Em 1940 realizava-se em Lisboa um evento até nunca antes visto em Portugal: a Exposição do Mundo Português. Tendo evitado a entrada de Portugal na 2ª Grande Guerra, o Estado Novo estava no seu período mais pujante, dando-se ao luxo de efetuar um monumento político e ideológico de propaganda ao regime desta magnitude, exaltando a portugalidade e o seu império, por debaixo de uma atmosfera de progresso e prosperidade. O óbice deste evento era a comemoração dos 800 anos sobre 1140, entendida na altura como a data da independência nacional, e os 300 anos sobre a restauração da independência.
Figura 1- Guia oficial da Exposição do Mundo Português.
A exposição teve como comissário-geral Augusto de Castro e como presidente da Comissão-executiva Júlio Dantas, que tinha em António Ferro o responsável pela parte secretarial. Contou-se com os melhores arquitetos nacionais da época, desde Cottinelli Telmo (o arquiteto-chefe), a Raul Lino, Pardal Monteiro, Luís Cristino da Silva e Rodrigues Lima para a renovação urbana da zona de Belém, mas também incluiu bastantes atividades culturais (exposições, desfiles, etc.), o Congresso do Mundo Português (participado por centenas de historiadores), o restauro de monumentos nacionais, a reabertura do Teatro S. Carlos e um ambicioso plano de obras públicas, como a construção do Aeroporto da Portela e do Estádio Nacional.
A inauguração do novo espaço em Belém deu-se a 23 de junho e, como não podia deixar de ser, contou com as figuras mais relevantes do regime: António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, General Óscar Carmona, Presidente da República, Patriarca de Lisboa D. Manuel Cerejeira, e Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e Presidente da Câmara de Lisboa. Aquela zona de Lisboa, junto ao rio Tejo, estava algo degradada, com antigas unidades fabris, havendo uma tentativa radical de mudar o tecido urbano existente de cerca de 560.000m2, respeitando a memória histórica e monumental de Belém, que contava com o Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém e Palácio de Belém, o que obrigava à demolição de uma boa parte do que ali existia, e criando uma área aprazível em torno da Praça do Império, uma das maiores praças da Europa, com vários pavilhões temáticos relacionados com a história e cultura portuguesa, assim com os seus territórios ultramarinos (incluiu também o pavilhão do Brasil, o único país convidado para o evento).
A sua realização exigiu, para além da demolição de edifícios, a expropriação de terrenos, o desalojamento de moradores, a alteração da linha-férrea para, no espaço de 11 meses, construir edifícios que, na sua maioria, eram de gesso, estuque, madeira e papel. A estética modernista adotada para a zona provocou críticas por parte de outros artistas que não seguiam a corrente proposta por Cottinelli Telmo. Entre os quais destacou-se o Coronel Arnaldo Ressano Garcia, caricaturista e presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, que originou o seu afastamento dos grandes eventos culturais do Estado. A Exposição estava dividida pelas secções de História, Etnografia e Mundo Colonial. Com centro na Praça do Império, foram construídos inúmeros pavilhões em ser redor, dos quais destacaram-se:
Figura 2- Vista das obras na zona de Belém (1939).
A inauguração do novo espaço em Belém deu-se a 23 de junho e, como não podia deixar de ser, contou com as figuras mais relevantes do regime: António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, General Óscar Carmona, Presidente da República, Patriarca de Lisboa D. Manuel Cerejeira, e Duarte Pacheco, Ministro das Obras Públicas e Presidente da Câmara de Lisboa. Aquela zona de Lisboa, junto ao rio Tejo, estava algo degradada, com antigas unidades fabris, havendo uma tentativa radical de mudar o tecido urbano existente de cerca de 560.000m2, respeitando a memória histórica e monumental de Belém, que contava com o Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém e Palácio de Belém, o que obrigava à demolição de uma boa parte do que ali existia, e criando uma área aprazível em torno da Praça do Império, uma das maiores praças da Europa, com vários pavilhões temáticos relacionados com a história e cultura portuguesa, assim com os seus territórios ultramarinos (incluiu também o pavilhão do Brasil, o único país convidado para o evento).
Figura 3- D. Manuel Cerejeira, Óscar Carmona e Oliveira Salazar na inauguração.
A sua realização exigiu, para além da demolição de edifícios, a expropriação de terrenos, o desalojamento de moradores, a alteração da linha-férrea para, no espaço de 11 meses, construir edifícios que, na sua maioria, eram de gesso, estuque, madeira e papel. A estética modernista adotada para a zona provocou críticas por parte de outros artistas que não seguiam a corrente proposta por Cottinelli Telmo. Entre os quais destacou-se o Coronel Arnaldo Ressano Garcia, caricaturista e presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes, que originou o seu afastamento dos grandes eventos culturais do Estado. A Exposição estava dividida pelas secções de História, Etnografia e Mundo Colonial. Com centro na Praça do Império, foram construídos inúmeros pavilhões em ser redor, dos quais destacaram-se:
- Pavilhão da Honra e de Lisboa (Luís Cristino da Silva);
- Pavilhão dos Portugueses no Mundo (Cottinelli Telmo);
- Pavilhão da Fundação, Formação e Conquista (Rodrigues Lima);
- Pavilhão da Independência (Pardal Monteiro);
- Pavilhão dos Descobrimentos (Pardal Monteiro);
- Pavilhão da Colonização (Carlos Ramos);
- Pavilhão de Portugal (dirigido por António Ferro);
- Pavilhão de Etnografia metropolitana, com a reconstrução das aldeias portuguesas (Almeida Segurado);
- Pavilhão da Vida Popular (Veloso Reis e João Simões);
- Pavilhão do Brasil (Raul Lino).
