A corrida para secretário-geral do PS tem-se feito, inevitavelmente, entre as duas alas predominantes do partido, a mais “esquerdista”, representada desta feita por António José Seguro, e a ala mais “central”, representada por Francisco Assis. Não sei estas correntes têm consciência de si mesmas em termos ideológicos, ou se os seus membros apenas se vão reunindo pelo “convite” e/ou pela afinidade de discurso, mas a sua existência parece-me inquestionável.
O que parece certo é que de uma destas alas surgirá o novo secretário-geral do partido, apesar de uma 3ª via estar em vias de se apresentar (através de Fernando Camaño Garcia), e resta saber que opção os militantes irão tomar, sabendo que o PS, qualquer que seja o vencedor, deverá enfrentar uma “travessia no deserto” em termos de resultados eleitorais. De um lado temos o ex-líder da bancada parlamentar do PS durante o mandato do Governo de José Sócrates, do outro a oposição quase silenciosa ao secretário-geral cessante. A lógica seria a escolha pela segunda opção, mercê dos resultados das últimas eleições legislativas, pois Francisco Assis sofre de um profundo desgaste político por ter sido a cara do anterior governo no Parlamento, um alvo particularmente fácil no futuro debate político com o actual Governo por essa vinculação “socrática”. António José Seguro, apesar de não ter a resiliência e a destreza de Assis no combate político, dará certamente uma imagem de mudança de paradigma do partido aos olhos da opinião pública.
O líder histórico do PS, Mário Soares, apesar de não se comprometer com nenhum candidato, veio alertar que o partido “(…) tem de ser refundado de alguma maneira, tem de ser melhorado, tem de discutir política a sério e tem de ter política a sério e grandes ideias para o futuro”, querendo demarcar o futuro dos socialistas do período de José Sócrates como secretário-geral do partido.
A situação do país foi provocada por décadas de má governação e da incapacidade de tomar decisões complicadas e impopulares, algo que foi posto em evidência pela crise económica internacional, a falência do sistema financeiro pela questão do subprime e consequente perigo da dívida soberana. Contudo, é inevitável que o ónus da culpa recaia todo sobre o governo que esteve no poder nos últimos anos, incapaz de dar a volta à situação, submetendo o país pressões externas para a aplicação de medidas, tendo de recorrer à ajuda internacional vinculada do FMI e Comissão Europeia.
Concordo com o ponto de vista de Medina Carreira (“O Fim da Ilusão”), que afirma que os problemas tiveram início com o 10º Governo Constitucional (1985) de Aníbal Cavaco Silva, época de “vacas gordas” pelas privatizações, descida dos preços do petróleo, queda dos juros e pela chegada dos fundos da União Europeia, que perdurou até ao fim do 13º Governo Constitucional, de António Guterres. A falta de percepção e de reformas estruturantes não permitiu dar atractividade económica e apostar no sector produtivo do nosso país, tendo-se desmantelado a escassa agricultura, pesca e indústria nacional, investindo-se pouco na formação profissional, que permitiria apostar na inovação, empreendedorismo e na deslocalização as indústrias de “ponta” para o nosso país, em detrimento do asfaltamento do país e de projectos como a Expo 98 e o Euro 2004. Viveu-se numa “bolha de ilusão” que nos deixou de “tanga”, fazendo com que o nosso líder fugisse para Bruxelas, deixando-nos a mercê do desastre Santana, só para termos de voltar a “apertar o cinto”. Estes pingos de austeridade deveriam ter sido acompanhados de medidas reformadoras, mas os partidos são avessos a medidas impopulares, estando pejados de clientelismo e são normalmente permeáveis aos poderes corporativos.
Concordo com o ponto de vista de Medina Carreira (“O Fim da Ilusão”), que afirma que os problemas tiveram início com o 10º Governo Constitucional (1985) de Aníbal Cavaco Silva, época de “vacas gordas” pelas privatizações, descida dos preços do petróleo, queda dos juros e pela chegada dos fundos da União Europeia, que perdurou até ao fim do 13º Governo Constitucional, de António Guterres. A falta de percepção e de reformas estruturantes não permitiu dar atractividade económica e apostar no sector produtivo do nosso país, tendo-se desmantelado a escassa agricultura, pesca e indústria nacional, investindo-se pouco na formação profissional, que permitiria apostar na inovação, empreendedorismo e na deslocalização as indústrias de “ponta” para o nosso país, em detrimento do asfaltamento do país e de projectos como a Expo 98 e o Euro 2004. Viveu-se numa “bolha de ilusão” que nos deixou de “tanga”, fazendo com que o nosso líder fugisse para Bruxelas, deixando-nos a mercê do desastre Santana, só para termos de voltar a “apertar o cinto”. Estes pingos de austeridade deveriam ter sido acompanhados de medidas reformadoras, mas os partidos são avessos a medidas impopulares, estando pejados de clientelismo e são normalmente permeáveis aos poderes corporativos.
Ora, quando se fala em refundação de partidos, calculo que seja uma referência a uma reformulação da sua organização e constituição. É urgente a reforma dos partidos de modo a trazer outra qualidade à vida democrática e política do nosso país, parece-me que o PS tem, neste momento, a oportunidade e a responsabilidade de rebentar com a sua "bolha de ilusão", promovendo uma revolução interna… será que Francisco Assis ou António José Seguro têm essa vontade?
Sem comentários:
Enviar um comentário