Quer ganhemos ou não o Mundial de sub-20 penso que o facto de Portugal ter chegado à final já é motivo de enorme satisfação para todos nós. Num período em que a formação de jovens futebolistas portugueses tem passado uma travessia no deserto, com fracos resultados nas selecções jovens, em paralelo com o progressivo desinvestimento no jogador nacional por parte dos clubes de futebol das ligas profissionais, aumentando exponencialmente a percentagem do jogador estrangeiro a actuar no nosso país, é sempre bom ver que a boa matéria-prima portuguesa em termos de futebolistas ainda existe, requerendo somente uma aposta mais firme dos responsáveis por este desporto em Portugal.
Figura 1- Seleção portuguesa de futebol sub-20. |
Os jornalistas já lhe chamam a “geração coragem”, contrastando com a “geração de ouro” de Riade (1989) e Lisboa (1991), aludindo a uma certa falta de qualidade e a um grande querer desta selecção de sub-20. Não iria tão longe com estes determinismos, obviamente que não existe nesta selecção vários jogadores “fora de série”, como víamos naquelas selecções, com Fernando Couto, Paulo Sousa, João Vieira Pinto, Luís Figo e Rui Costa, ou, nas gerações que lhes sucederam, um Dani, Nuno Gomes, Simão Sabrosa, Ricardo Carvalho, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani ou Fábio Coentrão, contudo, vejo nesta selecção, no seu conjunto, mais jogadores com a possibilidade de fazer uma boa carreira, relativamente ao que tem acontecido nas gerações anteriores. Muitos dos jogadores que faziam parte da “geração de ouro[1]” tiveram uma carreira que passou ao lado daquilo que muitos esperariam, ainda assim, a maioria fez carreira na 1ª divisão do futebol português. Penso que esta selecção não tem jogadores em condições de fazer uma carreira espectacular nos melhores clubes do mundo, mas ainda assim penso que boa parte tem capacidade para actuar em bons clubes nos melhores campeonatos do mundo.
Se repararmos bem na sua composição, verificamos que muitos dos jovens presentes no Mundial da Colômbia tiveram um 1º ano de seniores com mais competição nas ligas profissionais do que seria habitual, isto tendo em conta as gerações anteriores. Claro que relativamente a uma comparação com o que se passa com as restantes selecções, como o Brasil, Espanha, França e Argentina, o número de utilizações em jogos oficiais ainda é ínfimo, mas creio que já é sinal de algo, talvez de talento ou do grande espírito competitivo destes jogadores.
Ilídio Vale não é um grande treinador, o futebol praticado pela selecção comprova-o, limitando-se a defender bem e a fazer o famoso kick and rush para os avançados, mas tem o mérito de ter percebido que Portugal só faria figura neste mundial se adoptasse uma postura de maior contenção, jogando muitas vezes com 4 médios de características defensivas (Pelé, Danilo Pereira, Júlio Alves e Sérgio Oliveira), e esperando que, no ataque, a sorte bafejasse Portugal, daí os 0 golos sofridos até à data (o guarda-redes Mika bateu o recorde de minutos sem sofrer golos em Mundiais sub-20, 570 minutos, superando a anterior marca do chileno Christopher Toselli) e os 5 golos marcados em toda a competição (3 deles marcados por Nélson Oliveira, em que dois foram da marca de penalty).
O que interessa é que Portugal chegou à final, ultrapassando adversários complicados como a Argentina e a França, disputando agora o título contra o favorito Brasil… podemos não ser a selecção com mais craques e com maior futuro, mas já mostramos a nossa garra e as finais são para se ganhar!
