ciclismo profissional quando tivesse recuperado, todavia, mais tarde, a equipa Cofidis rescindiria o contrato com Lance.

Em 1998, plenamente recuperado da doença e visivelmente mais magro, é contratado pela equipa US Postal. É a partir daqui que se dá o "conto de fadas" de Armstrong, que depois das adversidades, se torna num dos maiores ciclistas de sempre, ao lado de nomes como Miguel Indurain e Eddie Mercx, vencendo logo em 1998 a Volta ao Luxemburgo. A partir de 1999 e até 2005 ganha consecutivamente o Tour de França (7 vezes), ganhando ainda pelo meio a volta à Suiça e uma medalha de bronze pelo contra-relógio nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000). Acaba a carreira no topo e decide dedicar-se à sua fundação, criada em 1997 para ajudar as pessoas afetadas pelo cancro. Porém, tratou-se apenas de um interregno de 3 anos, voltando para competir durante outros 3, mas sem grandes resultados (é 3º no Tour em 2009!).
Figura 2- Lance Armstrong com a camisola amarela do Tour no meio do pelotão.
As alegações de doping já vinham de trás, havendo quem alegue que, logo em 1998, Lance Armstrong começou a tomar uma droga chamada EPO, que simula o efeito da testosterona no organismo, fazendo com que o metabolismo funcione de forma mais eficiente. Surgiram várias testemunhas, dentro e fora da US Postal, que corroboram o uso de substâncias ilícitas por parte do ciclista para melhorar o desempenho desportivo, pessoas como Emma O´Reilly, sua massagista, e o seu antigo companheiro de equipa Tyler Hamilton. Os procuradores do Governo dos EUA iniciaram uma investigação sobre as alegadas acusações a Armstrong, acusações que ele sempre refutou.

Em junho de 2012 a US Anti-Doping Agency (USADA) acusou formalmente Armstrong do consumo de substâncias ilícitas, baseando-se em amostras sanguíneas de 2009 e 2010 e em testemunhos de outros ciclistas, e retirando-lhe do palmarés todas as suas conquistas desportivas desde 1998 e banindo-o da prática desportiva profissional. Apesar de refutar o veredicto, Lance Armstrong optou por não constestar as acusações, alegando estar cansado de tentar provar constantemente a sua inocência. Em outubro a USADA publica os detalhes da sua investigação, devido a um apelo da UCI, declarando que "(...) Armstrong fazia parte do mais sofisticado, profissionalizado e eficaz programa de doping que o Desporto já conhecera". Nesse mesmo mês, a UCI aceita as sanções e recomendações da USADA relativamente ao caso, vindo o seu presidente, Patrick McQuaid, afirmar publicamente que "Armstrong não tem lugar no ciclismo, merecendo o esquecimento".

Infelizmente ou felizmente, Armstrong não será esquecido, fará sempre parte daquelas histórias de batota e falta de desportivismo em relação aos adversários, ao invés de ser uma história de preserverança e superação... ainda por cima nós temos mais falta deste último género de histórias!

DN: "Dívida total de Portugal ascende a 432,1% do PIB"

A notícia publicada no DN só vem reforçar a falta de regulação feita ao sistema financeiro português, deixado muitas vezes à solta no mercado, com olhos no lucro e de costas para a sensatez, provocando metade da dívida total do país.
Depois, um dos líderes desses bancos, Fernando Ulrich do BPI, ainda vem afirmar, com ares de autoridade e superioridade, que o Estado devia pagar aos desempregados para trabalhar no seu banco, como se isso não fosse algo completamente imoral e contra as Leis da Concorrência da União Europeia, mas é este o género de pessoas que dominam o país. Basta ver a facilidade com que José Maria Ricciardi, do BES, interpela o 1º Ministro, Pedro Passos Coelho, e o seu n.º 2, Miguel Relvas, queixando-se de atos de gestão do Governo. A troika lá inventou dinheiro, dado a Portugal para recapitalizar a banca nacional, mas esta, inicialmente, não queria esse dinheiro porque o seu uso teria de ser supervisionado pelo Estado português, com medo sabe-se lá do quê... com isto a nossa economia depara-se com uma enorme dificuldade de financiamento, especialmente os pequenos e médios empresários, obrigando o Estado à criação de um banco de fomento, ideia avançada por António José Seguro.

