quinta-feira, 7 de julho de 2011

Público: "Estes amados Coldplay que irritam tanta gente"

Epah... só hoje li este artigo sobre os Coldplay, que actuaram ontem no Optimus Alive, talvez porque tenha adormecido quando vislumbrei o nome da banda no título. É um artigo muito bom, que expõe a dualidade que esta banda provoca nos ouvintes de música... como é óbvio, incluo-me do lado daqueles que não os suportam pela sua música lânguida e "nhanhenta" (palavra da minha autoria, cujo significado é aplicado a coisas moles e que se desfazem ao toque).

Espero que o Chris Martin tome juízo e deixe de fazer esta música para elevadores... precisa é de tomar uma elevada dose de vitaminas...


Em Agosto de 2000, uns desconhecidos aterraram no festival de Paredes de Coura e quase pediram desculpa por ali estar. "Não sabemos se conhecem a próxima canção, mas está no primeiro lugar do top em Inglaterra", disse Chris Martin, introduzindo Yellow. Onze anos depois, a horas de actuarem enquanto cabeças de cartaz do primeiro dia do Optimus Alive, em Oeiras, Chris Martin mantém as boas maneiras, mas os Coldplay transformaram-se em algo de muito diferente.


Em 2011, são a banda que sucederá aos U2 enquanto "reis do estádio" (já sucederam?), são estrelas planetárias e a excepção que confirma a regra quanto à crise da indústria discográfica - os seus quatro álbuns venderam, em conjunto, perto de trinta milhões de cópias. São os autores de hinos grandiloquentes que aquecem o coração dos fãs, que se sentem espelhados no mal de vivre tornado matéria segura e reconfortante, épica na produção e no aparato dos refrães.

Quando os autores de Clocks foram anunciados para o festival no Parque Marítimo de Algés, seguiu-se o habitual. Uma corrida aos bilhetes que acabou com o anúncio de "lotação esgotada". Numa altura em que preparam para o final deste ano a edição do quinto álbum, sucessor de Viva La Vida Or Death And All His Friends (2008), é certo que haverá uma multidão a sorver as palavras de Martin e a seguir os ambiciosos jogos de luz, bem como novas canções, entre elas o single Every teardrop is a waterfall, inspirado numa "chungaria" euro pop de 1990 chamada Ritmo de la noche.

Em palco, estarão Chris Martin, ele que Jay-Z, o rapper mais poderoso da indústria norte-americana, considera um "génio", e Jonny Buckland (guitarra), Will Champion (bateria) e Guy Berryman (baixo), o trio que existe apenas como sombra do vocalista. Em palco, os Coldplay, a "boy band U2" - assim os classificou o Guardian aquando da última passagem por Glastonbury -; "a mais insuportável banda da década", escreveu Jon Parelles, crítico do New York Times, em 2005. Coldplay, "os anti-Sex Pistols", etiquetou na mesma altura o veterano crítico inglês Andy Gill no Independent: "Uma banda que ofende não pelas atrocidades, pelos maus modos e javardice, mas pela cortesia inofensiva e pela personalidade emoliente".

Outros pesos pesados
Seis anos depois, os Coldplay são o maior chamariz do Optimus Alive, onde encontramos outros pesos pesados de vendas e bilheteira como os Foo Fighters; históricos como Stooges ou Primal Scream; nomes destacados do panorama actual como os Fleet Foxes, Anna Calvi ou James Blake; ou clássicos de festivais de Verão como os Chemical Brothers. Nenhum deles, porém, provoca sentimentos tão extremados como a banda de Speed of sound, cuja adulação é acompanhada de um desdém incontrolável. Não surpreende que assim seja.

Aquilo que tanto entusiasma os fãs dos Coldplay, a melancolia transformada em grandiosa celebração, o cruzamento do sentido de espectáculo dos U2 com uma certa tendência para o questionamento existencialista, aprendido com os Radiohead - mas, neste caso, com arestas limadas e superfície polida, que o objectivo não é inquietar, antes confortar - ou a lisura dos modos e a defesa de causas humanitárias, tudo isso que os aproxima dos milhões que lhes compra os discos é, precisamente, o que os afasta dos outros tantos milhões que não os suportam.

Porque, argumentam estes, são politicamente correctos até à náusea, porque as suas letras não passam de generalidades de estrela rock armada em poeta amargurado, porque são uma dramatização de sentimentos aparentemente profundos que não passam de amontoado de clichés. Porque, imagine-se, foram acusados de plagiar Joe Satriani, o que constituirá prova inequívoca de mau gosto, e porque representam, no fundo, uma versão betinha e inconsequente dos U2.

No fundo, onde uns vêem uma banda que cria música congregadora e amplificadora de sentimentos universais, dando-lhes a majestosidade ausente de um quotidiano corriqueiro, outros vêem um tédio atroz, um conformismo disfarçado de questionamento dos grandes temas da Humanidade e a ausência de qualquer coisa assemelhada a uma chama rock"n"roll.

Está disponível no YouTube o registo de uma sessão acústica gravada numa rádio de Toronto. Nas ruas, milhares de fãs. O locutor diz-se impressionado, não tanto pelo número de pessoas ali reunidas, mas por formarem a "multidão rock mais paciente e adorável" que jamais vira - e ser "fofinho" é, como se sabe, a antítese do rock"n"roll.No supracitado artigo de Andy Gill, este questionava quem seriam as pessoas que compravam discos dos Coldplay e lhes enchiam os concertos - porque ele, entre as suas relações pessoais e profissionais, não conhecia ninguém que tivesse algo de bom a dizer sobre a banda. Poderíamos recomendar-lhe uma passagem pelo Passeio Marítimo de Algés, esta noite. A bem-comportada nação Coldplay estará em peso no Optimus Alive. Gill teria muita gente para conhecer.










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