Mika (guarda-redes): formado no Sporting de Pombal e no União de Leiria, tem estado em grande plano neste Mundial, batendo recordes muito graças aos reflexos e à maturidade que já possuí com esta idade. Acaba de se transferir para o SL Benfica, com base nos excelentes jogos que protagonizou ao serviço do clube do Lis contra o Sporting CP e SL Benfica. Tem um futuro radioso, mostra muita tranquilidade, reflexos e que não tem medo de sair a cruzamentos, uma das grandes pechas dos guarda-redes nacionais. Espero que continue a ter competição oficial, mas no Glorioso contará com a concorrência forte de Artur Moraes e Eduardo;
Tiago Maia (guarda-redes): formado no FC Porto, ainda não foi utilizado neste Mundial, mas é um jogador que teve papel fundamental no campeonato júnior conquistado pela turma das Antas no ano passado, sendo ainda sub-19. Acabou por assinar com o Santa Clara onde se espera que agarre um lugar;
Luís Ribeiro (guarda-redes): formado no Sporting CP, também ainda não foi utilizado. Ainda é sub-19, foi emprestado ao Sertanense este ano, mas creio que tem poucas hipóteses de retornar a Alvalade;
Cédric Soares (lateral-direito): formado no Sporting CP, é um lateral que tem tido um desempenho positivo. Não tem tirado proveito da sua capacidade ofensiva, nomeadamente do cruzamento, devido ao estilo de jogo da selecção, mas é um jogador que os leoninos têm em conta, ou não o tivessem mantido no plantel sénior o ano passado, com alguns minutos de competição. O empréstimo à Académica far-lhe-á bem… para não correr o risco de se tornar noutro Pereirinha;
Roderick Miranda (defesa-central): formado no SL Benfica, partiu como um dos jogadores de maior nomeada desta selecção, apesar dos fracos jogos que fez no fim da temporada ao serviço do clube da Luz. Tem estado em bom plano no Mundial, muito alto e com boa técnica, tem de melhorar na concentração e intensidade que coloca no jogo, assim como alguns aspectos tácticos que permitam disfarçar a sua falta de velocidade. A falta de competição parece ter estagnado um dos centrais mais promissores de Portugal, vamos ver se com este empréstimo ao Servette o faz retornar ao caminho certo;
Nuno Reis (defesa-central): formado no Vasco da Gama de Sines e no Sporting CP, tem sido um dos esteios da selecção portuguesa, provando que a rodagem, que vai para o 2º ano, no Cercle Brugge da Bélgica foi a decisão mais acertada, dando bastante competição ao jovem jogador. A sua baixa estatura poderá condicionar uma carreira mais auspiciosa, mas creio que neste momento teria lugar no plantel do Sporting CP;
Tiago Ferreira (defesa-central): formado no FC Porto, será com certeza um central que seguirá os passos dos grandes centrais que os dragões têm formado nas últimas décadas. Ainda sub-19, campeão nacional júnior, precisa de ter a oportunidade para competir em jogos oficiais e pode perfeitamente fazê-lo nas ligas profissionais;
Mário Rui (lateral-esquerdo): formado no Sporting CP e no SL Benfica, é um jogador muito aguerrido, algo rápido e com bastante qualidade técnica, compensando assim a sua baixa estatura, contudo, defensivamente é daqueles laterais que deixa algo a desejar e a atacar nem sempre é tão esclarecido como deveria ser. Assinou pelo Parma, mas vai jogar por empréstimo no Gubbio 1904;
Luís Martins (lateral-esquerdo): formado no SL Benfica, é um lateral bastante ofensivo, cujas armas principais são a velocidade, o cruzamento e a cobrança de bolas paradas, facilitando na hora de defender. É um jogador sub-19 que irá iniciar este ano o seu percurso como sénior, sendo que o ideal seria empresta-lo a uma equipa onde pudesse jogar e melhorar o seu jogo defensivo. Tem mais qualidade que Mário Rui, do meu ponto de vista, contudo, será insuficiente para o fazer retornar ao Benfica, ainda assim, poderá fazer uma bela carreira;
Pelé (médio-defensivo): formado no CF Belenenses, onde fez bastantes jogos na época que findou, acabando por ser vendido ao Génova. Forte e possante, Pelé tem feito um bom Mundial naquilo que é a sua especialidade, “destruir jogo”, mas para se notabilizar tem de ter a capacidade para evoluir em termos do passe e da posse de bola;
Júlio Alves (médio-defensivo): formado no Varzim e Rio Ave, é um jovem bastante aguerrido e destemido, ao estilo do “Petit”, tendo também um remate forte e uma técnica considerável. Não tem feito um bom mundial e nem parece aquele jovem que surpreendeu tudo e todos naquela 2ª volta do campeonato pelo Rio Ave, e que não deixou o Atlético de Madrid indiferente. Esperemos que tenha a competição que necessita, pois poderá ser um jogador com uma carreira interessante, caso continue a sua evolução futebolística de forma normal;
Danilo Pereira (médio-defensivo): formado no Estoril-Praia e no SL Benfica, tem sido um dos grandes destaques do Mundial, como já havia sido no Europeu de sub-19, que lhe valeu um contrato com o Parma. À altura e técnica aceitável, alia-se uma grande capacidade na recuperação de bolas. Esteve emprestado ao Aris de Salónica durante a 2ª volta do campeonato, esperemos que consiga retornar ao Parma em condições de se impor como uma alternativa credível… tacticamente pode aprender muito em Itália;
Ricardo Dias (médio-defensivo): formado no Beira-mar e no FC Porto, ainda não teve muitas chances de se mostrar no Mundial. É um jogador bastante alto e inteligente, sendo sereno na hora de sair a jogar. Jogou por empréstimo no Santa Clara, onde teve alguma competição, mas não tanta como seria desejável, prevendo-se um regresso por empréstimo à cidade que o viu nascer, Aveiro.
