quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Deixar cair a Grécia?

Em muitas conversas de jornais e de cafés refere-se a possibilidade da Grécia ficar na bancarrota, e que a Europa do Norte terá, eventualmente, de a deixar cair... tal como Portugal. A ineficácia em resolver o problema grego, apesar das tranches financeiras sucessivas que lhes têm sido dadas, gera um sentimento de incapacidade e de obstáculo relativamente ao desenvolvimento económico nos restantes países. 

O problema grego é, no entanto, mais complexo do que a aparência quer mostrar. Pagar tranches sucessivas à Grécia parece um "mau negócio", mas seria bem mais caro para os alemães e franceses deixarem-na cair. Os bancos alemães e franceses, assim como os portugueses, dispõem no seu saldo de muita da dívida pública grega... ora, se a Grécia entrar em incumprimento, o que acontecerá a estes bancos? Os 5 mil milhões que o Estado português gastou no BPN serão um piquenique em comparação com o que adviria de um cenário desses. E não tenhamos dúvidas, os Estados teriam que nacionalizar a banca em apuros para evitar uma hecatombe no sistema financeiro, endividando-se para o efeito. Será que a Alemanha e a França escaparão do radar dos mercados desta vez? As agências de rating irão perdoar?
Quando Barack Obama criticou a hesitação e a lentidão da Europa em resolver os seus problemas não teria um bocadinho de razão? O apoio à Grécia e a Portugal deveria ter sido, logo de início, bastante forte e empenhado, não deveria visar somente o corte de vícios e despesas bacocas, mas o auxilio para o crescimento económico, por via do aumento da produtividade e do emprego, os grandes problemas de ambos os países, e alargando o prazo de correcção do défice, caso contrário, arriscam-se a não conseguir tirar estes PIIGS da "lama" e a provocar uma crise ainda maior.

Depois ainda há aqueles gregos e portugueses que dizem que o melhor mesmo é declarar falência e começar do 0. Pois... do 0 nunca se começa, os mercados não dão dinheiro a quem não lhes paga, e como produzimos bastante menos relativamente aquilo que consumimos, e nem sequer temos uma auto-suficiência alimentar, podem crer que seriam tempos bastante longos e complicados até nos conseguirmos reajustar, mercê de um isolamento económico pela falta de capital próprio e de confiança dos mercados.

Nesta história não existem inocentes... a União Europeia criou uma situação entre os estados-membros de desigualdade ao favorecer uma dicotomia do mercado comum entre países fornecedores e países clientes. Foram dados fundos comunitários a Portugal para diminuir a produção agrícola e para abater a frota pesqueira, isto num país pouco industrializado e sem a pedalada para conseguir acompanhar o ritmo económico dos países mais desenvolvidos da Europa, mas ainda assim fomos aceites para fazer parte de um sistema monetário comum.

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