O Congresso do PS acabou por redundar numa tentativa de António José Seguro passar a sua mensagem para o interior do partido, unindo as bases, pedindo tempo e apoio para as batalhas que se adivinham e acalmando uma possível oposição interna semelhante aquelas que existem no PSD quando não está no poder. A divisão foi visível pela apresentação de duas listas diferentes para a Comissão Nacional, uma delas apresentada pelo seu anterior adversário ao cargo de secretário-geral do partido, Francisco Assis.
Convenhamos que no PS nunca houve o mesmo espírito dos "sociais-democratas" no que concerne às "facadinhas na costas", o que não quer dizer que não as haja, mas apesar de existir uma ala mais esquerdista e outra mais central dentro do partido as querelas são muito menos "brutais" e "barulhentas" do que no interior da "máquina laranja", ainda assim, "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém" e António José Seguro deverá seguir esta máxima, congregando à sua volta os partidários de Assis.
Figura 1- António José Seguro procura unir socialistas com um movimento de mão à "Paulo Portas". |
Ficou também demonstrado quais serão os principais "campos de batalha" pelos quais o secretário-geral do PS se irá bater... tudo o que seja para lá do entendimento com a troika e a forma de como alcançar os objectivos traçados pela União Europeia referentes ao défice, demarcando-se dos aumentos do IVA nos transportes, electricidade e gás. As privatizações e as possíveis alterações constitucionais também estão sob a mira de António José Seguro, pelo que Passos Coelho terá de contar com uma forte oposição, ou um forte questionamento, sobre as opções que o Governo adoptar nesta matéria.
Quanto às críticas de uma "política virada para as TV e jornais", embora fique sempre bem a crítica a tais atitudes dos políticos, é algo em que parece reconhecer que não tem particular apetência... falta carisma, "chama", mas terá que aprender a conviver bem depressa com estes particularismos do jogo político, desenvolvendo as suas capacidades de oratória, isto se quiser que a sua mensagem passe para o eleitorado, algo em que José Sócrates era exímio.
O líder do partido criticou aqueles que fazem política para "as tvs e para os jornais".
António José Seguro foi ontem a Braga, no arranque do congresso do partido, pedir aos socialistas que lhe dêem tempo para colocar em prática o seu projecto e para vencer as eleições legislativas de 2015. "Esta é uma corrida de fundo e não um somatório de corridas de 100 metros. (...) A política séria e com conteúdo precisa de tempo", afirmou Seguro, no seu primeiro discurso como líder num congresso socialista, realçando que as eleições legislativas não se realizam "para o mês que vem".
"Não ganhamos se o nosso objectivo for o melhor soundbyte do dia ou do telejornal da noite", acrescentou António José Seguro, apontando o dedo àqueles que fazem política para "as tvs e para os jornais". Seguro disse que a próxima batalha do PS será vencer as autárquicas e considerou que todos devem estar disponíveis para essas eleições.
O essencial do discurso foi preenchido com críticas ao governo de coligação PSD/CDS. Seguro começou por acusar Passos Coelho de estar a ir para além do programa da troika e demarcou-se de medidas como o aumento do IVA na electricidade e no gás ou "o aumento colossal" do preço dos transportes. "Nenhuma destas medidas estava estabelecida, ou nestes termos ou nestas datas, no memorando da troika. Foi o governo que escolheu estas medidas como prioridade da sua acção política."
Desta forma, o novo líder demarcou-se da política seguida por Passos Coelho, que está a seguir "uma receita que não está no memorando". "Só respondemos por medidas que tiverem a nossa assinatura. Não passamos cheques em branco", garantiu o líder do PS, que criticou duramente medidas como a privatização da Águas de Portugal e da RTP ou a intenção de rever a Constituição com um projecto que "rompe o pacto e o consenso constitucional" em aspectos como "o equilíbrio das relações laborais ou as funções sociais do Estado".
Uma boa parte do discurso foi dirigido directamente a Passos Coelho, que foi acusado por Seguro de falar aos portugueses "em tom de ameaça por ousarem manifestar-se ou exprimir-se livremente". "Em democracia foi a primeira vez que um primeiro-ministro ousou fazê-lo", acrescentou.
As propostas apresentadas pelo líder dos socialistas estão relacionadas com a Madeira, que vai a votos em Outubro. Seguro defende que seja "introduzida uma cláusula democrática que obrigue os órgãos próprios da região a respeitarem as recomendações do Tribunal e Contas". E defendeu ainda que seja feito "um fortíssimo corte nas gorduras e mordomais do governo regional".
Eleita por maioria. Maria de Belém foi eleita presidente do PS com 776 votos a favor, dez votos brancos e dois nulos. Uma votação expressiva, apesar de mais de metade dos delegados não terem participado na votação. A nova presidente do partido acabou por não discursar no início do congresso, como é tradição nas reuniões dos socialistas, já que o orador anterior - o líder da distrital de Braga, Joaquim Barreto - acabou por ocupar mais tempo do que estava previsto.
À chegada ao congresso, António José Seguro evitou falar sobre o facto de existirem duas listas à Comissão Nacional, depois de terem falhado as negociações com Francisco Assis, e preferiu realçar que a prioridade da sua liderança "é resolver os problemas das pessoas".
Também Mário Soares, que voltou a um congresso para participar num debate sobre a Europa, desdramatizou a existência de duas listas ao órgão máximo do partido entre congressos. O fundador do PS defendeu não existirem "divergências" no partido, mas apenas "várias pessoas, cada uma tendo o seu ponto de vista".
