Em 49 a.C., Júlio César, famoso general e político da Antiga Roma, transpôs o rio Rubicão com o seu exército em perseguição a Pompeu, tornando inevitável a guerra civil na República. No ano anterior, o senado liderado por Catão havia ordenado o regresso de Júlio César a Roma e a desmobilização das suas legiões, mas o general recusou acatar tal decisão, pois signicaria o fim da sua vida política e do poder que tinha sobre Roma. A travessia do Rubicão, limite máximo ao qual um general podia aproximar-se de Roma com suas legiões, foi o primeiro acto da guerra civil que haveria de pôr fim ao normal funcionamento das instituições políticas da República. De acordo com o escritor Suetónio, ao atravessar o Rubicão, César terá exclamado: Alea jacta est ("os dados estão lançados").
Desde então a expressão "atravessar o Rubicão" passou a ser utilizada como referência a uma tomada de decisão arriscada, da qual não há retorno possível. Parece-me que essa situação se aplica perfeitamente à situação de Muamar Kadafi e da Líbia. Imaginemos que, por infelicidade do povo líbio, o regime ditatorial consegue desbaratar a rebelião... conseguirá o Estado voltar ao status quo anterior apesar do largo apoio dado pela população aos rebeldes? Conseguirá evitar a eclosão de movimentos revolucionários sucedâneos? Parece óbvio que não, ainda para mais quando tal situação teria de passar sempre por uma negociação com os países da NATO envolvidos no apoio ao movimento revolucionário.
Kadafi é um dos ditadores da História com maior longevidade de governação, liderou o golpe militar de 1969 que derrubou a monarquia Líbia com cerca de 27 anos. A sua ditadura militar, combinando uma ideologia nacionalista, com o socialismo e um extremismo religioso, tratou de expulsar e confiscar bens às comunidades judaicas e italianas, de nacionalizar empresas estrangeiras, proibir a exportação de petróleo para os EUA e instalar um novo preceito moral na sociedade líbia, centrado na religião. O seu ódio pelos EUA e pelo estado de Israel fez com que apoiasse grupos terroristas islâmicos, estando directamente ligado ao massacre dos Jogos Olímpicos de Munique (1972), ao ataque bombista numa discoteca em Berlim e nos atentandos contra os aviões da Pan Am e da UTA. Tais acções provocaram sanções e embargos económicos por parte dos EUA e da ONU, assim como o bombardeio norte-americano a Tripoli, no qual morreram a mulher e a filha do ditador.
Nos anos 90, com o embargo económico e a queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, o país entra numa crise económica, criando um descontentamento na população, visível na tentativa de golpe de estado em 1993 e pela tentativa de assassinato de Kadafi em 1998. Para ganhar simpatia externa e margem de manobra em termos económicos que contribuísse, consequentemente, para uma apaziguação interna, Kadafi renega os objectivos militaristas e o terrorismo, apoiando a guerra contra o Terror e o isolamento do Irão ao lado de George W. Bush, que logo de seguida levanta as sanções contra a Líbia, encetando um período de novas relações diplomáticas e fazendo regressar a esse país os produtores de petróleo norte-americanos.
Estas acções pareciam ter assegurado ao regime de Kadafi a tranquilidade e manutenção do seu regime na Líbia. Porém, em 2011, o seu país é "contaminado" pelos focos de manifestações e revoluções que se sucederam um pouco por todo o norte de África (Egipto e Tunísia). A acção do líder líbio foi cruel ao massacrar as multidões que se manifestavam por uma mudança no país. Não tardou a eclosão de uma guerra civil, em que os rebeldes conseguiram o apoio de ataques aéreos da NATO, o que equilibrou os pratos da balança e permitiu inclusivamente a tomada da capital, Tripoli, pelos revolucionários .
Figura 1- Explosão em Tripoli durante a guerra civil. |
Referências Bibliográficas: Wikipédia, Veja, JN, DN, i, CM e Público.
Kadafi diz que está preparado para resistir meses e transformar a Líbia em lava e fogo. Diz que deixou Trípoli para se proteger dos ataques aéreos da NATO e promete lutar até à morte. Porta-voz dos rebeldes promete transição imediata, enquanto festejam a conquista da residência oficial do ditador, após três dias de combates, que causaram mais de 400 mortos.
O líder líbio Muammar Kadafi disse, terça-feira à noite, início da madrugada em Portugal, que saída do quartel-general Baba al-Aziziya, em Tripoli, foi um "movimento estratégico" depois do complexo ter sido devastado por 64 ataques aéreos da NATO.
Numa mensagem divulgada por uma rádio de Trípoli e depois pelos canais de televisão Al-Orouba e Al-Rai, Kadafi prometeu "martírio" ou vitória na luta contra a NATO. "Estamos a resistir com todas as nossas forças. Vamos vencer ou vamo-nos tornar mártires, se Deus quiser", afirmou o líder líbio. Um porta-voz garantiu aos canais de televisão árabes Al-Orouba e al-Rai que Muammar Kadafi está preparado para resistir vários meses, ou até anos, aos rebeldes que tomaram a capital líbia. "Podemos transformar a Líbia em vulcões, lava e fogo", disse Moussa Ibrahim. O porta-voz de Kadafi diz que as forças leais ao governante capturaram quatro altas patentes do Qatar e um cidadão dos Emirados Árabes Unidos e garante que os rebeldes não terão paz se tentarem regressar a Trípoli.
Com a conquista do complexo de Kadhafi em Tripoli pelos rebeldes na terça-feira, o Conselho Nacional de Transição anunciou que vai mudar nos próximos dois dias a sua sede de Benghazi para a capital líbia e promete uma transição rápida. Os combates em Tripoli fizeram, nos últimos três dias, mais de 400 mortos e dois mil feridos, avançou o presidente do CNT. Em declarações na terça-feira à noite à televisão France 24, Mustafa Abdeljalil frisou que a guerra só acabará com a detenção do líder líbio Muammar Kadafi, cujo paradeiro continua desconhecido. "Espero que Kadhafi seja capturado vivo, para que possa ser julgado e o mundo conheça os seus crimes", afirmou, admitindo que o coronel possa ter fugido de Tripoli.
O chefe do CNT adiantou que foram capturados 600 soldados pró-Kadhafi nos mais recentes combates. Os rebeldes alegam controlar mais de 85% de Tripoli, incluindo o complexo de Bab al-Aziziyah, centro do poder e a residência de Kadhafi. Na capital líbia existem ainda alguns focos de resistência em três bairros.
Segundo testemunhas citadas pela Agência Reuters, as forças leais a Kadafi dispararam dúzias de mísseis foram disparados em Trípoli. Há relatos, também, de que as forças que permanecem sob controlo do ditador líbio atacaram a cidade de Jelat com mísseis e tanques.
analise muito boa.
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