Nas minhas deambulações pela cidade de São Carlos, em miniférias do trabalho, acabei por parar cerca de uma hora na Catedral da cidade para falar um pouco com Deus e refletir sobre o ano que chega ao fim. Algum tempo depois de ter chegado, a minha esposa se junta a mim, naquele templo de paz, silencioso para juntos estar em comunhão divina.
Catedral de São Carlos Borromeu (São Carlos, São Paulo, Brasil) |
Quase na hora de saída, mas ainda sentados, fomos abordados pelo pároco local, devidamente trajado para a eucaristia das 12:00, o qual nos abordou com a seguinte frase:
"Estamos com uma super promoção até ao dia 31 de Dezembro com confissões grátis!!!"
Ele virou costas e seguiu seu caminho. A início ficamos incrédulos olhando para a cara um do outro, até que a admiração passou a sorriso e o sorriso a riso, até que minha esposa quebrou o silêncio dizendo a Deus:
"Perdoa-lhe bom Deus porque ele não sabe o que faz!"
Olhei o telemóvel e vi marcado 27 de Dezembro!! Não, não era 1 de Abril! Falamos então um com o outro sobre o ineditismo da situação e como aquela abordagem de péssimo gosto se revestia de malícia e estava profundamente imbutida dentro dos conceitos atuais do Neoliberalismo e da Nova Ordem Mundial a qual transformou todas as coisas em produtos, em consumo, tanto bens materiais como pessoas e agora até, a paz espiritual!
Quando um Padre, um "representante" de Deus na Terra não dá nem um "Bom dia" e nos aborda de uma forma fugaz, descomprometida, calculista e fria, o que se pode esperar da restante Sociedade?
Uma pespetiva Histórica da Confissão
0 a 33: o ato de confessar nem sequer foi instituído por Jesus Cristo. No Novo Testamento, o filho de Deus cede aos 12 apóstolos o poder de perdoar os pecados (Jó 20,21-23), mas esta ação não se pode nem entender como a "Confissão" propriamente dita, mas sim num âmbito maior de amor e compaixão com o próximo, de bondade extrema e ajuda espiritual ao próximo!
Século I (1ª metade): foi São Paulo que advertiu sobre a necessidade e deu origem a este sacramento (Cor 5, 18). Recorde-se que São Paulo, um cidadão romano, nem sequer era um dos 12 apóstolos originais, escolhidos por Cristo.
Século XVI (meados): o Concílio de Trento reorganiza a Igreja Católica emitindo numerosos decretos disciplinares e especifica claramente as doutrinas católicas. Entre as quais, define que a Confissão é uma ação obrigatória para toda a população e sublinha a obrigatoriedade de registo escrito da mesma. São elaborados desde então os róis de confessados que consistiam numa listagem imensa com o nome de cada pessoa e data da última confissão. Aquele que não se confessasse regularmente ficava sujeito às penas impostas pelo Tribunal do Santo Ofício.
Século XIX: a Confissão passa a ser voluntária.
2012: em São Carlos (Brasil) consta-se que a confissão passa a ser um sacramento pago. O ato de falar perante Deus sobre os pecados terrenos e pedir o Seu perdão, passa a estar somente ao alcance de pessoas que possam estar dispostas a pagar financeiramente por tal ação, portanto, indigentes e pessoas no limiar da pobreza ficam automaticamente excluídas do perdão divino - considerando que esta prática está em vigor por toda a Igreja Católica e não nasceu da cabeça do padre local.
Para mais informações:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confiss%C3%A3o_%28sacramento%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_trento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisi%C3%A7%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_de_Tarso
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