A dívida dos particulares, que ocupa uma grande fatia, é, na sua maioria, devida a esses bancos, que tendo em vista o lucro atribuía empréstimos de qualquer maneira, sem ver se as pessoas tinham condições para o receber, e já nem falo dos limites legais que a banca deveria ter em termos depósito em relação aos empréstimos que concede, algo que foi completamente desrespeitado e a que os bancos centrais desviaram o olhar... não só aqui, como em vários sítios do mundo, como nos EUA, Irlanda e Islândia (ver também este post).

Curiosamente, ou não, o endividamente do Estado teve o maior aumento, muito provocado pela queda das receitas, pois o aumento do imposto sobre o consumo provocou uma brutal diminuição do dito consumo! Claro, que isto alia-se a um maior desemprego, também menos pessoas a consumir e mais a usufruir das tais prestações sociais. Relativamente ao pagamento do 13º mês aos Funcionários Públicos, ainda estou para perceber porque é que não o atribuíram em títulos da dívida pública, como foi feito no tempo do Bloco Central, sempre cumpriam as ordens do Tribunal Constitucional, colocavam dívida em mãos nacionais, pois um dos nossos maiores problemas é estar maioritariamente concentrada no exterior (ao contrário de Itália) e teriam uma almofada em termos orçamentais para combate do défice do Estado.


O endividamento total dos setores público e privado de Portugal, excetuando a banca, atingiu os 432,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no final do primeiro semestre, segundo dados hoje divulgados pelo Banco de Portugal (BdP).

sábado, 20 de outubro de 2012

Linhas de Wellington (**...)

As Linhas de Wellington é um filme de época que pretende retratar a 3ª e última incursão francesa em território nacional durante o período das Guerras Napoleónicas. A produção é de Paulo Branco, o argumento de Carlos Saboja e a realização ficou a cargo de Valeria Sarmiento.
Figura 1- Poster do filme "Linhas de Wellington".
A 3ª invasão francesa a Portugal teve início em julho de 1810, sob o comando do marechal Andre Massena. A entrada das tropas francesas em Portugal deu-se pelo NE  o país, não tendo grandes dificuldades até chegar à serra do Buçaco, onde foram intercetadas e derrotadas pelas tropas luso-britânicas comandadas por Wellington a 27 de Setembro. Porém, os aliados, reconhecendo a sua minoria em termos de efetivos, recuam para atingir as Linhas de Torres Vedras, uma linha de fortificações de defesa a Lisboa que vinha sendo projetada e construída sob as ordens de Wellington, para aí aguardar as tropas do imperador Napoleão Bonaparte. As tropas francesas chegam às Linhas de Torres Vedras a 11 de Outubro (Massena a 14), onde se quedaram durante 4 semanas, acabando-se por retirar muito devido à falta de alimento, provocada por uma política de terra queimada do lado português, gerando consequentemente uma desmoralização e deserção do lado francês. A sua retirada definitiva de Portugal dá-se a 11 de Maio de 1811, quando abandonam a praça-forte de Almeida.

Figura 2- Mapa da 3ª invasão francesa a Portugal.
O filme faz um bom retrato do êxodo das populações das suas cidades e aldeias, a política de terra queinada e o sofrimento provocado ao povo português por estas incursões francesas. Outros pontos positivos passam pela excelente fotografia, cenários e guarda-roupa de época. Porém, o filme em termos de argumento deixa muito a desejar, parecendo um documentário com alguma ficção pelo meio, que por sua vez está repartida em inúmeras pequenas histórias, muito pouco cativantes, algumas delas apenas com o objetivo de explorar algumas curiosidades históricas daquele momento, algo completamente desnecessário, pois estas devem surgir com naturalidade no cerne de um argumento sólido e coeso. A banda sonora é algo repetitiva e algumas situações parecem algo inverossímeis, e o grave é que não têm qualquer acrescento de valor para o cerne da história.

