terça-feira, 23 de outubro de 2012

Armstrong: de bestial a besta

Lance Armstrong era um ídolo para muitas pessoas... um desportista que venceu um cancro e que, posteriormente, consegue 7 vitórias no mais prestigiado evento de ciclismo do mundo, o Tour de França, tem de ser um exemplo e um modelo de história cinematográfica de como superar obstáculos e sair deles mais forte e determinado. Por isso, quando surgiram as primeiras histórias de que as suas vitórias estavam relacionadas com o doping, pensou-se que se tratava da eterna dor de cotovelo francesa, pois os resultados nos testes da União Internacional de Ciclismo (UCI) eram persistentemente negativos. Porém, nos últimos anos o cerco tem-se fechado em torno do ciclista norte-americano, inclusivamente pelos seus pares e país de origem.
Figura 1- Lance Armstrong no Tour com a camisola da US Postal.
Até 1996, antes do diagnótico de cancro e seu respetivo tratamento, Lance Armstrong era apenas um bom ciclista, tinha ganho algumas provas, incluindo duas etapas no Tour, pertencendo à equipa espanhola da Cofidis. Aos 25 anos o ciclista estado-unidense realiza uma conferência de imprensa em que declara que padece de cancro, que já se havia espalhado dos testítulos a outras partes do corpo. Mesmo a lutar contra esta terrível doença o ciclista fazia questão em afirmar que pretendia voltar ao ciclismo profissional quando tivesse recuperado, todavia, mais tarde, a equipa Cofidis rescindiria o contrato com Lance.

Em 1998, plenamente recuperado da doença e visivelmente mais magro, é contratado pela equipa US Postal. É a partir daqui que se dá o "conto de fadas" de Armstrong, que depois das adversidades, se torna num dos maiores ciclistas de sempre, ao lado de nomes como Miguel Indurain e Eddie Mercx, vencendo logo em 1998 a Volta ao Luxemburgo. A partir de 1999 e até 2005 ganha consecutivamente o Tour de França (7 vezes), ganhando ainda pelo meio a volta à Suiça e uma medalha de bronze pelo contra-relógio nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000). Acaba a carreira no topo e decide dedicar-se à sua fundação, criada em 1997 para ajudar as pessoas afetadas pelo cancro. Porém, tratou-se apenas de um interregno de 3 anos, voltando para competir durante outros 3, mas sem grandes resultados (é 3º no Tour em 2009!).
Figura 2- Lance Armstrong com a camisola amarela do Tour no meio do pelotão.
As alegações de doping já vinham de trás, havendo quem alegue que, logo em 1998, Lance Armstrong começou a tomar uma droga chamada EPO, que simula o efeito da testosterona no organismo, fazendo com que o metabolismo funcione de forma mais eficiente. Surgiram várias testemunhas, dentro e fora da US Postal, que corroboram o uso de substâncias ilícitas por parte do ciclista para melhorar o desempenho desportivo, pessoas como Emma O´Reilly, sua massagista, e o seu antigo companheiro de equipa Tyler Hamilton. Os procuradores do Governo dos EUA iniciaram uma investigação sobre as alegadas acusações a Armstrong, acusações que ele sempre refutou.

Em junho de 2012 a US Anti-Doping Agency (USADA) acusou formalmente Armstrong do consumo de substâncias ilícitas, baseando-se em amostras sanguíneas de 2009 e 2010 e em testemunhos de outros ciclistas, e retirando-lhe do palmarés todas as suas conquistas desportivas desde 1998 e banindo-o da prática desportiva profissional. Apesar de refutar o veredicto, Lance Armstrong optou por não constestar as acusações, alegando estar cansado de tentar provar constantemente a sua inocência. Em outubro a USADA publica os detalhes da sua investigação, devido a um apelo da UCI, declarando que "(...) Armstrong fazia parte do mais sofisticado, profissionalizado e eficaz programa de doping que o Desporto já conhecera". Nesse mesmo mês, a UCI aceita as sanções e recomendações da USADA relativamente ao caso, vindo o seu presidente, Patrick McQuaid, afirmar publicamente que "Armstrong não tem lugar no ciclismo, merecendo o esquecimento".

Infelizmente ou felizmente, Armstrong não será esquecido, fará sempre parte daquelas histórias de batota e falta de desportivismo em relação aos adversários, ao invés de ser uma história de preserverança e superação... ainda por cima nós temos mais falta deste último género de histórias!

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