sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Diário de Notícias: Merkel- "União orçamental da UE prestes a ser criada"


A UE não precisa de ser refundada! Precisa antes que a voltem a colocar no caminho que estava traçado pelos seus pais fundadores, ao invés de estar na situação que se encontra de momento. Os países têm de fazer uma introspecção profunda para saber realmente se querem fazer parte do projecto europeu como estava delineado... e isso passa impreterívelmente por uma maior união e coesão, deixando egoísmos e elites nacionais de lado para partir para um ideal comum que beneficie os cidadãos que residem neste espaço, mesmo que no processo se percam parte das soberanias dos países como Estados independentes.

De facto, o projecto europeu, ao dar início a uma união monetária, saltou por cima de patamares essenciais para a construção de um edifício comum, muito pela relutância dos países em ceder parte das suas competências a um ente supra-nacional. Se é indiscutível que a falta de uma união orçamental faz parte dessas fases que foram esquecidas, também se distingue uma falta de união política e empowerment das instituições da União, matéria que já tratei em publicação anterior. Penso que está na hora de terminar com o preconceito relativamente a um federalismo europeu!

O que tem acontecido é que Angela Merkel, com Nicolas Sarkozy atrelado, está a tentar tomar decisões consoante aquilo que pensa que vai servir melhor os interesses do seu país, ignorando completamente a Comissão Europeia e os restantes parceiros europeus, mandando inclusivamente "recadinhos" para os governos dos países sob a mira dos mercados. Desta forma, temo que estejamos mais perto de uma desintegração do que de uma maior união dos povos da Europa, pois acredito que a grande maioria dos países não reconhece legitimidade destes dois Estados para impôr a sua vontade aos demais ultrapassando as instituições euopeias, ainda por cima, de acordo com sondagens, os seus governos não parecem dispôr de popularidade entre o seu eleitorado, sendo previsível uma derrota nas próximas eleições internas.

Uma união política, digamos federal, um BCE independente, um orçamento central e uma maior solidariedade entre os diferentes Estados são essenciais para que o Euro e a União Europeia sobrevivam a esta crise da Dívida Pública... que não nos esqueçamos que foi provocada pela crise dos Subprimes dos mercados financeiros. Em Portugal, apesar dos problemas estruturais que ainda necessitam de reformas profundas, do governo de Durão Barroso aos governos de José Sócrates o aumento da dívida pública vinha sendo claramente combatida e controlada à custa de orçamentos contraccionistas, até que em 2008 se dá a crise económica mundial que fez disparar os juros da dívida. Na Irlanda, a falência dos principais bancos do país, obrigaram a várias nacionalizações... tendo sido necessário um endividamento público massivo, que originou desconfianças dos mercados financeiros relativamente a solvabilidade da dívida irlandesa. Quando a Grécia entrou em dificuldades, a primeira reacção da Alemanha foi "descartar-se" de qualquer tipo de ajuda, o que agravou ainda mais a situação grega e, consequentemente, do resto da Europa! A hesitação em accionar mecanismos de solidariedade custou caro a todos os europeus, e criou uma enorme desconfiança dos investidores externos relativamente a este continente!

O plano de recuperação económica da troika tem implicado, para estes países, uma espécie de "castigo" aos seus povos através da austeridade, ao invés de apoiar um crescimento económico em paralelo com as tais reformas estruturais que tanto necessitam. Combater a recessão com medidas recessivas só vai aumentar a desconfiança dos mercados relativamente a solvabilidade da dívida, daí as agências estarem constantemente a descer o rating de países e bancos europeus. De acordo com os alemães e franceses, os "malandros" da periferia da Europa gastavam o que tinham e não tinham, mas não se podem esquecer que esses gastos  foram para comprar aquilo que as suas economias produziam, os carros (BMW, Mercedes, Audi, Wolkswagen, Renault, Peugeot...), a tecnologia (Grundig, Siemens...) e material militar (submarinos, corvetas...) e infraestrutural (TGV, Airbus...). 

Aquando da crise dos subprimes, a Islândia mergulhou num enorme fosso financeiro, aumentou a dívida pública massivamente para poder nacionalizar a banca... mas aconteceram dois aspectos curiosos que permitiram manter uma coesão social e fazer uma plena recuperação económica. Para o primeiro caso, julgaram e prenderam os responsáveis financeiros por detrás das falcatruas que deixaram o país à beira do abismo, por outro lado, colocaram a máquina rotativa de impressão de dinheiro a funcionar, desvalorizando a moeda e aumentando a inflação, o que significava uma perda de poder de compra dos islandeses, logo exportavam menos, mas diminuia o valor monetário dos seus produtos, facilitando as exportações.

Neste momento, Portugal vê as exportações como principal motor do desenvolvimento económico, criando uma expectativa edílica de enorme aumento em 2012, o que com a recessão generalizada nos países europeus, nossos principais parceiros comerciais (Espanha, França e Alemanha à cabeça), que também ambicionam importar menos e exportar mais, nos colocam numa situação muito frágil em termos de recuperação económica. O BCE tem agido de acordo com os interesses alemães, controlado por estes para ser uma cópia do Bundesbank, e deste modo, devido ao trauma inflacionista que a República de Weimar deixou no subconsciente alemão, o BCE tem servido essencialmente para controlar os níveis de inflação, estando impedido de colocar a rotativa a funcionar para poder eliminar parte da dívida pública e que possibilitaria a recuperação económica.

O combate à crise pela eliminação do estado social da Europa, criado nos fins do século XIX por Otto von Bismark (Alemanha) e que é a imagem de marca do Humanismo europeu, seria um retrocesso civilizacional pela perda de direitos e conquistas dos seus cidadãos, conseguidas  com muito esforço ao longo de vários séculos. A crescente tecnocratização dos governos está retirar alguma Humanidade nas medidas a tomar e a acrescentar um enorme défice democrático na vida dos Estados.

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2162325

A chanceler alemã Angela Merkel disse hoje, no Parlamento, que a Europa está prestes a criar um união orçamental, depois de na quinta-feira ter discutido com o Presidente francês formas de "refundar" a Europa.

"Não estamos apenas a falar sobre uma união orçamental, estamos prestes a realizá-la", afirmou, acrescentando que serão necessárias "regras rígidas, pelo menos para a zona euro".

Na quinta-feira Angela Merkel e Nicolas Sarkozy estiveram a debater formas de "repensar e refundar a Europa", um plano que pretendem apresentar na Cimeira de Bruxelas, a 9 deste mês.

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