O filme tem demasiados atores, ou seja, aparecem muitas caras conhecidas, algumas delas apenas com direito a uma ou duas cenas só para se afirmar a sua participação no filme, desenvolvendo-se pouco a densidade das personagens, o que, se calhar, também provocou a falta de orçamento para a contratação de extras que dariam muito jeito para compor as tropas francesas e luso-britânicas, assim como desenvolver algumas cenas de batalha, claramente evitadas pela produção e realização do filme. Wellington (John Malkovich) foi muito mal aproveitado no filme, retratando-se apenas os pequenos fait-divers da personagem histórica, mas nada do seu grande génio militar, assim como a história romanceada do sargento Francisco Xavier (Nuno Lopes) e Maureen (Jemima West).
Figura 3- Sargento Francisco Xavier (Nuno Lopes) e Zé Maria (Afonso Pimentel).
Enfim, não há muita coisa de positivo a dizer do filme, vale pela imagem e pela componente histórico/documental, para quem é interessado nestas matérias. O filme não puxa pela interpretação dos atores, o argumento ficcionado é fragmentado e pouco cativante. O que vale é que o dinheiro que gastei para ver o filme é a favor da produção cinematográfica nacional, mas esta tem de rapidamente repensar a forma como quer atrair o público para os seus produtos. A produção poderá, porventura, atrair espetadores devido ao nome dos atores, pelo anúncio dos custos e meios envolvidos e pelo facto de ser um filme de época, todavia, não vai conseguir "enganar" os espetadores numa segunda ocasião, pois foram defraudados na primeira, muito devido à falta de um argumento coeso e sem uma dose de entretenimento aceitável.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Reminiscências do Passado (1): o Passeio Público de Lisboa

O Terramoto de 1755 modificou completamente a cidade de Lisboa. A destruição que provocou fez com que a cidade tivesse de ser reconstruída e, a partir de um emaranhado de ruas estreitas e sinuosas, sem qualquer planeamento urbanístico, surge uma cidade planeada, com ruas largas e direitas, inspirando-se nos modelos que surgem do Iluminismo.

Um dos pontos do Plano Pombalino passou pela criação do  “Passeio Público”, um longo recinto ajardinado numa zona de terras húmidas e alagadiças, que foram elevadas pelos entulhos do Terramoto. Esses terrenos era onde se situavam as Hortas da Mancebia e da Cera e os terrenos pertencentes ao conde de Castelo Melhor (expropriados), ocupando a área limitada a norte pela linha Alegria – Rua das Pretas, e a Sul por onde é hoje a Praça dos Restauradores. Pela sua extremidade setentrional passava a Rua do Salitre, que ia até à Rua das Pretas, sendo que para norte, ainda se sucediam as hortas até ao Vale do Pereiro. Assim, o Passeio Publico, nas confrontações de hoje principiava junto ao primeiro portão do Palácio Foz e acabava no quarteirão da Avenida que é limitado pela Rua da Alegria à esquerda, e das Pretas à direita.
Figura 1- Litografia de 1850 da entrada do Passeio Público, iconografia da obra "Primo Basílio".
O espaço foi concebido para ser usufruído pela população de Lisboa, tendo como influência espaços semelhantes que haviam sido construídos em grandes cidades europeias, um sítio onde pudesse haver um contacto com a natureza, mas que resolvesse alguns problemas de insalubridade da cidade. A formação do Passeio Público dá-se entre 1764 e 1771, um espaço que permitiria o recreio e encontro de pessoas, mas também para o ordenamento, embelezamento e o saneamento do espaço público, no qual a plantação de árvores teve papel importante (os primeiros freixos foram oferta de Jacomo Ratton, que os mandou vir da sua quinta de Barroca d’Alva), havendo também um aproveitamento dos riachos que por ali passavam.