À chegada ao congresso, Almeida Santos, que se despediu do cargo de presidente do partido ao fim de quase 20 anos, defendeu que António José Seguro não deve fazer "uma oposição feroz" ao executivo de Passos Coelho, já que "os governos devem ter um período de grande tolerância por parte dos seus adversários". Sobre a posicionamento ideológico do PS, Almeida Santos, pensa que o partido dificilmente poderá virar à esquerda, já que "está amarrado ao acordo da troika", que "não tem nada de esquerda".
O novo líder do PS utilizou o teleponto durante o discurso com que abriu o congresso, seguindo assim uma prática inaugurada por José Sócrates que em praticamente todos os discursos utilizava esta ferramenta.
O congresso arrancou com Joaquim Raposo, presidente da comissão organizadora, a chamar a comissão de honra do congresso, à qual pertence José Sócrates, que foi um dos ausentes mais aplaudido pelos delegados. As palmas também aumentaram de decibéis quando se ouviu na sala os nomes de António Costa, Mário Soares e de Ferro Rodrigues. Este último mereceu uma referência no discurso de Seguro: "Esta é a sua casa, a casa que fundou, esta é sua casa, venha sempre que quiser, porque esta é a casa da esquerda democrática em Portugal."
"Não ganhamos se o nosso objectivo for o melhor soundbyte do dia ou do telejornal da noite", acrescentou António José Seguro, apontando o dedo àqueles que fazem política para "as tvs e para os jornais". Seguro disse que a próxima batalha do PS será vencer as autárquicas e considerou que todos devem estar disponíveis para essas eleições.
O essencial do discurso foi preenchido com críticas ao governo de coligação PSD/CDS. Seguro começou por acusar Passos Coelho de estar a ir para além do programa da troika e demarcou-se de medidas como o aumento do IVA na electricidade e no gás ou "o aumento colossal" do preço dos transportes. "Nenhuma destas medidas estava estabelecida, ou nestes termos ou nestas datas, no memorando da troika. Foi o governo que escolheu estas medidas como prioridade da sua acção política."
Desta forma, o novo líder demarcou-se da política seguida por Passos Coelho, que está a seguir "uma receita que não está no memorando". "Só respondemos por medidas que tiverem a nossa assinatura. Não passamos cheques em branco", garantiu o líder do PS, que criticou duramente medidas como a privatização da Águas de Portugal e da RTP ou a intenção de rever a Constituição com um projecto que "rompe o pacto e o consenso constitucional" em aspectos como "o equilíbrio das relações laborais ou as funções sociais do Estado".
Uma boa parte do discurso foi dirigido directamente a Passos Coelho, que foi acusado por Seguro de falar aos portugueses "em tom de ameaça por ousarem manifestar-se ou exprimir-se livremente". "Em democracia foi a primeira vez que um primeiro-ministro ousou fazê-lo", acrescentou.
As propostas apresentadas pelo líder dos socialistas estão relacionadas com a Madeira, que vai a votos em Outubro. Seguro defende que seja "introduzida uma cláusula democrática que obrigue os órgãos próprios da região a respeitarem as recomendações do Tribunal e Contas". E defendeu ainda que seja feito "um fortíssimo corte nas gorduras e mordomais do governo regional".
Eleita por maioria. Maria de Belém foi eleita presidente do PS com 776 votos a favor, dez votos brancos e dois nulos. Uma votação expressiva, apesar de mais de metade dos delegados não terem participado na votação. A nova presidente do partido acabou por não discursar no início do congresso, como é tradição nas reuniões dos socialistas, já que o orador anterior - o líder da distrital de Braga, Joaquim Barreto - acabou por ocupar mais tempo do que estava previsto.
À chegada ao congresso, António José Seguro evitou falar sobre o facto de existirem duas listas à Comissão Nacional, depois de terem falhado as negociações com Francisco Assis, e preferiu realçar que a prioridade da sua liderança "é resolver os problemas das pessoas".
Também Mário Soares, que voltou a um congresso para participar num debate sobre a Europa, desdramatizou a existência de duas listas ao órgão máximo do partido entre congressos. O fundador do PS defendeu não existirem "divergências" no partido, mas apenas "várias pessoas, cada uma tendo o seu ponto de vista".
À chegada ao congresso, Almeida Santos, que se despediu do cargo de presidente do partido ao fim de quase 20 anos, defendeu que António José Seguro não deve fazer "uma oposição feroz" ao executivo de Passos Coelho, já que "os governos devem ter um período de grande tolerância por parte dos seus adversários". Sobre a posicionamento ideológico do PS, Almeida Santos, pensa que o partido dificilmente poderá virar à esquerda, já que "está amarrado ao acordo da troika", que "não tem nada de esquerda".
O novo líder do PS utilizou o teleponto durante o discurso com que abriu o congresso, seguindo assim uma prática inaugurada por José Sócrates que em praticamente todos os discursos utilizava esta ferramenta.
O congresso arrancou com Joaquim Raposo, presidente da comissão organizadora, a chamar a comissão de honra do congresso, à qual pertence José Sócrates, que foi um dos ausentes mais aplaudido pelos delegados. As palmas também aumentaram de decibéis quando se ouviu na sala os nomes de António Costa, Mário Soares e de Ferro Rodrigues. Este último mereceu uma referência no discurso de Seguro: "Esta é a sua casa, a casa que fundou, esta é sua casa, venha sempre que quiser, porque esta é a casa da esquerda democrática em Portugal."
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