Ultimamente pouco tenho escrito no blogue, parte da razão passa pela minha falta de disponibilidade, mas grande parte porque uma pessoa cansa-se de escrever sobre as mesmas questões e problemas. O grande problema de Portugal é, e sempre será (enquanto nada for feito), da sua classe dirigente, completamente desprovida de bom senso, de accountability, capacidade de liderança e de gestão, mas altamente permeável a lobbies, a caciquismos e a comportamentos egoístas de individualismo.
A crise política que se abriu em Portugal não começou com a demissão de Paulo Portas, mas sim com o fracasso da política de recuperação económica engendrada pela troika e pelo governo de coligação de Direita, cuja principal figura era o Ministro das Finanças Vítor Gaspar, cujas previsões económicas foram sempre falhando em toda a linha. Este Governo poderia ter feito algo contra os ditames da troika? Penso que sim! Para já nunca deveria ter sido “mais papista que o papa”, ou seja, a sua vontade de ir para além do memorando só beneficiava a sua linha de pensamento neoliberal a longo prazo, mas colocaria os portugueses, que devem ser tratados como pessoas e não como números, numa situação deplorável! O governo também poderia deixar de lado o comportamento de “cão fiel” da troika, para adotar uma política de renegociação e de afirmação dos direitos de Portugal e dos portugueses, aliando-se ao eixo Itália, Grécia e Espanha.
O governo já estava descredibilizado por inúmeros eventos que ocorreram ao longo nestes 2 anos, do caso TSU ao caso SWAPS, mas principalmente por ter feito o oposto do que estava no seu plano eleitoral e por ter agido de má-fé nos acordos de Concertação Social. A saída de Vítor Gaspar do Governo só vem confirmar que o rumo traçado para Portugal foi um erro colossal. A partir deste momento o Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, teria duas alternativas: (1) pedir a sua demissão ou (2) reconfigurar a política diplomática e económica do país. Ora, Passos arranjou uma 3ª solução... manter tudo como estava, ignorando a situação do país, fazendo progredir Maria Luís Albuquerque para o cargo de Ministra das Finanças.
O centro-democrata Paulo Portas, que andava algo azedado com os mandos e desmandos de Passos/Gaspar e à procura de uma saída airosa do desastre que estava a ser a governação, encontrou a justificação que pretendia para se pirar e assim assumir o fingimento de ser a verdadeira oposição ao Governo… e logo em ano de eleições autárquicas. Foi uma clara tentativa de salvar a sua face e do seu partido perante o eleitorado português, mas o que o líder do CDS-PP não contava era com o debacle da confiança internacional em Portugal com base na sua decisão, mas acima de tudo que Pedro Passos Coelho viesse implorar a sua permanência, cedendo a todos os seus caprichos, e a partir daí, o que era uma decisão irrevogável deixou de o ser!
O Presidente da República Cavaco Silva foi assistindo a isto tudo com a maior das serenidades, sem “tossir ou mugir,” e quando as coisas pareciam ter encontrado um certo equilíbrio na coligação, embora precário, eis que surge um comunicado ao país rejeitando o novo cenário e admitindo eleições antecipadas para 2014, pois agora não dá muito jeito por causa da presença da troika (como se ela fosse realmente embora nessa altura). Quando tínhamos um governo com um novo vice-Primeiro Ministro, encarregue da política económica, e com um novo Ministro da Economia (que chuto levou Álvaro Santos Pereira!), eis que a solução não foi aceite por Cavaco Silva com base na fragilidade da "coisa"... e agora temos um governo que sabe que está a prazo e isso raramente é bom para a estabilidade de qualquer administração, pública ou privada.
Podemos concordar na generalidade com a intervenção do Presidente da República, especialmente na necessidade de congregar os esforços dos 3 partidos do arco do poder, mas também podemos refletir porque é que não se reuniu com os mesmos para discutir o assunto antes de levar a ideia para o país… e deste ponto de vista até se compreende a reação do PS, que preferirá partir para uma solução congregadora após eleições, pois aí terá mais legitimidade e, provavelmente, o comando das operações numa possível coligação. Também nos podemos questionar que esta abordagem vem com 2 anos de atraso, que podia e devia ter sido tentada pelo Presidente da República antes das últimas legislativas, quando o PS e o PSD partiam para a disputa de eleições após a chamada do FMI.
No fundo, Cavaco Silva reagiu tarde demais... e por mais bem intencionada e certa que seja a sua reação, acabou por ser too little too late, levando mais "lenha para a fogueira" da crise. Para além de mais acaba por se demitir novamente de qualquer intervenção direta numa convergência entre partidos, deixando essa questão nas mãos da Assembleia da República!!!! As if...
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