O projeto foi elaborado por Reinaldo dos Santos, traçando num esquema bastante simples, com uma alameda de 300 por 90 metros, constituída por uma rua central na qual foram plantadas, em ambas as faixas laterais, cinco filas de árvores dispostas simetricamente e de forma regular, acabando por formar ruas secundárias. Embora denominado de "Público", o Passeio estava rodeado por muros e a entrada era feita através de uma porta de madeira, posteriormente substituídos por um gradeamento, podendo ser frequentado por todos os membros da sociedade.
Figura 2- Litografia (A. Castro) de 1851 do interior do Passeio Público, iconografia da obra "Primo Basílio".
O Passeio Público tinha alguns aspetos dos jardins franceses da época (os mails e cours), mas mantém traços dos jardins portugueses de influência árabe. Porém, de acordo com várias fontes da época, o Passeio Público, nas primeiras décadas, não se impôs com um espaço de socialização dos lisboetas, talvez devido à falta de vontade de interação entre classes, pela falta de hábitos de lazer deste género entre as classes mais desfavorecidas e há quem afirme que se deve também à fraca qualidade estética e à falta de integração paisagística do mesmo. Júlio de Castilho decrevia-o como "(...) ruas muito sombrias, banquetas de buxo simetricamente dispostas, pedestais com vasos e estátuas, em suma, um ar de quinta nobre que era uma delícia”. O periódico "Toucador" de 1822 refere que "(...) se quisermos falar verdade e ser sinceros diremos: que há em Lisboa umas poucas de arvores plantadas à linha, que a isto se chama o Passeio Público, onde não vai ninguém; e que a este se reduzem todos os lugares de passeio de Portugal, Brasil e Algarves.”.

Porém, a partir das décadas de 20 e 30 do século XIX, dão-se várias alterações do espaço, tanto por iniciativa régia, como por iniciativa camarária. A grande renovação esteve a cabo de Malaquias Ferreira Leal entre 1834 e 1838, que introduziu um novo arranjo de jardins e fontes, com um grande lago, quedas de água e estátuas alegóricas (geralmente do canteiro Alexandre Gomes), duas delas, em particular, representam o rio Tejo e o rio Douro (ainda hoje presentes na Avenida da Liberdade). Os melhoramentos traduziram-se também num aumento do Passeio em 30 metros no comprimento e 20 de largura, bem como o derrube de algumas árvores copadas, que deram lugar a outras de menor porte e a arbustos, trazendo uma manifesta redução do número de área de sombras.
Figura 3- Fotografia da entrada do Passeio Público (c. 1900).
Os altos muros pombalinos foram substituídos por muros baixos, encimados por gradeamentos em toda a volta, completado por portões de ferro forjado com guarnecimentos de bronze, foram derrubadas as barracas existentes nas imediações e foi construída a entrada do lado Sul. Essa entrada, ladeada pela casa do guarda e pela casa do porteiro, era constituída por 3 portas de ferro, sendo a do centro mais larga, sendo que entre elas viam-se duas coroas de louro douradas com o dístico “4 de Abril de 1838”, data em qye foram inauguradas para coincidir com o aniversário de Rainha D. Maria II, que 2 anos antes havia confiado ao Município de Lisboa a administração do espaço. As grades, tal como as das portas, tinham feitio de lanças, divididas de espaço, por pilaretes de cantaria quadrangulares e coroadas de capitéis. Este gradeamento assentava sobre uma cortina de cantaria com três pés de altura, para o lado de dentro, variando para o lado das ruas consoante o declive do terreno.

O Passeio Público ficou dividido em 4 quadras, tendo o lago ao centro, com alto pedestal ostentando uma bacia de pedra inteiriça, no meio da qual se erigia uma pinha de onde provinha um repuxo. Às faces do pedestal, acostavam-se as estátuas de tritões e sereias(hoje no pátio do Palácio Pimenta - Museu da Cidade). Entrava-se depois no bosque, onde à entrada estavam as estátuas alegóricas aos rios Tejo e Douro, sendo dividido em 13 longitudinais e 32 transversais, sendo o intervalo de “árvore para árvore ocupado com bancadas de buxo e louro”. Neste percurso havia ainda mais "4 pequenos lagos circulares, dois à entrada e dois à saída, guarnecidos de pirâmide e paredes de buxo”.
Figura 4- Fotografia do terraço da Cascata do Passeio Público (1898).

