As Linhas de Wellington é um filme de época que pretende retratar a 3ª e última incursão francesa em território nacional durante o período das Guerras Napoleónicas. A produção é de Paulo Branco, o argumento de Carlos Saboja e a realização ficou a cargo de Valeria Sarmiento.
Figura 1- Poster do filme "Linhas de Wellington". |
A 3ª invasão francesa a Portugal teve início em julho de 1810, sob o comando do marechal Andre Massena. A entrada das tropas francesas em Portugal deu-se pelo NE o país, não tendo grandes dificuldades até chegar à serra do Buçaco, onde foram intercetadas e derrotadas pelas tropas luso-britânicas comandadas por Wellington a 27 de Setembro. Porém, os aliados, reconhecendo a sua minoria em termos de efetivos, recuam para atingir as Linhas de Torres Vedras, uma linha de fortificações de defesa a Lisboa que vinha sendo projetada e construída sob as ordens de Wellington, para aí aguardar as tropas do imperador Napoleão Bonaparte. As tropas francesas chegam às Linhas de Torres Vedras a 11 de Outubro (Massena a 14), onde se quedaram durante 4 semanas, acabando-se por retirar muito devido à falta de alimento, provocada por uma política de terra queimada do lado português, gerando consequentemente uma desmoralização e deserção do lado francês. A sua retirada definitiva de Portugal dá-se a 11 de Maio de 1811, quando abandonam a praça-forte de Almeida.
Figura 2- Mapa da 3ª invasão francesa a Portugal. |
O filme faz um bom retrato do êxodo das populações das suas cidades e aldeias, a política de terra queinada e o sofrimento provocado ao povo português por estas incursões francesas. Outros pontos positivos passam pela excelente fotografia, cenários e guarda-roupa de época. Porém, o filme em termos de argumento deixa muito a desejar, parecendo um documentário com alguma ficção pelo meio, que por sua vez está repartida em inúmeras pequenas histórias, muito pouco cativantes, algumas delas apenas com o objetivo de explorar algumas curiosidades históricas daquele momento, algo completamente desnecessário, pois estas devem surgir com naturalidade no cerne de um argumento sólido e coeso. A banda sonora é algo repetitiva e algumas situações parecem algo inverossímeis, e o grave é que não têm qualquer acrescento de valor para o cerne da história.
O filme tem demasiados atores, ou seja, aparecem muitas caras conhecidas, algumas delas apenas com direito a uma ou duas cenas só para se afirmar a sua participação no filme, desenvolvendo-se pouco a densidade das personagens, o que, se calhar, também provocou a falta de orçamento para a contratação de extras que dariam muito jeito para compor as tropas francesas e luso-britânicas, assim como desenvolver algumas cenas de batalha, claramente evitadas pela produção e realização do filme. Wellington (John Malkovich) foi muito mal aproveitado no filme, retratando-se apenas os pequenos fait-divers da personagem histórica, mas nada do seu grande génio militar, assim como a história romanceada do sargento Francisco Xavier (Nuno Lopes) e Maureen (Jemima West).
Figura 3- Sargento Francisco Xavier (Nuno Lopes) e Zé Maria (Afonso Pimentel). |
Enfim, não há muita coisa de positivo a dizer do filme, vale pela imagem e pela componente histórico/documental, para quem é interessado nestas matérias. O filme não puxa pela interpretação dos atores, o argumento ficcionado é fragmentado e pouco cativante. O que vale é que o dinheiro que gastei para ver o filme é a favor da produção cinematográfica nacional, mas esta tem de rapidamente repensar a forma como quer atrair o público para os seus produtos. A produção poderá, porventura, atrair espetadores devido ao nome dos atores, pelo anúncio dos custos e meios envolvidos e pelo facto de ser um filme de época, todavia, não vai conseguir "enganar" os espetadores numa segunda ocasião, pois foram defraudados na primeira, muito devido à falta de um argumento coeso e sem uma dose de entretenimento aceitável.
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