O Bloco de Esquerda encontra-se num momento de definição… parece é que os seus dirigentes ainda não deram conta disso. Os resultados das últimas legislativas (2011) deram o sinal de alerta. De uma tendência que, até então, vinha sendo de crescimento, o partido reduziu para metade no seu número de deputados na Assembleia da República, cujo facto parece estar a ser completamente ignorado pela sua direcção.
O BE nasceu em 1998 da fusão de três partidos políticos: a União Democrática Popular (associado à ideologia marxista-maoísta), o Partido Socialista Revolucionário (identificado com a corrente trotskista mandelista) e a Política XXI (ex-militantes do PCP e do MDP-CDE). Pretendia-se, com esta união, formar uma verdadeira alternativa de Esquerda em Portugal, que se situasse ideologicamente entre o PS e o PCP, acabando com o sectarismo existente dos pequenos partidos de esquerda. Todos eles tinham um fundo comunista, mas haviam desenvolvido um posicionamento crítico relativamente ao «socialismo real».
A eleição, em 2004, do seu primeiro deputado europeu, Miguel Portas, tornou o novo partido mais mediático, possibilitando a adesão de novos militantes sem qualquer ligação aos partidos fundadores, fazendo-o crescer de tal modo que, em 2005, elege 8 deputados para a Assembleia da República. Nas eleições legislativas de 2009, consegue o feito de duplicar para 16 em número de deputados. Todavia, as legislativas deste ano contrariaram essa tendência de crescimento do partido, colocando-se em causa a liderança da sua Comissão Política e do seu porta-voz, Francisco Louçã. As vozes dissonantes da actual liderança do BE vieram do cerne do Política XXI, por intermédio de Daniel Oliveira, com a anuência de Miguel Portas.
Figura 1- Francisco Louçã em comício para as legislativas. |
A aproximação ao PCP, quer fisicamente, quer no discurso, tem afastado aqueles militantes que viam no BE uma alternativa de esquerda credível, com capacidade de assumir compromissos e de tomar responsabilidades na governação. A retórica da “K7”, a intransigência, o recurso a um discurso datado e a falta de realismo entrou na cartilha do BE, tentando, quiçá, ocupar um espaço, pertencente ao PCP, cujo eleitorado é demasiado fiel, apesar de poder granjear o apoio de novas gerações de extrema-esquerda numa perspectiva de médio e longo-prazo. O objectivo inicial do partido seria o de ocupar um espaço bem definido à esquerda do PS, plural e aberto ao diálogo, podendo daí retirar algum espaço para crescer eleitoralmente.
O BE vê-se então numa encruzilhada e terá de repensar e redefinir o seu modo de actuação e a sua estrutura, o que não deverá implicar o afastamento total da sua actual Comissão Política, que dispõe de quadros que não poderá dispensar, nomeadamente o seu coordenador, mas necessita urgentemente de uma reflexão interna e séria sobre o futuro do partido, de introduzir novas personalidades, com um discurso fresco e renovado, para deste modo eliminar o risco do partido definhar lentamente.
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