Gosto de ler entrevistas em que os interlocutores fogem aos clichés e abordam as questões de forma despudorada e sincera... retiro parcialmente a entrevista do "i" a Miguel Guilherme sobre a política cultural de Portugal, algo que já abordei num artigo anterior, "Mi(ni)stério da Cultura".
http://www.ionline.pt/conteudo/135368-miguel-guilherme-estou-me-cagar-politica-cultural
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Como tem visto as mudanças na política cultural em Portugal? Sempre que vem a crise, lá se sacrifica a cultura.
A cultura tem de deixar de ser tão mariquinhas. Eu não gosto de choramingões, e há trinta anos que vejo gajos a choramingar e a traírem-se uns aos outros, a andar de punho cerrado e por trás a lamber o cu ao ministro ou ao secretário de Estado. Por isso, sabes o que te digo, eu caguei. Podes mesmo escrever, eu caguei para isso, cago para a política cultural.
Mesmo que desapareça, que deixe de existir um ministério da Cultura?
Não me interessa, caguei. Não vai deixar de existir, eles precisam sempre de fingir que têm cultura. É tudo tão feio na política cultural, a maneira como os agentes culturais não se unem...
Está a falar de subsídios?
Há coisas que não deviam ser subsidiadas, pura e simplesmente, ponto. Estão a tirar o lugar a outros. Os critérios não existem: são do compadrio, "já que demos a este agora vamos dar ao outro", distribuem-se as migalhas, tentam distribuir o mal pelas aldeias. Há quem tenha direito ao subsídio: o Teatro de Almada, a Cornucópia, o Teatro Aberto. Quanto ao futuro, não sei. Seja como for, não havendo dinheiro, as pessoas têm de continuar a trabalhar. Acho que pelo menos 1% do Orçamento do Estado devia ser para a cultura, porque gera riqueza. Mas o poder político ainda não percebeu isso. A comedie française tem 40 milhões de euros por ano. Há quem diga que é demais. Cá temos pouco dinheiro e pouca atenção. Historicamente, o PSD sempre teve muito pouca sensibilidade cultural, o que é curioso porque o Durão Barroso sempre gostou das artes performativas. Vi-o muitas vezes, tal como ao Paulo Portas, em espectáculos, mas nunca vi gente de esquerda.
A cultura tem de deixar de ser tão mariquinhas. Eu não gosto de choramingões, e há trinta anos que vejo gajos a choramingar e a traírem-se uns aos outros, a andar de punho cerrado e por trás a lamber o cu ao ministro ou ao secretário de Estado. Por isso, sabes o que te digo, eu caguei. Podes mesmo escrever, eu caguei para isso, cago para a política cultural.
Mesmo que desapareça, que deixe de existir um ministério da Cultura?
Não me interessa, caguei. Não vai deixar de existir, eles precisam sempre de fingir que têm cultura. É tudo tão feio na política cultural, a maneira como os agentes culturais não se unem...
Está a falar de subsídios?
Há coisas que não deviam ser subsidiadas, pura e simplesmente, ponto. Estão a tirar o lugar a outros. Os critérios não existem: são do compadrio, "já que demos a este agora vamos dar ao outro", distribuem-se as migalhas, tentam distribuir o mal pelas aldeias. Há quem tenha direito ao subsídio: o Teatro de Almada, a Cornucópia, o Teatro Aberto. Quanto ao futuro, não sei. Seja como for, não havendo dinheiro, as pessoas têm de continuar a trabalhar. Acho que pelo menos 1% do Orçamento do Estado devia ser para a cultura, porque gera riqueza. Mas o poder político ainda não percebeu isso. A comedie française tem 40 milhões de euros por ano. Há quem diga que é demais. Cá temos pouco dinheiro e pouca atenção. Historicamente, o PSD sempre teve muito pouca sensibilidade cultural, o que é curioso porque o Durão Barroso sempre gostou das artes performativas. Vi-o muitas vezes, tal como ao Paulo Portas, em espectáculos, mas nunca vi gente de esquerda.
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Muito bom. Mas acho que podia ter usado mais palavrões durante a entrevista...
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