Figura 5- Litografia do terraço da Cascata do Passeio Público
O topo Norte do Passeio, ao cimo da rua central, era rematado por uma magnífica cascata, ali colocada pelo plano de melhoramentos de Malaquias Leal em 1840. Era um pavilhão de pedra ladeado por duas escadarias que conduziam ao terraço, que servia de miradouro sobre a baixa e o Tejo. Na sua fachada interior abriam-se 3 arcos cobertos de folhagem e plantas aquáticas, enfeitadas com seixos e conchas, formando desenhos, sendo que na central estaria uma estátua da deusa Anfitrite (obra do escultor Francisco Assis Rodrigues). Em frente aos arcos havia um lago circular com dois cisnes de pedra que pareciam nadar. Refira-se uma descrição no livro “Memórias da Marquesa de Rio Maior, de Branca de Conta Colasso" (1930): "Um belo dia (…) encontrei o Passeio transformado (…) um elegante gradeamento substituía o muro de pedra; entrava-se por um portão também de ferro (…) havia esplêndidas acácias logo à entrada. E um grande lago com repuxo (…) depois, ao centro, outros lagos com o Tejo e o Douro (…) e chorões. Um coreto magnifico para música. Muitas árvores raras (…) e ao fundo, pela altura da Rua das Pretas, uma linda cascata com avencas.".

As várias obras que foram feitas surtiram efeito no público na 2ª metade do século XIX, tornando-se num local de afluência em massa da sociedade lisboeta, tanto era assim que os lisboetas da altura cantavam: “Fui ao Passeio ver o repuxo; Fiquei admirado de ver tanto luxo.”. Eça de Queirós chegou mesmo a retratar o jardim em "O Primo Basílio". Era um vasto salão ao ar-livre, onde as pessoas iam para ver e para serem vistas, sendo mesmo frequentado nas noites de Verão, sendo que em agosto de 1851 ali se realizaram as primeiras iluminações a gás, tendo-se registado a visita de 15.612 pessoas em 3 noites, fazendo-se pagar a entrada para assistir ao espetáculo. Oferecia-se uma ampla variedade de divertimentos, ouvia-se música e realizavam-se festas que ficaram memoráveis, os bailes infantis organizados pelo professor de dança Justino Soares, os fogos de artifício do habilidoso pirotécnico José Rodrigues, e as inúmeras festas de caridade. A zona do coreto (situado desde 1932 no jardim da Estrela) enchia-se no Domingo quando tocava a famosa banda dos marinheiros, dirigida por Reinhard. Os concertos noturnos do Cardim eram também bastante frequentados, e em 1879, ficaram célebres os concertos sinfónicos regidos por Madame Josephine Amann. Na zona mais a Norte ficava o Circo Price, o barracão de Thomas Price inaugurado em 1860.
Figura 6- Litografia colorida do Passeio Público Litografia Colorida (George Vivian).
Em 28 de Novembro de 1877 foi calculado por Ressano Garcia em 84 contos de reis o orçamento total para a demolição das portas e do gradeamento do Passeio Público, tendo-se tomado a decisão de demolir as grades do passeio. Nos finais do século XIX a sua popularidade decaí muito, não satisfazendo os lisboetas que estavam fartos daquela rotina de divertimentos repetitivos, tornando-se numa espécie de ponto abrigado e refúgio amoroso aos soldados e às amas de leite, que eram, por 1882, as mais assíduas frequentadoras do Passeio Publico.

José Rosa Araújo, presidente da Câmara de Lisboa, decide então demolir o Passeio Público, um símbolo da Lisboa romântica, para dar lugar à Avenida da Liberdade, símbolo de uma Lisboa progressista, permitindo o desenvolvimento e a expansão da cidade para Norte, o que provocou grande celeuma entre a população. A 24 de agosto de 1879 tiveram início as demolições, tendo em vista um plano traçado por Ressano Garcia, sendo que o primeiro troço é inaugurado a 28 de Abril de 1886. Na avenida foram abertas uma rua central e duas laterais, separadas por placas arborizadas. Eram sobretudo notáveis pela rica pompa de vegetação e emaranhado do arvoredo os talhões que mediavam entre a Rua das Pretas e o Largo da Anunciada, do lado este, e a Calçada da Glória e a Praça da Alegria, do lado Oeste.

A avenida foi construída à imagem dos boulevards de Paris, tornando-se nos Campos Elísios de Lisboa e auma referência para a localização de residências para as classes mais abastadas. Entretanto, o município procurou substituir o Passeio Público por outro parque público. Em 1887 foi organizado um concurso internacional destinado a selecionar um projecto de parque paisagista a construir no terrenos do casal do Monte Almeida, a Norte da Avenida da Liberdade, tendo como modelo o estilo paisagista parisiense, considerado, então, como o paradigma da modernidade na arte dos jardins urbanos. O estudo viria a dar no Parque da Liberdade, como se chamou inicialmente o Parque Eduardo VII.