Figura 4 - Pavilhão da Honra e de Lisboa e Pavilhão dos Portugueses no Mundo.
A praça do Império foi delimitada lateralmente por 2 grandes pavilhões perpendiculares ao Mosteiro dos Jerónimos e ao rio, o Pavilhão da Honra e de Lisboa a Leste, e o Pavilhão dos Portugueses no Mundo a Oeste. Para além destes pavilhões, foram feitas outras estruturas que assinalavam de forma simbólica os feitos e glórias do passado do povo português. No limite ocidental da exposição, foi colocada a Nau Portugal e o Padrão dos Descobrimentos. Atravessando a linha férrea através da Porta da Fundação (representada por uns guerreiros medievais colossais), encontrava-se a Secção Histórica, que para além dos Pavilhões da Formação e Conquista, e da Independência, continha, junto a pavilhão dos Descobrimentos, a Esfera dos Descobrimentos. Do lado oposto havia o Pavilhão da Fundação, o Pavilhão do Brasil e o Pavilhão da Colonização. Atravessando o Bairro Comercial e Industrial, chegava-se ao Mosteiro e aí se fazia a entrada da Secção Colonial. No canto oposto, existia um Parque de atracções para os miúdos, e partir dali, em direção ao rio, chegava-se à Secção de Etnografia, tendo um Centro Regional com representações de Aldeias Portuguesas e o Pavilhão da Vida Popular. Por trás deste pavilhão, encontrava-se o Jardim dos Poetas e um parque infantil. Na linha junto ao rio, com as suas docas, vamos dar a um espelho de água com um restaurante, que ainda hoje existe junto ao Padrão dos Descobrimentos.
Figura 5- Vista para a Praça do Império com o Padrão dos Descobrimentos ao fundo.
O Pavilhão da Honra e de Lisboa tinha 150m de comprimento por 19m de altura, tendo uma torre que se elevava a 50m. O Pavilhão dos Portugueses no Mundo destacava-se pela enorme estátua da Soberania, esculpida por Leopoldo de Almeida. O Padrão dos Descobrimentos, desenhado por Cottinelli Telmo e com esculturas de Leopoldo de Almeida, exaltava os Descobrimentos, representando o Infante D. Henrique na dianteira de uma caravela estilizada, apoiado por todo um grupo de pessoas notáveis da nossa história marítima (entre os quais Camões, Zurara, Pedro Nunes, Gil Eanes, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, Pêro da Covilhã, Afonso de Albuquerque, etc.). A Nau Portugal tratou-se de uma reconstituição de um galeão da carreira da Índia do século XVII, a partir do pensamento de Leitão de Barros e Martins Barata, tendo sido construída nos estaleiros de Aveiro. Chegou a afundar-se na viagem inaugural em direção a Lisboa, por má condução, acabando mesmo por ser trazida até à capital por marinheiros ingleses liderados pelo comandante Spencer.
Figura 6- Vista para a Nau Portugal e Esfera dos Descobrimentos.
Destas obras todas
subsistiram a Praça do Império, com respetiva fonte e estatuária, o Museu de
Arte Popular (ex-Pavilhão da Vida Popular) e, de certa maneira, o Padrão dos
Descobrimentos... sendo preciso notar que o monumento original, feito em
madeira e gesso, foi desmontado em 1958, porém, o apego que os portugueses
tiveram ao mesmo, fez com que fosse reconstruído em 1960, mas desta vez em
pedra de lioz e betão, no contexto das comemorações dos 500 anos da morte do
Infante D. Henrique, o navegador.
Figura 7- Reconstrução do Padrão dos Descobrimentos.
A exposição recebeu cerca de 3 milhões de visitantes, tendo-se encerrado a 2 de dezembro de 1940. Constituiu-se com o marco cultural mais significativo do regime, o clímax da "política de espírito" lançada por António Ferro, diretor do Secretariado de Propaganda Nacional, que pretendia exaltar a nacionalidade e consolidar o regime através da sua consagração pública. E nesta altura tudo parecia correr bem ao regime, as dificuldades financeiras e políticas tinham sido ultrapassadas, e a Grande Guerra ocorria para lá dos Pirenéus!
Figura 8- Vídeo reportagem da exposição.
Bibliografia:
BARROS, Júlia Leitão de, “Exposição do Mundo Português”. Dicionário de História do Estado Novo. vol. 1. Lisboa: Círculo de Leitores, 1996, pp. 325-327;
Fundação Calouste Gulbenkian (Fundo fotográfico de Mário Novais);
MÓNICA, Maria Filomena, “Exposição do Mundo Português”. Dicionário de História de Portugal. Vol. 7.Lisboa: Livraria Figueirinhas, 1999, pp. 710-711;
Wikipédia
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