Saná (médio-interior): formado no SL Benfica, chegou a ser uma das jóias da coroa da formação benfiquista, porém, a grave lesão que sofreu ao serviço do Servette abrandou a sua evolução e o seu ritmo competitivo, esperando retornar aos eixos através do seu novo clube, Valhadolid. É um jogador baixinho, com um óptimo drible e bom espírito competitivo, serpenteando por adversários facilmente no meio-campo devido à sua rapidez e capacidade técnica. Esperemos que Saná realmente volte ao que era e que tenha a competição que tanto necessita;
Sérgio Oliveira (médio-interior): formado no FC Porto, é um dos jogadores de quem mais se espera desta geração. Não tem feito um Mundial ao nível do que se esperaria de um jogador com o cartel que lhe foi dado pelos dragões, ao colocarem uma cláusula de rescisão no seu contrato de 30M de euros. Tem uma excelente técnica e um bom remate, mas parece que, pelo ano de relativa inactividade no Beira-Mar, assim como a tendência de o colocar a jogar mais adiantado do que estava habituado na formação portista, abrandou a sua evolução natural. Esperemos que consiga ser aproveitado este ano para poder mostrar todo o seu potencial;
Alex (extremo): formado no Nacional e no FC Porto, é um jogador que se destaca pela sua capacidade técnica. Assinou pelo Santa Clara onde competiu de forma regular, mostrando capacidades para ir mais além, quem sabe chegar a uma equipa da 1ª liga a breve trecho. Tem mostrado bons predicados no Mundial, mas perde-se muitas vezes em alguns preciosismos e ausenta-se do jogo com alguma frequência;
Caetano (extremo): formado no FC Porto, tem-se mostrado num futebolista à imagem de seu pai, que se destacou no Tirsense e Boavista. Pequenino, ágil e tecnicista, não tem feito um Mundial semelhante à boa 1ª parte da época ao serviço do Paços de Ferreira, da qual padeceu de uma grave lesão que lhe retirou o ritmo competitivo. Poderá aspirar a um clube como o SC Braga ou Vitória de Guimarães se mantiver a sua evolução natural, ou quem sabe a fazer carreira num campeonato estrangeiro bem competitivo;
Serginho (extremo): formado no Trofense, foi um dos destaques desta equipa na 2ª liga, o que provocou a sua transferência para o Beira-Mar. Rápido e tecnicista, mas ainda sem oportunidades de se mostrar neste mundial;
Nélson Oliveira (avançado-centro): formado no SL Benfica, é outro dos jogadores de quem mais se espera desta selecção. Ainda em júnior rumou ao Rio Ave onde pôde jogar e habituar-se ao ritmo competitivo das ligas profissionais. No ano seguinte foi emprestado ao Paços de Ferreira onde se assumiu como uma boa opção de ataque para os pacenses, fazendo muitos jogos e alguns golos. Os jornalistas franceses chamam-no de “novo Cantona”, os portugueses de “novo Ibrahimovic”, esperemos é que se consiga fixar como o Nélson Oliveira, um avançado alto, forte, rápido e tecnicamente dotado, que tem tudo para ser uma figura de proa na selecção nacional num futuro próximo. É o melhor marcador desta selecção com 3 golos, tendo a tarefa inglória de batalhar sozinho na frente de ataque contra as defesas adversárias, e até tem dado boa conta do recado. Precisa de trabalhar na finalização, assim como nas movimentações à ponta-de-lança, pois têm-no tentado encaixar nessa posição, algo que limita a liberdade de movimentos que tanto aprecia;
Amido Baldé (avançado-centro): formado no Sporting CP, é possante e alto, com uma técnica considerável, mas algo perdulário. Esteve emprestado ao Santa Clara e ao Badajoz, sem ter a competição necessária, mas este ano rodará no Cercle Brugge;
Rafael Lopes (avançado-centro): formado no Varzim, teve bastante tempo de jogo na 2ª liga, onde marcou alguns golos que o fizeram notar aos olhos do SL Benfica, mas acabaria por se transferir para o Vitória de Setúbal. Alto e forte, mas tecnicamente algo rudimentar, revela, ainda assim, instinto pela baliza, o que poderá dar jeito ao Vitória de Setúbal, caso lhe sejam dadas oportunidades.
Outros jogadores da geração de 91: Não podia de deixar de falar em 2 jogadores com futuro promissor que não foram convocados ao mundial, Salvador Agra e Rubén Brígido. O primeiro é um extremo muito rápido e tecnicista, formado no Varzim, mas que se transferiu este ano para o Olhanense. O Brígido é um “10” que tem sido utilizado nas alas por Pedro Caixinha no clube que o formou, a União de Leiria, um jogador tecnicamente muito dotado, ao estilo de Diego, um dos melhores valores da sua geração. A lesão grave que sofreu impediu a sua ida ao Mundial da Colômbia.
[1] Selecção sub-20 de Riade: Brassard; Abel; Paulo Madeira; Morgado; Paulo Alves; Tozé; Hélio; Xavier; Valido; João Vieira Pinto; Filipe; Resende; Jorge Couto; Paulo Sousa; Bizarro; Amaral; Fernando Couto; Folha.
Selecção sub-20 de Lisboa: Brassard; Paulo Torres; Luís Miguel; Gil; Toni; Luís Figo; Rui Costa; Jorge Costa; Abel Xavier; Nélson; Rui Bento; Tó Ferreira; Capucho; João Vieira Pinto; Tulipa; Cao; João Oliveira Pinto.
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