Bibliografia

CUNFF, Françoise le - Do Passeio Público ao Parque da Liberdade. Camões. N.º 15-16. Lisboa: Instituto Camões, 2003.

FREIRE, João Paulo - Lisboa do meu tempo e do meu passado: do Rocio à Rotunda. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1932.

Sítios web
Biblioteca Nacional (PURL)

Câmara Municipal de Lisboa

Junta de Freguesia de S. José

Wikipédia

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Coelhinho, se eu fosse como tu...

Faz-me uma certa confusão aqueles que tratam a Política como o Futebol, defendendo os seus partidos até às últimas consequências, inventando desculpas para os insucessos e incompetências, pois, no fim de contas, o fim principal da política será a gestão de um país, dentro de uma ideologia própria, para alcançar os melhores resultados possíveis para o seu povo, território e organizações, e isso é muito mais importante do que qualquer campeonato desportivo. Marcelo Rebelo de Sousa finalmente percebeu que a "coisa" está a ficar insustentável, e não é com um remodelamento de ministros que a "coisa" se compõe, porque o principal problema está exatamente no líder do Governo.

De acordo com as palavras do professor Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho mostra impreparação, através de uma falta de liderança e comunicação, visível pelas trapalhadas dos superministérios ineficientes, da TSU, IMI e Orçamento de Estado. É tudo verdade, mas há que referir a sua gritante incapacidade para buscar outras alternativas para a saída da crise, tanto dentro da União Europeia, onde pode aliar-se ao grupo liderado por Monti, ou no seio do FMI, que recentemente reconheceu erros na política de austeridade. A sua via é só uma, e a teimosia em usar palas só vai fazer com que o país se afunde cada vez mais... e acumulado a isto, revela uma enorme prepotência ao anunciar medidas sem sequer tentar dialogar ou negociar com os parceiros sociais e com o maior partido da oposição, especialmente quando estamos num período de particular dificuldade na história da nossa democracia.

Para culminar, resta dizer que fica desfeito o mito de que os políticos profissionais, ou seja, provenientes das "jotinhas", têm o benefício de uma maior preparação para o exercício de cargos públicos. O ex-líder da JSD desmente esse mito categoricamente!


Passos mostra "falta de liderança", afirma Marcelo

Reuniões do Conselho de Ministros que demoram 20 horas demonstram "má preparação" do primeiro-ministro, refere Marcelo Rebelo de Sousa. Por "discutir lá o que já devia estar preparado".

sábado, 13 de outubro de 2012

Jornal de Notícias: "CDS- é o eucalipto, estúpido!"

Vale a pena ler a crónica de Daniel Deusdado sobre a intenção do Governo em dar cabo do que resta da diversidade do coberto vegetal português a favor de uma espécie invasora, que a curto, médio e a longo prazo trará enormes problemas para o país em áreas que não sejam a fabricação do papel.
Figura 1- Eucaliptos.
O Eucalipto (Eucalyptus globulus) é uma angiospérmica dicotiledónea originária da Austrália que foi introduzida em Portugal em meados do século XIX. É uma árvore que prefere climas temperados húmidos e ensolarados, tolerando topo o tipo de solos, exceto os calcários. Pode atingir os 70/80 m, com o seu tronco alto e reto, com casca é lisa, cinzenta ou castanha. As folhas são persistentes e têm forma e aspecto diferentes conforme a fase de crescimento, mas quando adultas são longas e lanceoladas, tendo um pecíolo comprido e cor verde brilhante. As flores são grandes, sésseis e de cor branca, muito procuradas pelas abelhas, enquanto os frutos são cápsulas lenhosas.

