terça-feira, 29 de novembro de 2011

O nosso Fado

Confesso que não sou um grande entusiasta do género... mas não lhe fico indiferente, tando ao género de Lisboa como o de Coimbra, pois apesar de distintos, quando bem interpretados tocam em qualquer um de nós, que pertencemos a este território "à beira-mar plantado".

O Fado está eternamente ligado às noções lusitanas de "destino" e de "saudade", um sentimento de separação daquilo que se conhece e se ama por infortúnios da vida. A bela guitarra portuguesa, com o seu som melancólico e "metálico", e a forma de canto dos fadistas, um entoar triste, com algo de "mourisco" que provém das entranhas da alma, tornam este género musical diferente de todos os outros, merecendo claramente a distinção pela UNESCO de Património Imaterial da Humanidade, dada a 27 de Novembro de 2011.
Figura 1- "O Fado" de José Malhoa (1909).
É curioso ver a evolução do Fado na sociedade portuguesa, surgindo no meio urbano mais pobre por volta do século XVIII, conotado com algo boémio, noctívago e sexual, o que o tornava num género marginal, ligado aos marinheiros, tabernas e bordéis de Lisboa, tendo inclusivamente uma dança que lhe estava associada e estando as suas personagens ligadas a uma forma de estar pouco convencional para a sociedade da época, havendo mesmo divisões entre grupos rivais. A mais notável fadista dessa época terá sido Maria Severa, uma cigana e prostituta que cantava e tocava o fado nas ruas da Mouraria. Com o aparecimento dos meios de comunicação de massa no século XX o Fado ganhou mais notariedade, foi "polido" socialmente, profissionalizou-se e divulgou-se pela rádio e casas de fado. Os fadistas, alimentando a aura de mistério e melancolia, começaram a trajar-se de negro, cantando a saudade, o sofrimento e o infortúnio. Fadistas como Ercília Costa, Carlos Ramos, Hermínia Silva, Alfredo Marceneiro elevaram o fado para outro patamar, inclusivamente para "fora de portas". Contudo, é com a grande voz de Amália Rodrigues que se dá a grande transformação do fado para um género mais sofísticado, reunindo nas suas canções grandes letristas e poetas como Alain Oulman, Pedro Homem de Mello, Alexandre O'Neill, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, entre outros. Amália deixou uma marca indelével no fado, influenciando as gerações de fadistas que lhe seguiram, desde Carlos do Carmo a Mariza, tornando-o num género mundialmente conhecido. 
                                           Figura 2- "Povo que lavas no rio", por Amália Rodrigues (1961).

O Fado que, com o decorrer do século XX,  deixou de ser somente lisboeta para ser totalmente português, torna-se agora, no século XXI, em algo que pertence a todo o mundo. Podemos e devemos orgulharmo-nos de sermos portugueses nos dias que correm e apesar de tudo o que estamos a passar em termos económicos. Demos "novos mundos ao Mundo" com os Descobrimentos, espalhando e divulgando a nossa língua à Humanidade, imortalizada pelos escritos de Luís de Camões, Fernando Pessoa e José Saramago, e pelas vozes de Amália Rodrigues, Carlos do Carmo e Mariza.

1 comentário:

  1. Finalmente encontro um blog em condições, com informações e opiniões realistas face aos acontecimentos actuais.

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