As sua principal utilização é a produção de madeira para pasta celulósica, não tendo utilidade para a construção ou mobiliário, mas as folhas de eucalipto possuem um óleo denominado eucaliptol que tem propriedades balsâmicas e antissépticas, contra bronquites e catarros. Todavia, a polémica em torno desta espécie arborícola dá-se devido à facilidade com que arde e propaga um incêndio, sendo que a sua rentabilidade e rápido crescimento dão origem a ações criminosas para que se possam utilizar zonas florestais de espécies autótones, reduzindo a biodiversidade, algo que foi combatido por uma legislação das arborizações que indicava que numa área ardida só poderiam ser plantadas árvores da mesma especie das que foram queimadas.
 



O CDS de Paulo Portas exibe os pergaminhos de ser o partido dos valores da "História de Portugal", do território e das pessoas que o habitam. Pois, chegou a hora de Portas o provar. Porque o CDS está a fazer, através de Assunção Cristas, ministra da Agricultura e Ambiente, e de Daniel Campelo, secretário de Estado das Florestas, um demencial ataque ao território. Num ano em que a área ardida mais que duplicou face ao ano anterior, o Governo quer liberalizar a plantação de eucaliptos em qualquer terreno, esquecendo que nada tem sido mais grave do que as vastas áreas plantadas em monocultura, como a do eucalipto, para que os fogos se tornem incontroláveis, os solos cada vez mais pobres e o despovoamento do Interior irreversível.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Os carros e o PS

A operação de aluguer dos carros da bancada parlamentar do PS ganhou contornos algo escabrosos, não pelo negócio em si, que foi tratado algo demagógicamente pela imprensa, mas pelas reações pouco informativas e muito bacocas de alguns dos seus deputados.

Não se admite que venham dizer que é impensável colocar um deputado andar num carro de baixo custo (atribuída a Francisco Assis, mas desmentida pelo mesmo), ou que venham dizer que são custos de uma democracia (dita pelo estimável líder da bancada socialista, Carlos Zorrinho). Uma democracia não se relaciona com a facultação de transportes a deputados através do dinheiro dos contribuintes! Os trabalhadores normais (na maioria dos casos) não têm os seus passes de transportes públicos pagos pelos seus empregadores para poderem vir trabalhar ou para fazerem o seu dia-a-dia, mas infelizmente é normal, em Portugal, dar-se certos privilégios bacocos a quem ocupa cargos públicos por eleição ou nomeação política.

Numa altura em que se exigem sacrifícios à classe trabalhadora, há que ter algum cuidado com a demonstração pública de alguns dos vastos privilégios de que dispõem os políticos que exercem cargos públicos. São privilégios que deveriam acabar, não tanto pelo facto de serem importantes para a recuperação económica do país, pois não afeta grande coisa, mas pelo aspeto moral da "coisa, para dar o sinal de que estamos todos no mesmo barco e queremos remar na mesma direção. O exemplo vem de cima e as pessoas estão cansadas de uma certa aristocracia democrática que se tem criado nesta 2ª República portuguesa.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Augusto Mateus pelo DN

Vale a pena ler as reportagens do DN com o economista Augusto Mateus. O antigo Ministro das Finanças avança com algumas críticas, sem entrar no populismo, em relação ao caminho que o Governo está a tomar para o país, apontando também algumas medidas que podem ser interessantes.
Figura 1- Augusto Mateus
De facto o país precisa de mais tempo para se reajustar, pois a "manta" não chega a todo o lado, quando "se tapa de um lado, destapa-se de outro". O grande problema de Portugal passa pela produtividade e competitividade, mas as medidas anunciadas no corte da despesa são inevitáveis, se calhar umas são de grande injustiça e terão de ser corrigidas a longo prazo, mas sabendo que a maioria da Despesa do Estado está em Salários da Função Pública e em Prestações Sociais (reformas, subsídios de desemprego, etc...), e que um dos grandes objetivos que a troika tem para Portugal é a redução do défice, parece-me lógico que os cortes sejam feitos na Função Pública. O problema é que a curto prazo algumas dessas medidas terão o efeito de aumentar os encargos em Prestações Sociais e diminuição da receita fiscal, nomeadamente a "libertação" de funcionários públicos com contratos a prazo, que por sua vez só poderá ser corrigido com crescimento económico e a consequente criação de empregos.



A estratégia do Governo não é "tonta" mas "está errada"

A estratégia do Governo não é "tonta", mas "está errada", faltando-lhe uma componente económica, defende Augusto Mateus, em entrevista à Lusa.